Famílias vivem drama de reconstruir vidas após série de incêndios em SP
Dezenas de famílias na zona sul de São Paulo reviveram nos últimos dias o drama de reconstruir suas vidas após perderem suas casas e pertences em novo incêndio, uma situação que já é parte da rotina das favelas da cidade.
As últimas vítimas tem como endereço a favela do Morro do Piolho, agora um terreno na zona sul onde mais da metade das moradias foi reduzida a cinzas e escombros.
Este é o 32º desastre do tipo na capital paulista neste ano - só em agosto foram oito. Das 1.632 favelas da cidade, 79 registraram incêndios em 2011.
De acordo com a Defesa Civil, entre as principais causas estão curtos-circuitos nas instalações elétricas precárias, uso de velas e pequenos acidentes nos barracos.
A prefeitura implementou um programa de prevenção em 50 comunidades classificadas como de alto risco. Ainda assim, muitas delas já registraram incêndios.
Mesmo considerada "modelo", a favela do Morro do Piolho mostrou que as medidas do Previn (programa de prevenção de incêndios), que incluíram um zelador com capacete, capas e botas de incêndio, não foram suficientes.
De acordo com os residentes, que tentaram conter as chamas com baldes, não houve treinamento, e extintores jamais foram entregues.
Lixão e tempo seco
No caso da comunidade localizada em uma encosta no bairro do Campo Belo, conexões de água e eletricidade são ilegais e não há saneamento básico.
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Segundo os moradores, o fogo teria sido iniciado por um curto-circuito. Em chamas, os fios caíram sobre um lixão, no meio da favela, e se espalharam rapidamente.
O tenente-coronel José Luis Borges, comandante do corpo de bombeiros da região, diz que este é um dos meses de agosto mais secos das últimas décadas, e que os ventos fortes no dia do incêndio também ajudaram a propagar as chamas com maior rapidez.
Em menos de cinco horas, praticamente metade da comunidade foi consumida pelo fogo. Dos 700 barracos, cerca de 300 ficaram completamente destruídos e mais de mil pessoas ficaram desabrigadas.
Recomeçar do zero
Muitas famílias do Morro do Piolho perderam tudo, incluindo móveis, roupas e documentos. Mas para alguns, recomeçar a vida do zero não é novidade.
Para Pedro Luís Neves, de 28 anos, nascido e criado na comunidade, esta é a segunda vez que o fogo consome sua casa e tudo que o que conquistou com muito suor.
Seis anos atrás ele já tinha perdido tudo em outro incêndio na mesma favela. "Só o que nos resta é começar de novo. Desta vez foi pior, mais gente foi afetada", diz.
Marta dos Santos, de 56 anos, também lembra do incêndio de 2006. "Eu e a minha família moramos na rua durante três meses até reconstruir o barraco, com madeira doada das construções de prédios aqui perto", relembra.
Entre filhos, filhas, noras (uma grávida de seis meses) genros e netos, Marta chefia uma família de 12 pessoas, e agora, mais uma vez, estão todos na rua aguardando uma definição.
"Para o abrigo da prefeitura eu não vou, nem matando. Queremos uma moradia digna, e aqui, não em outro lugar. A gente é honesto, trabalhador, leva anos para juntar as coisinhas. Eu estava economizando para trocar minha geladeira, e em questão de minutos não tenho mais nada, só sobraram as cinzas", conta.
A prefeitura diz que todos os afetados foram cadastrados em uma lista e receberam colchões e cestas básicas. Mas o que os moradores querem mesmo é um lugar para viver.
Sucata e investigação
Um dia depois do incêndio, muitos enfrentaram o forte cheiro de fumaça e as memórias ainda recentes da tragédia para juntar o pouco que sobrou e vender como sucata.
São restos de geladeiras, móveis, utensílios que ficaram entre as cinzas e resquícios de estrutura de alguns barracos mais fortes.
A Promotoria de São Paulo abriu uma investigação para determinar o que deu início ao fogo, em um desastre que deixou gente que já tinha muito pouco com quase nada.
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