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'Precisamos de um novo governo Itamar Franco', diz Pedro Simon

O ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) - Geraldo Magela/Agência Senado
O ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Ruth Costas

Em São Paulo

09/12/2015 06h15

Para o ex-senador e líder histórico do PMDB Pedro Simon, 85, um eventual governo do hoje vice-presidente Michel Temer seria uma "reedição" da gestão do seu correligionário Itamar Franco (1992 - 1995).

"No seu governo, Itamar não teve uma crise, um escândalo de corrupção. Ele lançou o real, fez o Brasil mudar", opina.

Itamar era vice-presidente no governo Fernando Collor (PRN) e assumiu o poder após um processo de impeachment. "[Temer] iria governar com todo mundo, teria o mesmo estilo e a mesma forma [de Itamar]", defende Simon, que foi senador pelo PMDB por 24 anos e governador do Rio Grande do Sul (1987-1991).

O ex-senador nega, porém, que Temer seja "oportunista" e que o PMDB esteja se preparando para assumir o poder diante da perspectiva da abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Na segunda-feira, após Dilma fazer declarações cobrando fidelidade de Temer, o vice-presidente lhe enviou uma carta reclamando que foi menosprezado em seu governo e que ele e o PMDB nunca receberam sua confiança. Temer também se queixou sobre a exclusão de nomes ligados a ele de cargos importantes.

"[Temer] se sentiu constrangido e deu uma resposta. Só exagerou um pouco no teor dessa resposta na minha opinião", diz Simon, para quem a carta não representa um "rompimento" com o governo. Abaixo confira alguns trechos da entrevista concedida pelo peemedebista a BBC Brasil

BBC Brasil - A carta de Temer representa um rompimento com o governo?

Pedro Simon - A carta não é um rompimento. Tem um estilo forte porque a maneira pela qual a Dilma provocou o assunto foi sem grandeza, como se ela estivesse dando uma ordem, constrangendo o vice-presidente. Ele se sentiu constrangido e deu uma resposta. Só exagerou um pouco no teor dessa resposta na minha opinião. Podia ter sido ser mais ameno. Mas tudo que disse é verdade, não inventou nada. Aproveitou o momento e fez essa análise completa (da participação do PMDB no governo).

BBC Brasil - O vice-presidente e o PMDB não podem passar por oportunistas?

Simon - Alguém de fato pode achar que o PMDB está sendo oportunista, mas o partido está fazendo o que tinha de fazer, precisava responder. O que o Temer disse [na carta] é que agiu o tempo todo ao lado do governo, ajudou, colaborou, mas nunca foi chamado para decidir. Não teve nenhuma decisão importante na qual o PMDB esteve presente. É claro que o momento em que o Temer está fazendo essas críticas faz com que fique em uma posição delicada. Meio que dá margem para essas acusações de que ele está se colocando à disposição, que está esperando para subir (para a presidência). Mas não foi oportunismo.

BBC Brasil - O timing foi errado?

Simon - O momento quem definiu foi a presidente Dilma, ao fazer as declarações cobrando [fidelidade de] Temer. Ele teve de responder.

BBC Brasil - O PMDB está se preparando para assumir o governo?
 

Simon - Que eu saiba não. O que fez foi publicar uma ideia [o documento "Uma Ponte Para o Futuro"] assim como a Dilma tinha feito, o PT fez. Fez uma proposta de entendimento nacional.

BBC Brasil - Como seria um eventual governo Temer?

Simon - Lá atrás, quando [a crise] começou a pegar ritmo, eu insisti para a presidente Dilma que ela tinha de estabelecer um grande entendimento nacional, um governo de reconciliação, fazer o que o Itamar Franco fez após o impeachment do Fernando Collor. No seu governo, Itamar não teve uma crise, um escândalo de corrupção. Ele lançou o real, fez o Brasil mudar. O governo Temer seria a reprodução do governo Itamar. Ele iria governar com todo mundo, teria o mesmo estilo e a mesma forma. O PMDB não poderia governar sozinho. Teria de ser um governo de entendimento - com todos, oposição e governo, inclusive com o PT, apesar de que com o PT pode ser difícil. Quando o Itamar assumiu, o PT não quis participar. Votou contra o Plano Real, inclusive. Mas, justiça seja feita, também não criou grandes problemas. Na época, o PT achava que o governo ia desandar, ia pro beleléu, mas errou feio. O Fernando Henrique Cardoso participou, foi ministro e ganhou com isso. No atual momento, se o PT quiser fazer oposição vai ser ainda mais complicado depois desse governo desastroso. Não sei que tipo de oposição poderá fazer.

