Cinema italiano tem 'história pesada nos ombros', diz Luchetti

SÃO PAULO, 22 JUN (ANSA) - Por Lucas Rizzi - Um motivo de orgulho, mas também um fardo. Para o diretor Daniele Luchetti, a história gloriosa do cinema italiano representa hoje o principal desafio para os cineastas do país, eternamente comparados aos gênios do passado, como Federico Fellini.   

Luchetti, vencedor de diversos prêmios no David di Donatello, o "Oscar da Itália", vem ao Brasil como convidado de honra do 8? Festa do Cinema Italiano, que começa em 27 de junho, e apresentará o filme "Segredos", adaptação de um romance homônimo de Domenico Starnone.   

"O Brasil tem uma cultura que damos como certo que se pareça com a nossa, mas não tenho tanta certeza. Quero verificar se é verdade, mas sobretudo estou curioso para entender a impressão do público sobre esse filme, o que ele percebe, o que aprecia e o que não aprecia", disse Luchetti em entrevista à ANSA.   

Essa é a terceira parceria entre o cineasta e Starnone, juntando-se à comédia "La Scuola" (1995) e ao drama burguês "Laços" (2020). "Segredos" conta a história de Pietro Vella, um professor escolar que vive sob a ameaça de ter uma terrível confidência revelada por uma ex-aluna e ex-namorada, a genial matemática Teresa Quadraro.   

"Esse filme mostra o retrato de um ser humano que tem um forte embate entre sua imagem pública e seus sentimentos internos, que são sentimentos de um homem assustado, com medo do feminino, um homem impreciso", explicou o cineasta.   

O suspense protagonizado por Elio Germano e Federica Rosellini também se insere no debate sobre a masculinidade tóxica, tema em voga tanto no Brasil quanto na Itália. "É o retrato de um homem sem descontos na sua incapacidade de ter relações importantes. Pietro não é capaz de manter paridade com uma mulher, de ter relações em que ele é o segundo", acrescentou.   

"Segredos" será um dos filmes em cartaz no 8? Festa do Cinema Italiano, que levará o melhor da produção contemporânea do "Belpaese" para mais de 20 cidades brasileiras, incluindo o fenômeno "Ainda temos o amanhã", de Paola Cortellesi.   

"Acho que o mundo ainda assiste ao cinema italiano para verificar a distância para os grandes mestres, ainda não o vê autônomo, o vê sempre em relação a Fellini, ao Neorrealismo, a um cinema que já tem 60 anos. E essa é nossa grande dificuldade.   

Mesmo os diretores com uma maior visibilidade e originalidade são sempre comparados. Temos uma história muito pesada nos ombros", declarou Luchetti.   

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Além da participação na mostra, o cineasta será o protagonista de dois encontros - um em São Paulo, no dia 26/6, e outro no Rio de Janeiro, em 1º/7 - promovidos pelo Instituto Italiano de Cultura.   

Os eventos ocorrem no âmbito da iniciativa "Fare Cinema" ("Fazer Cinema"), realizada pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália para promover os filmes do país por meio da rede diplomática e consular. (ANSA).   

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