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Uruguai começa a vacinar maiores de 50 e inclui brasileiros de dupla cidadania

Governo uruguaio destinou parte das doses que sobraram de outras regiões para reforçar blindagem contra variantes - Pexels
Governo uruguaio destinou parte das doses que sobraram de outras regiões para reforçar blindagem contra variantes Imagem: Pexels

Paulo Beraldo

16/03/2021 13h00Atualizada em 16/03/2021 13h27

São Paulo - A vacinação para pessoas de 50 a 70 anos começou ontem em regiões do Uruguai que fazem fronteira com o Brasil, no momento em que autoridades do país se mostram preocupadas com a situação da pandemia do lado brasileiro. O governo uruguaio destinou parte das doses que sobraram de outras regiões para reforçar a vacinação na fronteira e tentar blindar o país da ameaça de novas variantes, como a P1, de Manaus.

Nesta segunda-feira, a artesã Miriam Moreira, de 58 anos, estava entre os brasileiros com cidadania uruguaia que já se vacinaram contra a covid-19. Miriam tornou-se cidadã após o casamento com um uruguaio e vive em Rivera, no Uruguai, divisa com Sant'Ana do Livramento (RS). A vacina mudou a rotina das pessoas que moram do lado brasileiro, já que as duas cidades - Sant'Ana do Livramento e Rivera - são conurbadas, sem controle migratório. Mas, para se vacinar no Uruguai, é preciso marcar com antecedência.

O Ministério de Saúde uruguaio permite três diferentes formas de agendamento. "Marquei por WhatsApp. Em dez minutos realizei o agendamento. Três dias depois, estava imunizada", contou Miriam. As autoridades dos dois municípios têm adotado protocolos diferentes no enfrentamento da pandemia.

No lado brasileiro, Livramento sofreu com o fechamento do comércio e atualmente está sob o impacto da bandeira preta no mapa de distanciamento controlado do Rio Grande do Sul, o que indica risco altíssimo de contágio. Já Rivera vem ocupando, desde o ano passado, o título de cidade uruguaia com maior número de casos no interior. Ainda assim, o governo local mantém restrições bem mais flexíveis do que as adotadas no lado brasileiro, inclusive com o comércio funcionando normalmente.

Os gaúchos da fronteira dizem que é um privilégio contar com a vacina no país vizinho. "Estou muito feliz por morar em uma cidade de fronteira e poder receber a imunização. Acho que no Brasil vai demorar um pouco mais. Agradeço muito ao Uruguai por ter me dado essa oportunidade", afirmou Miriam.

Avanço

Segundo o Ministério da Saúdo Uruguai, a partir de hoje haverá a confirmação de outras faixas etárias para a imunização no país. Miriam aguarda a segunda dose, já marcada para o dia 5 de abril. "Assim que eu tomar a última dose, quero voltar a levar uma vida mais próxima do antigo normal. Espero que, aos poucos, isso aconteça.

"No Uruguai, desde ontem, podem se vacinar moradores das cidades de Artigas, Bella Unión, Rivera, Rio Branco e Chuí. O governo do presidente Luis Lacalle Pou tem pressa, porque teme o aumento de casos importados do Brasil. No domingo, o Uruguai registrou três recordes negativos: maior número de contágios em um dia (1.587), segundo maior número de mortes (14) e maior número de internados em UTI (124).

Nove dos 19 Departamentos uruguaios estão na chamada zona de risco: Salto, San José, Florida, Rio Negro, Montevidéu, Cerro Largo, Taquarembo, Artigas e Rivera. O ministro da Saúde uruguaio, Daniel Salinas, afirmou que o momento é um dos mais complexos da pandemia e é preciso "reavaliar" a abordagem da covid.O Sindicato Médico do Uruguai pediu medidas para reduzir a mobilidade de pessoas e a Federação Médica do Interior (Femi) afirmou que o governo precisa olhar os dados de cada região de maneira diferente.

Lacalle Pou se reúne com seus ministros hoje para decidir se adotará medidas restritivas. A Cátedra de Enfermidades Infecciosas da Universidade da República, a mais tradicional do Uruguai, também se manifestou em defesa da menor circulação de pessoas.O Departamento de Rivera é o primeiro a estar perto do colapso no sistema hospitalar. A região viu a ocupação das unidades de terapia intensiva chegar a níveis de saturação, de acordo com informações da Sociedade Uruguaia de Medicina Intensiva (Sumi).

Há 23 leitos em Rivera e foi organizado um plano de complementação regional para que os pacientes possam ser deslocados para outras regiões.Autoridades uruguaias vêm expressando preocupação com o que ocorre no Brasil, onde a pandemia saiu de controle, como no caso do Rio Grande do Sul, onde hospitais estão lotados, principalmente em Porto Alegre.

"Estamos ameaçados pela situação epidemiológica brasileira. A rapidez com a qual nos vacinamos vai ser fundamental para que o vírus deixe de sofrer mutações no nosso país. Enquanto o vírus estiver circulando, pode sofrer mutação", afirmou o ministro uruguaio, na semana passada.

Julio Pontet, presidente da Sumi, afirmou que o Uruguai atravessa "seu pior momento" na pandemia e destacou que a entidade está produzindo um plano de contingência para minimizar todos os problemas decorrentes da saturação dos hospitais. A cidade de Rivera, que tem uma população de cerca de 60 mil pessoas, tem 828 casos ativos de covid-19 e acumulou nos últimos sete dias uma média de 79 contágios para cada 100 mil pessoas, o mais alto do país. "Hoje, nosso maior problema, sem dúvida, é o que está acontecendo no Brasil", afirmou José Mazzoni, vice-governador do departamento.

Vacinas

Em fevereiro, o Uruguai recebeu 192 mil doses da Coronavac e iniciou a campanha de imunização há poucos dias. No Departamento de Rivera, ao menos 15 mil pessoas já foram vacinadas com as primeiras doses, de acordo com o intendente do departamento, Richard Sander. Uma nova carga de 1,5 milhão de doses deve chegar ainda nesta semana para impulsionar a campanha.O Uruguai, que pretende vacinar o mais rapidamente possível seus 3,5 milhões de habitantes, também espera uma carga de 450 mil vacinas da Pfizer até o fim de abril. Desde o início da pandemia, o país registrou 71.691 casos e 712 mortes. Apesar dos números baixos, em comparação com os vizinhos, o Uruguai foi um dos últimos países da região a começar a vacinação. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.