Terremoto no Chile pode 'agravar crise no governo Bachelet'
Assim como Dilma Rousseff, a presidente chilena Michelle Bachelet enfrenta baixos índices de popularidade, problemas com seus aliados e com opositores --após denúncias de irregularidades-- e índice de crescimento econômico do país menor do que o inicialmente projetado.
Nesse cenário, o terremoto registrado na noite de quarta-feira (16) na região norte do país poderia complicar ainda mais o panorama de incertezas, segundo analista ouvido pela BBC Brasil.
"O terremoto ocorre num momento em que o governo não demonstra eficiência e dá respostas lentas aos problemas", disse, em entrevista por e-mail, Ricardo Israel, ex-candidato presidencial e professor de Ciências Políticas da Universidade Autônoma do Chile (UA).
Analistas entrevistados pelo jornal "La Segunda", de Santiago, mostraram opiniões divergentes quanto aos efeitos do desastre natural no delicado momento político de Bachelet. "É uma oportunidade para que ela recupere a empatia com o povo e para que mostre que sua equipe funciona", disse o cientista político Alejandro Olivares, da Universidade do Chile.
"O terremoto não ajuda e a incerteza continua", afirmou o sociólogo Eugenio Guzmán, da Universidade do Desenvolvimento (UDD). O tremor, que deixou 11 mortos, segundo dados oficiais, arrasou regiões costeiras em período de feriado nacional, quando era esperado o aumento do turismo interno.
A semana tinha começado com uma greve que levou ao cancelamento de voos nacionais e internacionais e com polêmicas, como um tuíte do deputado opositor José Antonio Kast especulando sobre a possível renúncia da presidente.
"Com 20% de aprovação, os rumores de que MB (Michelle Bachelet) renuncie antes de que termine 2016 aumentam a cada dia", escreveu para seus quase cem mil seguidores.
A presidente também é alvo de críticas de eleitores nas redes sociais, com frases como "No (Não) a Bachelet". Ela tomou posse no ano passado para seu segundo mandato de quatro anos, que termina em 2018.
Além do carisma
De acordo com pesquisa de opinião do instituto Adimark, de Santiago, divulgada no início de setembro, Bachelet teria, em agosto, 24% de aprovação --a mais baixa desde 2006, quando chegou ao Palácio presidencial de La Moneda pela primeira vez.
Índice semelhante foi divulgado por outro levantamento, o do Centro de Estudios Públicos (CEP), também nos últimos dias, atribuindo à presidente e ao seu governo 22% de aprovação.
Atualmente, segundo a pesquisa do Adimark, os chilenos reprovam tanto a frente governista, a Nueva Mayoría, quanto a opositora Alianza, com mais de 70% de rejeição para cada uma delas. A corrupção e a segurança pública estão entre as maiores preocupações dos chilenos, ainda de acordo com o levantamento.
A socialista Bachelet, de 63 anos, governou o Chile entre 2006 e 2010 e, na opinião Ricardo Israel, "perdeu a confiança dos chilenos" quando seu filho, Sebastián Dávalos, que também era seu assessor na Presidência, foi acusado de tráfico de influência na compra de terras no país.
Dávalos renunciou ao cargo e a presidente promoveu mais de uma reforma ministerial depois que outro de seus homens fortes, o ex-ministro do Interior Rodrigo Peñailillo, também foi acusado de irregularidades.
"O problema é que algo muito profundo quebrou na relação que a presidente tinha com os chilenos, que se baseava mais no carisma dela do que na política em si", diz Israel.
De acordo com o analista, se não fosse pelo carisma, Bachelet talvez não tivesse sido eleita novamente, já que concluiu seu primeiro mandato poucos dias depois do histórico terremoto do dia 27 de fevereiro de 2010.
"Bachelet teve o maior recorde de apoio (entre presidentes) ao deixar a Presidência anterior e, agora, registra a maior rejeição desde o retorno da democracia", afirma.
Vestida de negro, Bachelet falou aos chilenos pela TV na noite de quarta-feira, pouco depois do terremoto. Nesta quinta, ela visitou as regiões afetadas pela tragédia natural.
Quando questionada por um jornalista sobre os recursos limitados que o governo dispõe para a emergência, diante dos atuais problemas econômicos, ela reconheceu a dificuldade, mas disse que todas as vítimas seriam assistidas pelo governo.
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