TV Rai é acusada de censura após cancelar monólogo antifascista

ROMA, 22 ABR (ANSA) - O cancelamento da participação do escritor italiano Antonio Scurati em um programa da TV Rai 3 no último sábado (20) gerou uma controvérsia no mundo político do país, levantando acusações de censura contra a direção da emissora pública e o governo da premiê Giorgia Meloni.   

O premiado autor, mais conhecido pelo romance best-seller "M, o filho do século", sobre Benito Mussolini, leria no programa "Chesarà" um monólogo em que definia o partido Irmãos da Itália (FdI) da primeira-ministra como "grupo dirigente pós-fascista" e acusava a sigla explicitamente de querer "reescrever a história" ignorando a resistência e o antifascismo.   

Internamente, um comunicado da Rai afirmou que o cancelamento se deu por "motivos editoriais". O diretor, Paolo Corsini, negou a censura, alegando ser uma decisão econômica ligada a divergências sobre o pagamento a Scurati. O escritor desmentiu essa versão, classificando-a como "agressão difamatória".   

Meloni também alegou o mesmo motivo, levantando uma versão segundo a qual a Rai teria se negado a pagar 1,8 mil euros (R$ 9,9 mil), "o salário mensal de muitos funcionários". Ela também compartilhou o texto integral do monólogo, escrevendo que "quem sempre foi posto em ostracismo e censurado pelo serviço público não pedirá jamais a censura de alguém".   

A Rai teria oferecido 1,5 mil euros, e, após a negativa, teria aceitado a participação se fosse gratuita.   

Em meio à controvérsia, a apresentadora Serena Bortone, que também negou a versão do imbróglio financeiro, leu o discurso no ar.   

Enquanto parlamentares de oposição acusaram o governo de instrumentalizar a Rai, usando-a como "megafone", parlamentares da base seguem alegando a questão econômica e afirmando que o país já é naturalmente antifascista.   

No domingo (21), o sindicato Usigrai, que representa os funcionários da emissora, divulgou um comunicado nos telejornais matinais acusando a direção de "controle sufocante" e de promover um sistema que "viola os princípios do trabalho jornalístico".   

Em escolas e instituições de ensino em toda a Itália, estudantes leram o monólogo do escritor nesta segunda-feira (22). "Como estudantes, decidimos devolver a voz que foi tirada a Scurati, começando pelas salas de aula", disse Camilla Piredda, coordenadora nacional da União de Estudantes de Universidades (UDU). (ANSA).   

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