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Um ano depois, pai relata suicídio da filha após cyberbullying

03/04/2014 07h46

Um ano após o suicídio da filha, vítima de cyberbullying, o canadense Glen Canning falou à BBC sobre as circunstâncias de sua morte e sobre sua luta para que crimes cometidos online não fiquem impunes.

O caso da jovem Rehtaeh Parsons, de 17 anos, que se enforcou em abril do ano passado após meses de assédio e ofensas pela internet, causou comoção nacional e motivou a aprovação de uma lei no Estado canadense de Nova Scotia para punir este tipo de crime.

O Estado também é o único do país a ter criado a primeira unidade de polícia que cuida exclusivamente de queixas de cyberbullying.

Dois anos antes de tirar a própria vida, Rehtaeh havia sido abusada sexualmente por quatro jovens que fotografaram o episódio e postaram imagens nas redes socais.

O assunto rapidamente ganhou os corredores da escola da jovem, que começou a ser xingada e a receber ameaças por meio de torpedos e de seus perfis nas redes sociais.

"Foi uma bomba e ela nunca conseguiu se recuperar", diz o pai.

Memórias

Em um pequeno baú ao lado da cama da jovem, Glen guarda os pertences mais preciosos da filha. Um deles, o pequeno macacão amarelo que ela vestia quando voltou para casa do hospital após o nascimento.

"Eu estava guardando isso tudo para dar para ela mais tarde", diz ele enquanto revira papéis com tintas coloridas pinceladas pela filha quando menina.

"É tão frustrante ser um pai de uma filha que foi estuprada", diz Canning.

"Você é um pai. Em tese você é o homem na vida dela que a guia, lhe ajuda e lhe salva. E quando algo assim acontece (estupro), é difícil fazer com isso não a cause mais danos ainda. É uma luta", diz Canning, que após a morte da filha chegou a ter uma audiência com o primeiro-ministro do país para pedir medidas enérgicas contra cyberbullying.

Depois da morte da jovem, dois adolescentes foram indiciados por posse e distribuição de pornografia infantil. Os meninos não foram considerados culpados e o processo continua.

Ações

A comoção que se seguiu à morte de Rehtaeh se canalizou na falta de ação da polícia em punir o suposto estupro e o assédio que se seguiu. Pressionados, parlamentares do Estado de Nova Scotia rapidamente elaboraram uma lei para punir o cyberbullying.

O Ato de Segurança Cibernética permite a vítimas prestar queixas à polícia, ganhar proteção e até levar o caso ao tribunal. Se for considerado culpado, o acusado pode ser punido com multas ou até ser preso. A legislação especifica também que posturas devem adotar educadores e pais de menores de idade.

A unidade de polícia recebe 25 telefonemas diariamente e desde sua criação, em setembro, já atuou em 153 casos.

O policial Roger Merrick, chefe da unidade, diz que o policiamento é 50% do trabalho de sua equipe. A outra metade, diz ele, é trabalho de prevenção junto a estudantes.

A legislação estipula que os pais devem "patrulhar com responsabilidade" as atividades online de seus filhos apesar de muitos deles saberem pouco sobre o que acontece nas mídias sociais.

"Nós seguramos as mãos dos nossos filhos quando atravessamos a rua, conversamos com eles sobre o perigo que estranhos representam. Não podemos mais fingir que não sabemos sobre o lado negro da internet", diz Merrick.

A nível nacional, o Ato de Proteção de Canadenses contra crimes online está sendo debatido no Parlamento e pode ser aprovado nas próximas semanas. A lei pode tornar crime o compartilhamento de imagens íntimas sem o consentimento da pessoa retratada na foto.

A lei nacional e uma resposta à morte de Rehtaeh Parsons e também à de Amanda Todd, do Estado de British Columbia, que se matou após ser vítima de bullying pessoal e na internet.