Topo

Presidente socialista terá desafio de fazer França crescer em meio a crise

O recém-eleito presidente francês, François Hollande, comemora sua vitória - Charles Platiau/Reuters
O recém-eleito presidente francês, François Hollande, comemora sua vitória Imagem: Charles Platiau/Reuters

07/05/2012 05h58

Passada a euforia da vitória, o "estado de graça" - como os franceses chamam o período de calmaria social e política que ocorre após as eleições - deve ser de curta duração para o novo presidente da França, o socialista François Hollande, afirmam especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

Isso porque Hollande herda um país com baixo crescimento econômico e onde a dívida pública, atualmente de 85% do PIB, e o desemprego, de cerca de 10%, explodiram nos últimos anos em razão da crise financeira mundial e, posteriormente, na zona do euro.

Ciente dos inúmeros desafios que o aguardam tanto no campo econômico quanto no social, Hollande chegou a declarar há alguns dias que seu antecessor, Nicolas Sarkozy, "infelizmente não levaria embora com ele as dívidas do país nem o desemprego".

A dívida francesa atingiu o recorde de 1,7 trilhão de euros. Segundo números anunciados por Sarkozy, a França precisa obter financiamentos de 180 bilhões de euros anuais para cobrir suas despesas - entre elas, cerca de 42 bilhões de euros por ano em juros da dívida.

O fraco crescimento econômico da França neste ano, estimado em 0,5% pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e também por Hollande, e o aumento previsto do desemprego poderão limitar a margem de manobra do novo presidente e comprometer a aplicação de seu programa de governo, dizem especialistas.

"A prioridade é o equilíbrio das contas públicas. Mas com crescimento econômico baixo será difícil obter isso. Além disso, o crescimento fraco não permitirá conter o aumento do desemprego", disse à BBC Brasil o economista Éric Heyer, diretor do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE).

Déficit e desemprego

Hollande prometeu cumprir o compromisso já firmado por Sarkozy de reduzir progressivamente o déficit público. Ele deverá passar de 5,2% do PIB em 2011 para 3% em 2013.

Durante sua campanha, Hollande fixou a meta de um déficit zero em 2017, algo que não ocorre na França desde os anos 1970.

No entanto, para atingir o objetivo, ele se baseia em previsões de crescimento econômico que são consideradas superestimadas por diferentes organismos internacionais e economistas.

Hollande prevê que o crescimento da economia francesa será de 1,7% em 2013. O FMI recentemente jogou uma ducha fria nos planos do socialista ao projetar uma expansão do PIB francês de apenas 1% no próximo ano.

"O desemprego e a pobreza vão aumentar. É difícil saber por quanto tempo o estado de graça do Hollande vai durar. Talvez até o final do ano já ocorram protestos nas ruas", diz Heyer.

Segundo os cálculos do economista do OFCE, para reduzir o desemprego, que aumentou pelo 11° mês consecutivo, e criar, por exemplo, 150 mil vagas, a economia francesa teria de crescer 1,7%.

O próprio Hollande, durante sua campanha, disse que inúmeras empresas estariam aguardando o encerramento das eleições para anunciar demissões em massa, principalmente no setor automotivo.

Seu programa de governo para lutar contra o desemprego prevê a criação de 60 mil vagas de professores e de 150 mil empregos para jovens, financiados a 85% pelo governo, além de exonerações fiscais para empresas que mantiverem, ao mesmo tempo, um jovem e alguém próximo da aposentadoria no trabalho - para também ajudar a conter o desemprego na faixa de empregados com mais de 50 anos.

Para financiar suas medidas sem expandir os gastos, ele prevê aumentar os impostos das classes altas e de grandes empresas.

Mas analistas estimam que além de novos cortes de gastos, o novo presidente poderá fazer aumentos de impostos suplementares, além dos anunciados.

Pacto europeu

Outro grande desafio de Hollande será se aproximar da Alemanha e renegociar, como ele prometeu na campanha, o pacto europeu de disciplina fiscal para incluir o crescimento econômico da Europa na agenda política do continente.

A chanceler alemã, Angela Merkel, se recusa, no entanto, a renegociar o pacto e também se oporia à criação de eurobonds (títulos da dívida europeia) para financiar projetos de infraestrutura europeus, como sugere o presidente eleito francês.

Para Benjamin Carton, economista do Centro de Estudos, Perspectivas e Informações Internacionais (Cepii, na sigla em francês), Hollande também terá o desafio de aumentar a produtividade industrial francesa e reduzir o déficit comercial do país, que atingiu o recorde de 70 bilhões de euros em 2011.

"Em setembro ou outubro, os franceses voltarão à realidade. Os franceses não estão acostumados a fazer esforços. O governo deverá tomar decisões impopulares e haverá manifestações nas ruas", prevê Dominique Reynié, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.