Presidente de Comissão dos EUA que divulgou decisões de Moraes é trumpista e ultraconservador
Do Estadão Conteúdo, em Brasília
18/04/2024 22h15Atualizada em 18/04/2024 22h37
Apoiador do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e fundador de um grupo que reúne ultraconservadores da Câmara dos Representantes dos EUA, o deputado Jim Jordan é o presidente do comitê do Parlamento americano que divulgou relatório com documentos sigilosos sobre suposta "censura do governo brasileiro" a redes sociais. Das 88 decisões e ofícios, diversos despachos são assinados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Divulgado nesta quarta-feira, 17, relatório da ala republicana da Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos EUA, assinado por Jim Jordan, diz que determinações de remoção de conteúdo e suspensão de contas pelo STF e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que eram passíveis de multas caso fossem descumpridas, não tinham fundamentações jurídicas.
De acordo com o Supremo, os documentos divulgados pelo colegiado presidido por Jim Jordan não são as decisões fundamentadas que determinaram a retirada de conteúdos ou perfis. Segundo a Corte, os arquivos se tratam de ofícios enviados às plataformas para o cumprimento das decisões.
Presidente da Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos EUA, Jim Jordan é deputado desde 2007 e figura entre os principais parlamentares do Partido Republicano no Congresso americano. Antes de entrar na política, ele foi atleta de luta livre, sendo bicampeão do principal torneio universitário do país na modalidade.
Em 2015, ele ajudou a criar o Freedom Caucus, que reúne deputados republicanos que defendem pautas ultraconservadoras. Segundo Jim Jordan, que foi o primeiro presidente do coletivo, a iniciativa agrega um grupo "menor, mais coeso, mais ágil e mais ativo" de políticos alinhados à direita na Câmara dos Representantes.
Jordan é presidente da Comissão de Justiça desde janeiro do ano passado. À frente do colegiado, Jordan atuou na abertura do processo de impeachment contra o presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, aprovado pela Câmara dos EUA em dezembro. O chefe da Casa Branca é acusado pelos republicanos de usar sua influência para permitir que o seu filho, Hunter Biden, firmasse "negócios obscuros" com China e a Ucrânia.
Proximidade com Trump
Com a vitória eleitoral de Donald Trump, em 2016, Jordan se tornou um dos membros mais ativos da "tropa de choque" do ex-presidente. Em alguns momentos, porém, se distanciou do ex-chefe do Executivo americano e provocou atritos entre a base de apoio republicana no Congresso americano.
Em 2017, Jordan negou apoio a um projeto de lei do Executivo que buscou substituir o Obamacare, programa governamental do ex-presidente Barack Obama que fornece assistência à saúde para pessoas de baixa renda. O parlamentar defendeu o fim do benefício, enquanto o governo Trump buscou reformular a plataforma.
Em outubro do ano passado, Jordan foi candidato apoiado por Trump para a presidência da Câmara dos Representantes. Porém, a postura ultraconservadora impediu que ele tivesse apoio suficiente para chegar ao cargo. Os republicanos então lançaram Mike Johnson, que é aliado do deputado e venceu as eleições.
Defesa de fraude nas eleições
Quando Joe Biden foi eleito em 2020, Jordan acusou o Partido Democrata de tentar "roubar as eleições". O deputado defendeu que os resultados do pleito no Estado da Pensilvânia, que terminou sendo decisivo na vitória de Biden, tinham sido fraudados a partir de cédulas enviadas por eleitores pelo correio.
Em dezembro daquele ano, Jordan esteve entre os 126 republicanos da Câmara dos EUA signatários de um pedido para que os resultados na Pensilvânia fossem invalidados, a partir de uma representação feita pelo Estado do Texas. O Congresso dos EUA rejeitou a apreciação da ação.
'Ator significativo' para tentar impedir posse de Biden
Jim Jordan foi citado no relatório final de um comitê legislativo que investigou o ataque de extremistas no Capitólio dos EUA no dia 6 de janeiro de 2021, quando Joe Biden foi diplomado presidente do país. Segundo o inquérito parlamentar, o deputado foi "um ator significativo nos esforços" de Trump de reverter os resultados eleitorais.
Um dia antes da invasão de extremistas no local, que deixou cinco mortos, Jordan afirmou que as eleições haviam sido fraudadas e que, por isso, Trump não havia sido eleito presidente.
O relatório também pontua que em 2 de janeiro de 2021, quatro dias antes dos atos de vandalismo, Jordan coordenou uma teleconferência com o ex-presidente e outros políticos ultraconservadores para "discutir estratégias" para atrasar a diplomação de Biden.
O inquérito disse que o grupo considerou divulgar postagens nas redes sociais que alimentariam dúvidas sobre o sistema eleitoral americano, como forma de incentivar os apoiadores de Trump a marcharem até o Capitólio. Apesar das citações contra o parlamentar, ele não foi indiciado pelo comitê.