Museu reabre com história do Bixiga e do carnaval
De início, o imóvel número 118 da Rua dos Ingleses, funcionará apenas aos finais de semana. A partir de hoje, o museu abrigará duas exposições: uma sobre os carnavais do Bixiga (com fantasias, fotos e materiais da escola de samba Vai-Vai e de blocos que fizeram a fama do bairro, como os Esfarrapados) e outra sobre a história do tradicional Bolo do Bixiga.
Após o carnaval, uma exposição sobre o futebol de várzea do bairro também deve movimentar o museu. "O bairro inteiro é um museu. Nós queremos funcionar apenas como um epicentro disso: o museu das pessoas simples que escreveram a história do Bixiga", diz um dos fundadores do Mumbi, Paulo Santiago de Augustinis, de 72 anos.
Entre uma série de raridades, o museu tem objetos do compositor Adoniran Barbosa, sapatos da Carmen Miranda, fantasias e adereços da Escola de Samba Vai-Vai, fotos do início do bairro e dos primeiros imigrantes, correspondências de prisioneiros de guerra e muita memorabilia de gente comum - de sapateiros, barbeiros, ferreiros e parteiras. "Estamos tirando essa cara de depósito e começando a arrumar a casa", avisa o diretor do espaço Diego Rodrigues Vieira, de 29 anos.
Nos anos de 20, o casarão foi a residência de um italiano sem herdeiros. Por isso, ao morrer, o imóvel transformou-se em patrimônio da União. Sem destinação, não demorou para que fosse invadido por moradores de rua e traficantes. Lendas ao redor da casa afirmam que a deterioração era tão grande que até um assassinato teria acontecido ali. Só no início dos anos 80, quando a casa estava novamente vazia, ela foi reocupada por aquele que atuou a vida inteira como "embaixador", agitador cultural e historiador autodidata do bairro do Bixiga: Armando Puglisi, o Armandinho do Bixiga.
Material da vizinhança
Baseado na experiência de um dos primeiros museólogos brasileiros, Júlio Abe Wakahara, responsável por criar o chamado Museu de Rua (exposições em espaços públicos que contavam a história dos bairros e seus moradores), Armandinho também começou a coletar "material" dos vizinhos e amigos. "Armandinho dizia que quando alguém morria no Bixiga os parentes costumavam jogar tudo fora. A ideia dele era recuperar a memória perdida do bairro", diz a presidente da associação Museu Memória do Bixiga, Vera Rodrigues.
Mas, como o casarão estava ocupado de forma irregular, começaram os problemas. No início dos anos 90, no governo Fernando Collor de Mello, a União tentou reaver o imóvel. E ele só não foi perdido graças a habilidade política de Armandinho.
Na época, o idealizador do museu descobriu que a mãe da então toda poderosa ministra Zélia Cardoso de Mello, Auzélia Martoni Cardoso de Mello, tinha descendência italiana. "Armandinho bolou uma homenagem para a mãe da Zélia. Foi uma ideia genial. A própria ministra compareceu e se divertiu muito", afirma Santiago. Pode ser coincidência, mas após a visita e a homenagem, não se falou mais em o museu deixar o casarão.
O processo para a devolução do prédio ficou adormecido até o governo Fernando Henrique Cardoso - quando o imóvel passaria para a Polícia Federal. "Queriam que aqui fosse a sede da Interpol. Pode uma coisa dessas?", brinca Augustinis.
Tudo parecia se encaminhar para um final feliz. Mas, em 1994, Armandinho de câncer no pâncreas. O museu ficou abandonado, os problemas financeiros se acumularam e o casarão foi, mais uma vez, invadido. Só a partir de 2015, a associação conseguiu reassumir o lugar e, aos poucos, com eventos esporádicos, foi amadurecendo a ideia de uma reabertura.
Hoje, o grupo que administra o museu tem a posse provisória do casarão e os tramites para aquisição definitiva estão em andamento. Para Vieira, o que está ocorrendo agora é só o começo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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