BBC Brasil - Hoje é possível um governo de entendimento com Dilma?

Simon - Sempre achei que esse governo de entendimento poderia ser feito com Dilma. Hoje, já não sei. O PT está sendo tão radical, não sei se a liberaria para fazer isso. E o que a Dilma está fazendo? Voltou ao troca-troca, ao toma lá da cá para conseguir votos [no Congresso].

BBC Brasil - Como o PMDB controlaria as contas públicas? Alguns economistas defendem que seriam necessárias "medidas impopulares", como aumentos de impostos e cortes de gastos.

Simon - Se for um governo de entendimento em que todos estiverem participando há condições para se aprovar essas medidas impopulares, porque todos vão estar de acordo.

BBC Brasil - O senhor é a favor do cancelamento do recesso parlamentar para que o impeachment seja votado rapidamente? Parte do PMDB é contra.

Simon - Acho que não dá para deixar (o processo) esfriar, mas também não dá para votar tudo correndo, só para deixar tudo como está. Você precisa saber o que está votando. [O ideal é] nem tão correndo que pareça que estamos medo, nem tão devagar que pareça provocação. O bom seria em março começarmos o ano com um governo constituído. Com uma certeza [sobre quem estará no Executivo].

BBC Brasil - O senhor é contra ou a favor do processo de impeachment?

Simon - O governo vive uma situação muito grave em função dos grandes escândalos de corrupção: o mensalão e, agora, a Lava Jato. Agora, esse pedido de impeachment está baseado na decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que rejeitou as contas da presidente (de 2014). O TCU é um órgão auxiliar do Congresso Nacional. Sua decisão não é definitiva - pode ser aprovada ou rejeitada pelo Congresso. Além disso, é frequente que os técnicos do TCU recomendem a rejeição das contas de um governo. O que acontece é que [os ministros do] TCU, [agindo] politicamente, no geral aceitam essas críticas, mas em vez de rejeitarem [as contas definitivamente] votam por sua aprovação "com restrições". Sempre foi assim. E, em parte por isso, essa decisão não mobiliza o povo como a questão da corrupção. Essas investigações [sobre corrupção] se aproximam cada vez mais do [ex-presidente] Lula e da Dilma e acho que é isso que, em algum momento, poderia levar ao impeachment. Isso seria uma votação muito mais segura. Mobilizaria mais a opinião pública. Hoje a rejeição ao governo Dilma é de 70%, 80%. O povo é imensamente favorável [ao impeachment]. Mas a questão das contas é [vista como] menor, mais tímida.

BBC Brasil - Mas o senhor é a favor ou contra esse processo nas atuais condições?

Simon - Sou a favor que se faça uma análise com profundidade [dos fatos que poderiam justificar uma saída de Dilma] no momento exato. E não algo correndo, justificando [o processo] de qualquer maneira. Acho que nessas condições [um impeachment] não seria o ideal. Deveriam pressionar mais para uma saída com base nesses casos de corrupção revelados pela Lava Jato.

BBC Brasil - Mas até agora não há indícios que impliquem diretamente a presidente [nesses escândalos].

Simon - Nesse longo período em que esses fatos [esquemas de corrupção] ocorreram na Petrobras, Dilma foi ministra de Minas e Energia, que tem responsabilidade pela estatal, presidente do conselho da empresa, como chefe da Casa Civil, e presidente da República.

BBC Brasil - A abertura do processo de impeachment foi uma vingança de Eduardo Cunha?

Simon - Quem abriu o processo foi um fundador do PT [o jurista Hélio Bicudo - ele diz que não fundou o PT, apenas foi filiado]. O Cunha pode estar movimentando [o processo] como uma forma de autodefesa, digamos, mas isso não tira seu valor.