Topo

Esse conteúdo é antigo

Corpo de capitão Adriano será submetido a nova necropsia hoje à tarde

Adriano Nóbrega era acusado de chefiar milícia no Rio de Janeiro - Reprodução
Adriano Nóbrega era acusado de chefiar milícia no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução

Roberta Jansen

Rio de Janeiro

20/02/2020 15h13

O corpo do ex-PM Adriano da Nóbrega passará por um novo exame cadavérico na tarde de hoje no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro. Apontado pela Polícia do Rio como chefe do Escritório do Crime, uma milícia com atuação na zona oeste da capital fluminense, Nóbrega foi morto com dois tiros em Esplanada, no interior da Bahia, no último dia 9.

"Capitão Adriano", como era conhecido, foi baleado depois que a polícia invadiu o sítio onde ele estava escondido. Segundo a PM, houve troca de tiros. A família de Nóbrega, no entanto, diz que ele foi executado.

A Justiça da Bahia autorizou na noite de terça-feira, a realização do novo exame. O pedido havia sido feito pelo Ministério Público da Bahia e também pela família de Nóbrega. Na decisão, o juiz Augusto Yuzo Jouti determina que o exame seja feito por peritos do IML do Rio, onde o corpo está desde o último domingo. De acordo com a decisão, no entanto, a família e o MP da Bahia podem indicar peritos independentes para acompanhar o exame.

O objetivo do novo exame é determinar a distância aproximada entre os policiais e Adriano, o trajeto percorrido pelas balas no interior do corpo do ex-PM e o calibre das armas usadas. Será possível averiguar também se houve tortura, como foi alegado pelo senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ).

Segundo os promotores, tais questões não foram devidamente esclarecidas na primeira necropsia, feita no IML de Alagoinha, cidade vizinha à Esplanada. Com esses esclarecimentos, acreditam, será possível determinar se houve, de fato, uma troca de tiros ou uma execução.

A Secretaria de Segurança da Bahia informou que estão pendentes ainda os resultados de exames importantes feitos no Estado. São eles o residuográfico (que determina se Nóbrega, de fato, fez algum disparo de arma de fogo), o das marcas de bala no escudo usado pela PM na invasão do sítio (o que poderia indicar uma reação) e o da perícia da casa onde ele foi alvejado.

Adriano da Nóbrega é investigado no Rio por sua participação no Escritório do Crime, o braço armado da milícia. O MP também apura a ligação do ex-oficial com o esquema de rachadinha (repasse dos salários ao parlamentar) no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça, trabalharam no gabinete. O então deputado estadual também assinou projeto que resultou na concessão ao ex-policial da Medalha Tiradentes, mais elevada homenagem do Legislativo fluminense. Na ocasião, Adriano da Nóbrega estava preso, respondendo a processo por assassinato, acusação de que, posteriormente, se livrou.

Nóbrega estava foragido havia cerca de um ano, quando foi localizado na Bahia. O corpo foi trazido para o Rio de Janeiro na terça-feira à noite, em voo comercial. A mãe do ex-oficial pretendia cremá-lo já na manhã de quarta-feira, no Memorial do Carmo, no Caju, mas foi impedida pela Justiça.

Na madrugada de quarta-feira, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, sustentou que o pleito da família não atendia aos requisitos da lei. O requerimento, segundo ela, não estava acompanhado de documentos imprescindíveis, como a guia de remoção do cadáver e o registro de ocorrência. Além disso, alegou, a morte não se deu por causas naturais: "acaso fosse deferida a cremação, (...) inviabilizadas estariam eventuais providências a serem levadas a efeito pela autoridade policial".

Na tarde de ontem, o juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, proferiu uma nova decisão contra a cremação, desta vez no processo referente à Operação Intocáveis, do Ministério Público do Rio. A ação apura a participação de Nóbrega no Escritório do Crime.

Ontem pela manhã, a viúva do ex-capitão, Julia Emília Mello Lotufo, pediu a realização de uma perícia particular no corpo. Como o advogado, ela acredita que o marido pode ter sido executado e não quer enterrar o corpo sem tirar isso a limpo. A Justiça do Rio negou o pedido.