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Martelada nos pés e estrangulamento dos testículos: como são algumas das perigosas técnicas de doping de paratletas

11/09/2016 18h46

Quebrar um dos dedos do próprio pé, sentar em um objeto pontiagudo ou estrangular os testículos?

Isto tudo parece absurdo, mas alguns dos cientistas que controlarão os paratletas nos Jogos Paralímpicos afirmam que um terço dos competidores com lesões na medula podem chegar a se machucar para melhorar o desempenho.

A prática é chamada de boosting ("empurrão" ou "estímulo" em tradução livre) e visa aumentar a pressão sanguínea e o ritmo cardíaco para melhorar a performance do paratleta.

O boosting está proibido pelo Comitê Paralímpico Internacional (CPI) mas alguns pesquisadores acreditam que há paratletas que ainda recorrem a esta técnica para obter melhores resultados.

Para entender o boosting é preciso começar com um atleta sem nenhum tipo de deficiência: quando este atleta começa uma atividade física exigente como correr ou nadar, sua pressão sanguínea e seu ritmo cardíaco aumentam automaticamente. Mas atletas com lesões na coluna não conseguem esta resposta de forma automática.

O boosting, então, funciona como um atalho para conseguir mais pressão sanguínea e melhorar o desempenho que o acompanha.

Em termos médicos, a prática é definida como uma indução deliberada e uma perigosa condição comum aos tetraplégicos chamada disreflexia autonômica. Muitas atividades cotidianas que causam mal-estar, incluindo algo tão comum como uma queimadura de sol, podem desencadear esta condição de forma natural.

No entanto, segundo o Comitê Paralímpico Internacional, a disreflexia autonômica pode causar um ataque cardíaco, hemorragia cerebral e até a morte.

O CPI proíbe que os paratletas participem de competições neste perigoso estado de disreflexia. Qualquer tentativa de induzir a disreflexia está proibida e o atleta será desqualificado para a competição.

E é considerado perigoso quando a pressão sistólica de uma pessoa está em 160 mm Hg (milímetros de mercúrio) ou mais.

Um médico do CPI pode realizar exames nos atletas a qualquer momento para detectar se eles induziram a disreflexia.

Métodos

Existem algumas formas comuns de praticar o boosting.

Uma delas é sentar em uma tachinha. Outra é apertar as pernas com uma correia ou cinto.

Alguns paratletas até relataram o uso de choques nas pernas ou nos dedos dos pés. Ainda nos pés, há outros que acertam golpes ou quebram um dos dedos.

Também há a alternativa de trincar ou quebrar um osso.

Em alguns casos o paratleta dobra ou senta-se em cima do saco escrotal, para estrangular os testículos.

Outros ainda enchem a bexiga com a ajuda de um cateter.

História

O CPI sabe desta prática há muitos anos e proibiu o boosting desde 1994.

Um estudo realizado pelo comitê durante os Jogos Paralímpicos de Pequim mostrou que cerca de 17% dos entrevistados admitiram ter usado o boosting pelo menos uma vez.

A pergunta feita em Pequim foi: "Alguma vez você induziu intencionalmente uma disreflexia autonômica para melhorar seu desempenho durante seu treinamento ou em uma competição?".

A amostra foi pequena, mas dos 60 paratletas entrevistados, dez (16,7%) responderam que sim, enquanto que 50 (83,3%) negaram.

Mas alguns especialistas afirmam que o número real pode ser maior e chegar até aos 30% dos paratletas.

Na pesquisa feita nos jogos de 2008 todas as respostas positivas foram de paratletas masculinos, a maioria competidores do rúgbi em cadeiras de rodas (55,5%), seguidos pelos maratonistas em cadeiras de rodas (22,2%) e corredores de provas de longa distância (22,2%).

Alguns médicos alertam que muitos atletas com lesões na coluna têm pressão baixa, mas existe muita variação entre uma pessoa e outra.

Levando este fato em conta, alguns dos paratletas estariam em uma situação de desvantagem e o boosting os ajudaria a chegar a um equilíbrio.

No entanto o CPI rejeita esta ideia e insiste que a prática é inaceitável e perigosa.