Número de venezuelanos que pedem asilo é 5,5 vezes maior que o de sírios
O número de solicitantes de asilo não representa o total do fluxo de venezuelanos. Muitos dos que deixaram o país cruzaram as fronteiras e conseguiram outros tipos de vistos e mesmo uma regularização de sua estadia nos países da região.
O número de 137 mil se refere apenas àqueles que buscam proteção legal com status de refugiado. Para isso, precisam provar que foram perseguidos politicamente ou mostrar que sua permanência em seu país acarretaria em tortura, repressão e outras violações de direitos humanos.
De acordo com o Alto Comissariado de Refugiados da ONU, os venezuelanos já haviam superado os sírios ao final de 2017. No ano passado, 98,6 mil sírios solicitaram asilo na Europa, seu principal ponto de destino. Um ano antes, foram 337 mil pedidos de asilo de sírios nos países europeus. No caso dos venezuelanos, a taxa que era de apenas 34 mil em 2016 subiu para 113 mil em 2017, superando pela primeira vez de sírios.
Em termos total, a Guerra na Síria - a pior do século 21 - ainda tem números totais bem mais elevados do que a crise venezuelana. As estimativas da ONU apontam para mais de 5 milhões de refugiados sírios desde 2011 e cerca de 500 mil solicitantes oficiais de asilo, principalmente na Europa. No caso dos venezuelanos, o êxodo chegaria a 2,3 milhões, incluindo migrantes econômicos ou clandestinos.
Desde 2016, ao mesmo tempo em que se registra uma queda importante no número de sírios tentando chegar até a Europa também se verifica que o fluxo de venezuelanos ganha força, a ponto de criar tensão na região. Desde 2014, os pedidos de asilo por parte de venezuelanos chegam a 300 mil.
O principal local onde os imigrantes venezuelanos fizeram pedidos de asilo foi o Peru, com 129 mil solicitações oficiais. O segundo destino são os EUA, com 72 mil requisições. O Brasil aparece na terceira posição, ainda que os números mais atualizados sejam de abril de 2018. No total, 32,7 mil venezuelanos solicitaram status de refugiados no País, 11% do total dos requerentes. Outros 26 mil também pediram asilo na Espanha.
Na semana passada, as agências da ONU declararam "preocupação" com a violência contra imigrantes e refugiados venezuelanos no Brasil, além da tensão no Peru, Colômbia e em outras partes da América do Sul.
"A violência no Brasil foi inquietante", disse Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional de Migração (OIM). Ele apontou, porém, que os números de venezuelanos na fronteira com o Brasil "são baixos" em comparação aos da Colômbia e Equador.
"Entendemos o que estão enfrentando essas comunidades e estão fazendo grande trabalho", disse o representante, admitindo que a tensão pode significar que a "paciência está acabando" em certos locais.
"Estamos vendo sinais, como a violência no Brasil e limites (impostos por outros países), como sinais de alerta de que situação difícil pode rapidamente se transformar em uma situação de crise", alertou Millman.
Além da violência em Roraima, as agências contestam novas exigências apresentadas por governos, como do Peru e Equador. Uma das medidas é a de solicitar passaportes e outros documentos desses venezuelanos. "Muitos não tem acesso a isso. Estamos preocupados com países que estão esgotando sua capacidade e que procuram formas de administrar esse fluxo, com medidas que podem afetar os mais vulneráveis", disse.
"Isso tudo está se acumulando para uma situação como vimos em outras partes do mundo, como no mar Mediterrâneo, e precisamos começar a ver prioridades, recursos e meios para lidar com isso", afirmou o porta-voz da OIM.
Um recado parecido foi também adotado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados. Seu porta-voz, Andrej Mahecic, lembrou da longa tradição de solidariedade na região, mas destacou os recentes casos de violência.
"Vimos imagens deploráveis vindas da região na semana passada", disse. "Estamos preocupados com esses recentes eventos e protestos contra esses imigrantes e refugiados em alguns dos países latino-americanos."
"Isso leva à estigmatização e ameaça os esforços de integração", alertou. Num apelo, ele pediu "respeito aos refugiados". "Solidariedade aqui é chave, do país e da população."
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