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Lula pede desculpas à Itália por não ter extraditado Battisti

Lula explicou que tomou a decisão de manter Battisti no Brasil com base em orientação que teve do Ministério da Justiça. - Ricardo Stuckert
Lula explicou que tomou a decisão de manter Battisti no Brasil com base em orientação que teve do Ministério da Justiça. Imagem: Ricardo Stuckert

09/04/2021 17h21

ROMA, 9 ABR (ANSA) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu desculpas à Itália nesta sexta-feira (9) por não ter extraditado o italiano Cesare Battisti, condenado no país europeu por assassinatos na década de 1970.

"Desculpa é uma palavra muito simples mas só quem tem caráter a usa. Peço desculpas ao povo italiano e ao ex-presidente Giorgio Napolitano, porque acreditava que Battisti era inocente e não era", disse o petista em entrevista ao vivo ao Tg2 Post.

Lula explicou que tomou a decisão de manter Battisti no Brasil com base em orientação que teve do Ministério da Justiça. Ele assinou o decreto que concedeu asilo ao terrorista em seu último dia de governo, em 2010. "Achei a decisão correta porque acreditamos que ele era inocente, mas, desde o momento em que ele confessou, é óbvio que devo admitir que errei".

"Peço desculpas ao povo italiano, pensei que ele não era culpado, mas depois da confissão dele só posso me desculpar. Eu me enganei", reforçou Lula, lembrando que tem muitos amigos nos sindicatos, na igreja, na política italiana, como o ex-premiê Enrico Letta.

Battisti foi preso na fronteira com a Bolívia sob suspeita de tentar fugir em janeiro de 2019 e foi entregue às autoridades italianas pela Bolívia. Atualmente, o ex-membro do grupo terrorista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) cumpre pena de prisão perpétua em uma cadeia em Rossano, na Calábria, extremo-sul do país.

Após ter passado quase 40 anos foragido e alegando inocência, Battisti admitiu, em março de 2019, ter sido o autor material de dois homicídios e seu envolvimento em outros dois. As quatro vítimas eram o marechal Antonio Santoro, o joalheiro Pierluigi Torregiani, o açougueiro Lino Sabbadin e o policial Andrea Campagna.

Na mesma entrevista, Lula fez um apelo ao governo italiano para ajudar na criação de uma "governança mundial" para combater a pandemia do novo coronavírus. O petista afirmou que "o Brasil tem um governo totalmente irresponsável" na gestão da emergência sanitária e "desrespeitoso com a população".

"A Covid é um flagelo que deve ser enfrentado mundialmente. Já falei sobre isso a várias lideranças. Quero dizer também à Itália, que presidirá o G-20, e ao primeiro-ministro Mario Draghi, que crie uma governança global para combater a pandemia", afirmou Lula, garantindo que também falará com o papa Francisco.

No programa italiano, Lula voltou a criticar o atual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, chamou de "genocida" por seu comportamento e afirmou que deve enfrentá-lo nas próximas eleições presidenciais de 2022.

Segundo ele, se o país tivesse um governo responsável, que incentivasse o isolamento social e o uso de máscaras, a situação seria outra, mas ao invés disso as pessoas vão para a praia.

"Só o Brasil não quer um lockdown porque temos um presidente genocida. É uma palavra forte mas estou me referindo a um presidente [Bolsonaro] que está levando a população brasileira ao genocídio", enfatizou Lula.

Atualmente, o território brasileiro vive o pior momento da pandemia, com recordes diários de mortes e colapso no sistema de saúde pública. Desde o início da crise sanitária, o país acumula mais de 348 mil mortes e 13,3 milhões de casos de Covid-19.

Para o líder da esquerda brasileira, a situação crítica vai continuar até que haja vacina para todos, mas os imunizantes não podem ser administrados pelo mercado.

Sobre uma possível candidatura para disputas as próximas eleições presidenciais, Lula garantiu que, "se as condições forem boas", irá concorrer em 2022 contra Bolsonaro, porque "a situação no Brasil piorou".

"As condições de visa são críticas, nos anos do meu governo o Brasil foi diferente, os cidadãos tinham orgulho de seu país, as desigualdades eram menores", acrescentou o petista, que também acusou o ex-juiz federal Sergio Moro de condená-lo injustamente.

"Moro se enganou, mentiu. Eu disse a ele: você quer me condenar porque cometi um crime gravíssimo, permiti que os pobres frequentassem as universidades, dei-lhes dignidade e direitos", finalizou.

Segundo pesquisas eleitorais, Lula aparece numericamente à frente de Bolsonaro nas intenções de voto no pleito de 2022.