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Governo pode enviar tropas para garantir eleição em Santa Catarina

Jefferson Puff

Enviado especial da BBC Brasil a Florianópolis

04/10/2014 16h35Atualizada em 04/10/2014 22h19

Um dia antes das eleições gerais em todo o Brasil, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse neste sábado (4) em Florianópolis que o governo federal não descarta enviar tropas das Forças Armadas para garantir o bom andamento da votação em Santa Catarina, em meio à onda de violência que atinge o Estado há nove dias e já deixou ao menos três mortos.

Cardozo chegou à capital catarinense na noite de sexta-feira e, após reunião com o governador em exercício Nelson Schaefer Martins e a cúpula da segurança pública do Estado, anunciou duas medidas para tentar conter a ofensiva do crime organizado.


A Força Nacional foi enviada ainda durante a madrugada e já realiza uma operação ao lado da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal para monitorar as fronteiras do Estado por terra, ar e mar.

Sem detalhar o contingente enviado ou o prazo de duração da operação, o ministro acrescentou que 20 presos foram transferidos de Santa Catarina para presídios federais de segurança máxima.

"Sobre as eleições em específico, conversei ontem com o ministro Dias Tofoli [presidente do Supremo Tribunal Eleitoral] e até o presente momento não há necessidade de envio das Forças Armadas. Caso isto se faça necessário, podemos enviar reforços imediatamente, a qualquer momento”, explicou.

Em entrevista à BBC Brasil, o diretor-geral do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC), Sérgio Martins, disse que os planos foram revistos e que houve alterações.

"Revisamos os planos em vista das atuais circunstâncias, mas até o momento o TRE-SC julga que não há necessidade de reforços federais especificamente para garantir a segurança das eleições. Esperamos que o processo transcorra sem problemas", explica.

Presídios

Acredita-se que os ataques estejam sendo ordenados por líderes do PGC (Primeiro Grupo da Capital), e que as ordens tenham partido de presídios de Santa Catarina e do presídio federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para onde foram levados detentos catarinenses ligados ao grupo no ano passado.

Criminosos comandam ataques de dentro da prisão

Questionado pela imprensa, Cardozo negou a informação divulgada na semana pela Polícia Civil de Santa Catarina sobre Mossoró. O delegado chefe da Polícia Civil também disse que não há evidências suficientes para sustentar os dados divulgados por um de seus delegados.

As autoridades reforçaram que a asfixia às atividades da facção criminosa podem estar por trás da onda de violência.

Quanto às medidas emergenciais para conter a crise, Cardozo disse que além do envio da Força Nacional e da transferência de presos é necessário que Santa Catarina tenha operações de inteligência permanentes.

"Assim como fizemos no Nordeste, com uma operação de inteligência que interligou nove Estados, é possível que façamos no Sul, até o final do ano, um trabalho que ligue a região aos comandos integrados federais em Brasília, aumentando a inteligência de forma permanente", disse.

Susto

Um susto marcou a entrevista coletiva, da qual também participaram o governador em exercício Nelson Schaefer Martins, a cúpula da segurança pública catarinense, a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, e a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvati.


Em meio a uma fala do ministro da Justiça, na qual reiterava que a situação em Santa Catarina estava sob controle, um homem trajando calça jeans e camiseta verde, visivelmente transtornado, dirigiu-se à mesa das autoridades falando em Jesus Cristo e como Deus ajudaria a resolver os problemas do Estado.

Retirado da sala por seguranças, o homem foi identificado pelo comandante-geral da Polícia Militar de Santa Catarina, coronel Valdemir Cabral, como um policial atualmente afastado por problemas mentais, que trabalhava como seu motorista neste sábado.

"É um policial nosso. Ele está fazendo tratamento e tomando remédios, e dirigiu o meu carro até aqui, por isso teve acesso ao prédio do Comando Geral da PM do Estado", explicou Cabral.

Onda de violência

Desde a sexta-feira da semana passada já ocorreram 70 ataques em 28 municípios catarinenses. Um agente penitenciário aposentado foi assassinado e dois suspeitos foram mortos nos confrontos.

As cenas de ônibus queimados por todo o Estado, além dos 19 ataques a casas de agentes da segurança pública e sete ataques a bases policiais deixaram a população assustada.

Esta é a terceira vez que ataques do tipo ocorrem em Santa Catarina em menos de dois anos. Em março do ano passado, casos de tortura num presídio da cidade de Joinville, no norte do Estado, teriam sido o estopim da crise.

Questionado sobre a ocorrência de práticas de tortura nas prisões catarinenses, o ministro da Justiça disse que o número de queixas diminuiu consideravelmente desde 2012, quando uma missão do Ministério veio à Florianópolis por conta da questão, mas que nenhum Estado está isento do problema.