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Mundo tem 50 milhões de refugiados, o maior número desde a Segunda Guerra

20/06/2014 08h17Atualizada em 20/06/2014 10h31

O número de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a guerras ou perseguição superou a marca de 50 milhões em 2013 pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, informou a agência de refugiados da ONU.

O número, de 51,2 milhões, é seis vezes maior que o registrado no ano anterior, e foi inflado pelos conflitos na Síria, no Sudão do Sul e na República Centro-Africana, segundo o relatório da UNHCR.

O alto-comissário da ONU para refugiados, António Guterres, disse à BBC que o aumento é um "desafio dramático" para organizações que prestam ajuda humanitária.

"Os conflitos estão se multiplicando, mais e mais", disse Guterres. "E, ao mesmo tempo, conflitos antigos parecem nunca terminar".


Há uma preocupação especial com os cerca de 6,3 milhões de pessoas que são refugiados há anos - em alguns casos, há décadas.

Deslocados internamente

O Afeganistão ainda responde pela emissão do maior número de refugiados no mundo, e o vizinho Paquistão é o país que abriga o maior contingente, com cerca de 1,6 milhão deles.

Pessoas em condições classificadas pela ONU como situação de refúgio "prolongada" incluem mais de 2,5 milhões de afegãos.


Em todo o mundo, milhares de refugiados de crises ausentes do noticiário têm passado boa parte de suas vidas em campos. Na fronteira entre a Tailândia e Mianmar, cerca de 120 mil integrantes da minoria karen, de Mianmar, vivem em campos de refugiados há mais de 20 anos.

Refugiados não devem ser removidos à força, segundo a ONU, e não devem retornar aos seus países ao menos que seja seguro e que tenham para onde voltar. Para muitos, entre eles os mais de 300 mil refugiados somalis no campo de Dadaab, no Quênia, esta é uma perspectiva distante.

Alguns campos se tornaram praticamente permanentes, com escolas, hospitais e comércio, de acordo com a ONU. Mas eles não são, e jamais poderão ser, um lar.

Mas o número de refugiados é excedido pela quantidade de pessoas deslocadas internamente - aquelas que foram forçadas a deixar suas casas, mas que seguem em seus próprios países.

Só na Síria, acredita-se que haja cerca de 6,5 milhões de pessoas deslocadas. O conflito armado no país afetou famílias por diversas maneiras. O acesso a comida, água, abrigo e assistência médica é limitado e, por permanecerem dentro de uma zona de conflito, é difícil para agências de ajuda chegarem até elas.

A ONU estima haver cerca de 33,3 milhões de pessoas deslocadas internamente em todo o mundo.

Grandes quantidades de refugiados e de internamente deslocados representam um desafio na questão de recursos e podem, inclusive, desestabilizar o país que os acolhe.

Durante a crise na Síria, os vizinhos Líbano, Jordânia e Turquia mantiveram suas fronteiras abertas. O Líbano tem agora mais de um milhão de refugiados sírios, o que representa um quarto de sua população. A pressão sobre moradia, educação e saúde está causando tensões em um país que tem sua própria história recente de conflito.

A ONU está preocupada que a tarefa de assistir refugiados esteja, cada vez mais, sob responsabilidade de países com poucos recursos. Países em desenvolvimento abrigam 86% dos refugiados em todo o mundo, com países ricos atendendo apenas 14%.

E, apesar de temores na Europa sobre o crescente número de pedidos de asilo e imigração, esta diferença está crescendo. Há 10 anos, países ricos recebiam 30% dos refugiados e países em desenvolvimento abrigavam 70% deles.

Para Guterres, a Europa pode e deve fazer mais.

"Eu acho que é muito importante que a Europa assuma suas responsabilidades", disse.

"Eu também acho que está claro que temos bons exemplos na Europa, como a Suécia e a Alemanha, que têm tomado medidas generosas... mas precisamos de uma expressão conjunta da solidariedade europeia".


Mas o que mais frustra as agências de ajuda humanitária da ONU é o número cada vez maior de refugiados, enquanto o braço político da ONU, o Conselho de Segurança, parece ser incapaz de resolver conflitos ou prevenir o início de novos.

"O mundo está se tornando mais violento, e mais pessoas estão sendo forçadas a fugir", disse Guterres, acrescentando que organizações humanitárias não têm a capacidade e recursos de lidar com este crescente número de refugiados.

"Não há solução humanitária para esses problemas... ver o Conselho de Segurança paralisado, quando todas essas crises estão se ampliando, é algo que não faz sentido".

"O que mais me frustra é o sofrimento das pessoas, é ver tantas pessoas inocentes morrendo, tantas pessoas inocentes fugindo, tantas pessoas inocentes vendo suas vidas completamente destruídas, e o mundo ser incapaz de por um fim a esse absurdo".