Topo

Onda de violência em SC "foi um alerta dos presos", diz mãe de preso agredido em penitenciária

Janaina Garcia

Do UOL, em São Pedro de Alcântara (SC)

20/11/2012 16h55Atualizada em 20/11/2012 17h01

“É uma falta de humanidade o que acontece lá dentro, moça. Vi meu filho baleado demorar mais de semana para ter atendimento médico. A gente não quer amor e carinho, mas respeito --esses ataques foram o grito de socorro dos presos. Foram um alerta”.

O desabafo é da funcionária pública Leda Metzker, 57, cujo filho de 33 anos é um dos 70 presos agredidos na Penitenciária de Segurança Máxima de São Pedro de Alcântara, na região metropolitana de Florianópolis. A polícia investiga se foi da unidade que partiram as ordens para os ataques a ônibus e prédios de órgãos de segurança desde o último dia 12.

Nesta terça-feira (20), a funcionária pública e outros familiares de presos da unidade reclamaram que há duas semanas as visitas ao presídio estão suspensas. Eles falaram com o ouvidor da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Bruno Renato Teixeira, e com o corregedor-geral de Justiça de Santa Catarina, Alexandre Takashima, que realizaram uma inspeção no presídio ante a suspeita de atos de tortura dias antes do início dos ataques. Ontem, o corregedor disse que uma rebelião e pancadaria em presídio podem ter deflagrado os ataques.

O filho de dona Leda foi condenado por homicídio a 12 anos de reclusão. "Réu primário e com bons antecedentes", ela salientou, ele levou um tiro de bala de borracha na confusão registrada no último dia 7 --investiga-se ainda se era um motim ou briga com funcionários do presídio. “Não vejo meu filho há 15 dias, um dia antes da briga, e só soube do ocorrido porque outros familiares me ligaram. É uma sensação de impotência muito grande”, disse.

Falta de remédios e comida

Outras familiares dos detentos também reclamaram da falta de cuidados médicos e de suprimentos básicos aos presos da unidade.

“Há duas semanas que não me deixam visitar meu marido, que já teve cólica renal duas vezes, nesse tempo, e o presídio me pediu que eu trouxesse [o analgésico] paracetamol. No fim, o ministro tem toda a razão: aquilo lá é uma jaula. Eu bem sei”, disse a cozinheira Natália dos Santos, 23. O marido dela foi condenado a quase 15 anos de prisão por tráfico. O ministro a que ela se refere é José Eduardo Cardozo, da Justiça, que semana passada, em São Paulo, disse que “preferia morrer” a cumprir pena em um presídio brasileiro.

Mãe de três filhos e com o marido condenado até 2028 por tráfico e homicídio, a dona de casa Luciana de Amorim Silva, 31, só conseguiu mandar a ele hoje sacolas de comida. “Visita, mesmo, nem a social, nem a conjugal estão ocorrendo há dias semanas”, definiu.

Egresso do sistema penal de SC, o comerciante Elson Porto, 47, milita com familiares e amigos dos presos de São Pedro de Alcântara para que a “guerra” dentro do presídio, como classifica, tenha fim. Ele cumpriu pena de 12 anos por assalto. “Eu era um especialista em abrir cofres, em desativar alarmes. Mas no presídio, caso você não tenha uma família para trazer um sabonete, nem um banho decente você toma –que tipo de cidadão que sai quando cumpre a pena?”, indagou.