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Em ato com menor adesão em SP, grupos anti-PT também miram Cunha

Ricardo Senra - @ricksenra

Da BBC Brasil em São Paulo

13/12/2015 21h03

A manifestação contra o governo federal realizada nesde domingo, em São Paulo, reuniu, segundo o instituto Datafolha, 40,3 mil pessoas - número inferior aos registrados em agosto (135 mil), abril (100 mil) e março (210 mil).

Mas a principal novidade no protesto da avenida Paulista foram as críticas abertas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por manifestantes, políticos e organizadores do protesto.

Se nos últimos atos o peemedebista foi poupado pelas lideranças de grupos anti-PT e partidos de oposição, neste o tom foi mais enfático. "Nunca fui aliado de Eduardo Cunha", disse à BBC Brasil Kim Kataguiri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, que defende ideias liberais como o empreendedorismo e modelos privados de saúde e educação.

Questionado sobre a foto que tirou ao lado do presidente da Câmara, sob um cartaz que dizia "Um Brasil livre da corrupção", Kataguiri afirmou: "Pedi o impeachment (de Dilma) a ele, porque ele é o presidente da Câmera dos Deputados, é a função institucional dele"

"Se fosse Lula o presidente da Câmara, eu teria protocolado com ele", completou, próximo à área climatizada que recebia convidados em seu carro de som.

Os nomes mais citados na aglomeração em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), entretanto, ainda eram os de Dilma e Lula, a exemplo do ocorreu nas últimas três grandes manifestações realizadas neste ano.

"As ruas são uma bola de neve, elas só aumentam e só aumenta a pressão nos parlamentares para que eles votem a favor do impeachment da presidente", disse Kataguiri.

'Limpidez'

Do alto do trio elétrico do Vem Pra Rua, o empresário Rogério Chequer mostrava à reportagem a multidão de verde e amarelo que segurava faixas, bonecos infláveis com os rostos de Lula e Dilma (o preço nas calçadas variava de R$ 10 a R$ 20) e balões amarelos distribuídos pela Fiesp (Fundação das Indústrias do Estado de SãoPaulo), com os dizeres "Não vamos pagar o pato".

Pelo Facebook, seu movimento Vem Pra Rua também criticou Cunha. "Chega de Eduardo Cunha pra que o processo de impeachment possa correr com limpidez."

À BBC Brasil, Chequer adiantou a data do próximo ato. "13 de março, deve coincidir para acontecer antes da votação final do impeachment no Congresso", disse. Com recesso e Carnaval, acreditamos que o calendário politico será arrastado até março."

Lá embaixo, tirando selfies com dezenas de pessoas, o senador e vice-presidente do PSDB Aloysio Nunes acenava e comentava com um amigo: "Olha lá o Chequer, olha ele lá."

Nunes também conversou com a reportagem. "Eu acho que o Eduardo Cunha mentiu numa comissão de inquérito e merece ser cassado, agora, a Dilma mentiu para o povo brasileiro, de maneira escancarada", disse.

Eduardo Cunha é investigado por ter contas bancárias, atribuidas a seu nome e ao de sua esposa, a jornalista Claudia Cruz, na Suiça. Nos últimos anos, segundo as investigações, as contas receberam depósitos de US$ 4,8 milhões e de 1,3 milhões de francos suíços, equivalentes hoje a mais de R$ 23 milhões.

O presidente da Câmara, que afirmou na CPI da Petrobras, em março, que não possuía contas no exterior, alega que a afirmação procede, já que seria apenas o beneficiário dos recursos depositados na Suíça e não o titular das contas.

Ele nega alegações de corrupção e afirma que o dinheiro é fruto da venda de enlatados, como carne, para países africanos, nos anos 1990.

Em seu próprio carro de som, o ator Alexandre Frota também citou o deputado. "Acho que o Cunha está eletrocutado e ele pensou: 'eu vou afundar no barco e vou afundar todo mundo junto comigo'."

Pelo Brasil

Também segundo o Datafolha, o número de manfestantes em capitais como Rio de Janeiro (5 mil), Brasília (7 mil) e Curitiba (10 mil) "não chegou a um quarto do registrado nos atos de agosto".

Pelo menos cem cidades do país foram palco de protestos pelo impeachment da presidente.

"Era para ser só uma sinalização de que a gente esta voltando às ruas, de que a população esta começando a se atentar para o início do processo de impeachment, mas acabou sendo maior", disse Kim Kataguiri, em São Paulo.

Rogério Chequer afirmou que o "comparecimento de pessoas esta muito em linha " com o que imaginava".

"Foram menos de 10 dias para divulgação e a gente continua vendo que a população não aguenta mais esse governo e quando mobilizada vai continuar aparecendo."