Brasil recebe Cúpula da Amazônia para liderar mundo tropical

Por Lucas Rizzi SÃO PAULO, 5 AGO (ANSA) - Começa na próxima terça-feira (8) a Cúpula da Amazônia, evento que reunirá representantes de 15 países em Belém, no Pará, em uma tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se colocar como líder do mundo tropical nas discussões sobre a crise climática.   

O evento ocorre no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca), bloco formado por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela e que o governo Lula quer fortalecer.   

Os presidentes de seis dos oito membros da Otca irão a Belém (Equador e Suriname devem mandar ministros), e o Brasil também convidou a França, por conta da Guiana Francesa; Noruega e Alemanha, principais financiadoras do Fundo Amazônia; São Vicente e Granadinas, presidente pro tempore da Celac; e os dois Congos e a Indonésia, que abrigam grandes florestas tropicais.   

"Quem dá o tom na Amazônia é o Brasil. Se o Brasil se interessa, se empenha de maneira positiva, é possível ter alguma coisa", disse à ANSA o diplomata Rubens Ricupero, ex-embaixador na Itália, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente e principal negociador brasileiro do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA).   

Os objetivos de Lula na cúpula são ambiciosos: um compromisso conjunto de zerar o desmatamento ilegal até 2030, criar uma posição coletiva dos países tropicais para levar à COP28, formalizar o Parlamento da Amazônia, fortalecer o combate ao crime organizado na região e garantir desenvolvimento sustentável aos 50 milhões de habitantes da floresta.   

"Um grande acordo para salvar a Amazônia e uma colaboração com o Sudeste Asiático e países africanos seriam uma mensagem de grande repercussão. O convite a representantes de países com florestas tropicais é muito positivo do ponto de vista político", afirmou Carlos Nobre, um dos mais importantes cientistas climáticos do Brasil.   

A expectativa é de que essa união do mundo tropical aumente a pressão para os países ricos destravarem o Fundo Verde do Clima, que deveria ter chegado a US$ 100 bilhões por ano em 2020, mas nunca decolou. "A floresta tropical não é só a Amazônia, tem os Congos, a Indonésia... É um programa ambicioso e que permite ao Brasil uma postura de bastante destaque e liderança", ressaltou Ricupero.   

Segundo o diplomata, um resultado positivo da Cúpula de Belém seria a criação de uma organização nos moldes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que tem a função de sintetizar e promover o conhecimento científico sobre o aquecimento global.   

"Quando nós negociamos o TCA, em 1977 e 1978, sempre tivemos muito claro que o problema central da Amazônia era a falta de conhecimento científico e tecnológico", acrescentou. E esse cenário pouco mudou desde então. Segundo Nobre, a Amazônia representa 10% do PIB brasileiro, mas apenas 2,5% dos investimentos em ciência e tecnologia.   

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Lula também tem acenado para a possibilidade de todos os países da região assinarem o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030, mas as negociações sobre essa meta ainda estão em curso. "O próprio Brasil tem que começar a liderar pelo exemplo. Nós acabamos de passar por um período de pesadelo que foi o governo Bolsonaro, no qual quem liderava a destruição era o Brasil, e isso acabou só há seis meses", afirmou Ricupero.   

De fato, os alertas de desmatamento na Amazônia entre agosto de 2022 e julho de 2023 caíram 7% e atingiram o menor valor em quatro anos (7.952 km²), porém bateram recorde no Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, com 6.359 km² de área derrubada, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). (ANSA).   

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