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Alckmin diz que eleição não é vale tudo e reforça campanha no Nordeste

Vera Rosa

Brasília

20/06/2018 20h52

Em busca de adesões para a sua candidatura, o pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, passou esta quarta-feira, 20, em uma maratona de reuniões a portas fechadas com dirigentes do DEM, do PTB e do PRB. Estacionado nas pesquisas, com índices que variam de 6% a 7% das intenções de voto, o tucano decidiu intensificar a ofensiva para se contrapor ao presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, e tirar apoios de Ciro Gomes (PDT). A ideia de Alckmin é vestir o figurino de anti-Bolsonaro, hoje incorporado por Ciro.

"Eleição não é vale tudo. Queremos fazer uma aliança em torno de um programa e para governar. Estou conversando com todo mundo", afirmou Alckmin.

A estratégia tucana também prevê o reforço da campanha no Nordeste, região onde o ex-governador de São Paulo enfrenta mais dificuldades. O PSDB quer aproveitar as festas juninas para "apresentar" o seu candidato em redutos da esquerda e onde Bolsonaro está muito à frente do tucano. Em Caruaru (PE), onde desembarcará nesta sexta-feira, às 17 horas, Alckmin ensaiará até mesmo uns passos de forró, na tentativa de se aproximar da população.

A prefeita da cidade, Raquel Lyra, é ex-delegada da Polícia Federal e foi escalada para integrar a equipe que prepara o programa de segurança pública de Alckmin. A plataforma é vista pelo PSDB como outro "trunfo" contra Bolsonaro. Os tucanos argumentam que, apesar do discurso raivoso, o deputado do PSL não tem um plano consistente para o setor e por isso foge do debate. De Caruaru, Alckmin seguirá no sábado para o arraial de Campina Grande (PB), "vendido" como "o maior São João do mundo".

Após ser pressionado por correligionários, Alckmin mudou a equipe de campanha, há uma semana, e começou a criar fatos políticos. Nesta quarta-feira, ele se reuniu com os presidentes do DEM, ACM Neto; do PTB, Roberto Jefferson, e com o ex-ministro Marcos Pereira, que comanda o PRB. O ex-governador disse estar num processo de "aproximações sucessivas" com o centro político.

No café da manhã com dirigentes do DEM, Alckmin negou que o PSDB esteja correndo atrás do MDB do presidente Michel Temer e afirmou não ter dúvidas de que estará no segundo turno da disputa ao Planalto. No fim do dia, ele foi ao encontro de Jefferson, na sede do PTB.

O café ocorreu no apartamento do deputado e ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM-PE), que já chegou a ser cotado para vice de Alckmin, e contou com a presença de ACM Neto, prefeito de Salvador, e do líder do DEM na Câmara, Rodrigo Garcia (SP). Horas antes, ACM Neto havia jantado com Ciro Gomes, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de representantes do PP, Solidariedade e PRB. O encontro terminou na madrugada desta quarta.

O Estadão/Broadcast apurou que a conversa com Ciro animou mais o DEM, embora haja resistências internas à candidatura do ex-ministro. Nos bastidores, integrantes do DEM admitem não ter gostado da escolha do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) para ser o coordenador político da campanha de Alckmin. Motivo: Perillo é ferrenho adversário do senador Ronaldo Caiado (GO), pré-candidato do DEM ao governo de Goiás.

"As coisas estão caminhando bem. É um processo de aproximações sucessivas", disse Alckmin, ao chegar para um almoço no gabinete do senador Tasso Jereissati (CE). Na tentativa de obter o apoio do DEM, o ex-governador paulista não poupou elogios a Rodrigo Maia, que já avisou a interlocutores a intenção de retirar sua pré-candidatura ao Planalto, no fim de julho, a fim de apoiar um nome com mais chances.

"Nós respeitamos Rodrigo Maia, um dos melhores quadros da política brasileira, uma grande liderança jovem e com espírito público", afirmou Alckmin. Em São Paulo, o DEM fez dobradinha com o PSDB e avaliza a candidatura do ex-prefeito João Doria ao Palácio dos Bandeirantes. Pelo acordo, o deputado Rodrigo Garcia deverá ser vice de Doria.

Conversas

Embora Alckmin diga que o PSDB não está atrás do MDB de Temer, setores dos dois partidos retomaram as conversas. Perillo também procurou o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), e tenta agendar um encontro para a próxima semana.

O problema é que o PSDB não aceita uma negociação envolvendo o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB, hoje com 1% das intenções de voto. Além disso, há muitas dúvidas ali sobre a conveniência de ter o aval de um partido que tem um presidente tão impopular, apesar do generoso tempo de TV do MDB no horário eleitoral. O receio é que o desgaste do MDB prejudique ainda mais a campanha do PSDB.

O movimento dos tucanos irritou tanto o DEM quanto o Planalto. Auxiliares de Temer disseram que a contrariedade do presidente com Alckmin só aumenta. O mais recente foi a entrevista dada pelo ex-governador ao jornal O Estado de S. Paulo, na qual ele disse que o governo Temer "padece de uma questão de legitimidade".

O bloco formado por DEM, PP, Solidariedade e PRB vai marcar uma conversa com Alckmin no início de julho. O grupo pretende anunciar quem apoiará para a Presidência até o próximo dia 15.

Na terça-feira, 26, o PSDB fará um ato, em Brasília, para comemorar os 30 anos do partido. "Eu sou a sétima assinatura da fundação do PSDB", disse Alckmin. O encontro também será usado para tentar alavancar a candidatura do tucano à Presidência.