Em discurso de vitória, candidata da extrema direita promete 'unir' Itália
A deputada de extrema direita Giorgia Meloni, provável vencedora das eleições parlamentares deste domingo (25) na Itália, afirmou que os cidadãos deram uma "indicação clara" com o resultado do pleito e prometeu governar para "unir" o país.
"Os dados ainda não são definitivos, mas, pelo que emerge das primeiras projeções, se pode dizer que os italianos deram uma indicação clara. E a indicação clara é para um governo de centro-direita com liderança do Irmãos da Itália [FdI, seu partido]", disse Meloni em um discurso para apoiadores em Roma.
Tanto as pesquisas de boca de urna quanto as projeções apontam que a coalizão conservadora terá ampla maioria na Câmara e no Senado e que o FdI será o partido mais votado dentro dessa aliança, que ainda inclui a ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini, e o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi.
Ao lamentar a abstenção recorde dos eleitores - quase 40% das pessoas com direito a voto não foram às urnas -, a deputada afirmou que uma de suas metas é "fazer com que os cidadãos voltem a acreditar nas instituições". "Nosso principal objetivo é reconstruir a relação entre Estado e cidadãos. Somos cidadãos livres, não somos súditos, e é importante refazer essa relação", disse.
Segundo Meloni, a vitória histórica do FdI, que em 2018 obtivera apenas pouco mais de 4% dos votos, "não é um ponto de chegada".
"A partir de amanhã, precisaremos demonstrar nosso valor", acrescentou a deputada, encerrando seu discurso com uma citação de São Francisco de Assis.
"Você começa a fazer o possível para depois descobrir que alcançou o impossível", concluiu.
Maioria ampla - De acordo com projeção do consórcio, Opinio-Italia para a emissora Rai, a aliança conservadora alcançará 43,3% dos votos no Senado e 42,7% na Câmara, contra 26,4% e 26,8% da centro-esquerda e 16,2% e 16,0% do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S).
Já a chamada "terceira via", formada pelos partidos de centro Ação e Itália Viva (IV), aparece com 7,4% e 7,5%, respectivamente. Como o sistema eleitoral italiano mistura voto majoritário com proporcional, esses números devem garantir uma ampla maioria parlamentar à direita, com mais de 110 das 200 cadeiras no Senado e mais de 220 dos 400 assentos na Câmara.
No papel de partido mais votado, com cerca de 25% da preferência, segundo as projeções, o FdI terá a prerrogativa de indicar o próximo premiê, o que deve fazer de Meloni a primeira mulher a governar a Itália.
Histórico - Nascida em Roma em 15 de janeiro de 1977, Giorgia Meloni se aproximou da política aos 15 anos da idade, quando aderiu à "Frente da Juventude", organização juvenil ligada ao extinto partido pós-fascista Movimento Social Italiano (MSI), que havia sido criado por egressos do regime de Benito Mussolini.
Quando tinha 19 anos, Meloni gravou um vídeo dizendo que "Mussolini foi um bom político" e que "tudo o que ele fez foi pela Itália".
Com o passar dos anos, galgou degraus na Aliança Nacional (AN), herdeira do MSI, e foi eleita conselheira da província de Roma em 1998, ficando no cargo até 2002. Em 2006, conquistou uma cadeira na Câmara, onde está até hoje, tendo ocupado também o posto de ministra da Juventude do governo Berlusconi entre 2008 e 2011.
No mesmo ano em que foi eleita pela primeira vez ao Parlamento, deu uma entrevista na qual disse que tinha uma "relação serena com o fascismo". Sobre Mussolini, afirmou que o ditador "cometeu diversos erros, como as leis raciais, a entrada na guerra e o sistema autoritário".
"Historicamente, produziu muito também, mas isso não o salva", declarou Meloni na ocasião, já mudando um pouco seu discurso em relação aos anos de juventude.
Em dezembro de 2012, Meloni se juntou a um grupo de dissidentes da AN para fundar o FdI, que até hoje exibe em seu distintivo a chama tricolor que simbolizava o MSI. A deputada preside o Irmãos da Itália desde 2014 e foi aos poucos ampliando seu eleitorado por ter passado a última década sempre na oposição.
Meloni capitalizou a insatisfação de grupos que vão de trabalhadores demitidos por causa da pandemia até autônomos penalizados pela Covid-19, passando pelos antivacinas - a deputada disse que se imunizou contra a Covid, mas não tirou foto.
Ela também tem buscado se distanciar de movimentos abertamente neofascistas, como CasaPound e Força Nova, historicamente próximos à militância do FdI.
Ao longo dos últimos anos, Meloni manteve o discurso radicalizado em temas como imigração e direitos civis - ela defende um bloqueio naval contra migrantes do Mediterrâneo e é contra a adoção por homossexuais -, mas tentou se vender como mais moderada em outras áreas.
Historicamente eurocética, a líder do FdI não fala mais em tirar a Itália da União Europeia. Além disso, é mais crítica ao regime de Vladimir Putin do que seus aliados na direita italiana e também é contra aumentar o endividamento do país para combater a disparada da inflação, assunto que já foi motivo de tensão na coligação conservadora.
Eduardo Bolsonaro parabeniza candidata
O candidato a deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro, usou sua conta no Twitter para parabenizar a italiana Giorgia Meloni, líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), por sua vitória nas eleições italianas desse domingo (25).
"Parabéns Giorgia Meloni, que será a primeira mulher a governar a Itália, mas você vai ouvir da mídia que o "fascismo da ultradireita" venceu. Assim como o Brasil, a Italia agora é "Deus, patria e família", escreveu.
O filho do presidente Jair Bolsonaro é amigo de longa data de Matteo Salvini, líder de outro partido de ultradireita, a Liga, que está na coalizão com Meloni, mas que não foi bem na disputa eleitoral deste domingo.
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