Por que time novato que briga pelo titulo se tornou equipe mais odiada da Alemanha
Nos últimos anos, o futebol alemão não registrou muitos casos de violência de torcedores, daí a certa surpresa quando houve tumultos antes da partida entre Borússia Dortmund e RB Leipzig, no último sábado.
Mas essa confusão teve um perfil diferente, simbolizado por uma faixa aberta pelos torcedores do Borússia no estádio, dizendo "Matem os touros" - uma alusão à controvérsia criada pela rápida ascensão do Leipzig no Campeonato Alemão - a Bundesliga.
Fundado apenas em 2009, a equipe disputa a Primeira Divisão pela primeira vez e, após a rodada do último fim de semana, está apenas atrás do poderoso Bayern de Munique na classificação.
O que incomoda os torcedores adversários não é especificamente o sucesso do time em campo, mas a estrutura da equipe. O RB Leipzig é o resultado de um investimento maciço da Red Bull, a empresa austríaca que fabrica a bebida energética de mesmo nome - e cujas vendas anuais ultrapassam US$ 5 bilhões (ou 5,6 bilhões de latinhas).
É raro ver empresas donas de clubes no futebol alemão. Na verdade, os regulamentos do esporte no país proíbem que uma empresa assuma mais do que 49% do controle de uma agremiação, algo que torcedores, clubes e mídia consideram uma medida que evita uma "invasão" de empresas e bilionários do esporte no país.
A exceção é quando uma empresa tem mais de 20 anos de ligação com um clube, como é o caso da Volkswagen com o Wolfsburg e da gigante química Bayer com o Bayer Leverkussen.
E os clubes oferecem grande poder de voto a seus sócios, o que inclui o direito de opinar em decisões sobre preços de ingressos.
A Red Bull é acusada de driblar as regras através da cobrança de preços altos para títulos de sócio com direitos de voto - o Leipzig tem apenas 17, em comparação de dezenas de milhares de um clube como o Borússia, por exemplo.
Seus críticos ficam ainda mais em polvorosa quando se discute o nome da equipe: oficialmente, o RB no nome do Leipzig é uma abreviatura da palavra rasenballsport, que em alemão significa "esporte com bola jogado sobre a grama". Mas que é também - coincidentemente ou não - alusivo ao nome da Red Bull.
Existe um temor de que o RB seja apenas o primeiro de muitos casos em que a regra será burlada.
Ódio
Não são apenas os torcedores rivais que dirigem ódio ao RB Leipzig.
O tabloide Berliner Kurier, por exemplo, sustituiu o nome do clube no mês passado quando publicou uma tabela da Bundesliga. A equipe foi "rebatizada" de Dosenverkauf (vendedores de latinhas, em tradução livre), em alusão ao vasilhame dos energéticos Red Bull.
Em uma partida da Copa da Alemanha contra o Dínamo Dresden, torcedores adversários atiraram perto do gramado uma cabeça de boi - o Dínamo foi multado em cerca de R$ 208,7 mil.
O RBL ganhou o título informal de "equipe mais odiada da Alemanha", que normalmente era usado para descrever a antipatia despertada pelo Bayern de Munique - por causa da mistura de sucesso e política agressiva de compra de jogadores.
"Este clube foi fundado com objetivos de apenas aumentar as receitas da Red Bull, nada mais", afirma o presidente do Borússia, Hans-Joachim Watzke.
Outro crítico é o blogueiro Andreas Bischof, que se especializou em ironizar o RB Leipzig.
Ele diz que o clube é meramente uma estratégia de marketing.
"É uma nova maneira de usar o esporte como um veículo de marketing."
Não se trata de um caso único. A Red Bull tem outros times ao redor do mundo, inclusive um no Brasil, fundado em 2007 e sediado em Campinas (SP) - disputa a primeira divisão do Campeonato Paulista.
Mas nenhum provocou a mesma controvérsia que a da equipe sediada na cidade da antiga Alemanha Oriental. E cuja ascensão à divisão de elite do futebol alemão levou pela primeira vez desde 2009 um clube da região à Bundesliga.
E é o que defensores do projeto alegam: Leipzig e adjacências podem se beneficiar do sucesso do time. A cidade, apesar de há décadas não contar com uma equipe competitiva, foi uma das sedes da Copa do Mundo de 2006, e a única "ex-oriental" a fazê-lo.
"O futebol é um negócio que demanda grandes quantias de dinheiro. E aqui temos alguém que se envolveu e ajudou o esporte a atingir o mesmo padrão do oeste em uma área da sociedade que é importante", diz o jornalista Martin Machowecz, do jornal semanal Die Zeit.
Tradição
Leipzig tem importância na história esportiva alemã por outros motivos.
Foi em uma reunião na cidade que a Federação Alemã de Futebol foi fundada, em janeiro de 1900. E um time da cidade, o Vfb Leipzig, foi o primeiro campeão alemão. E, em 1987, quase no apagar das luzes da Alemanha Oriental, o Lokomotive Leipzig chegou à final da Recopa, uma antiga competição continental.
Uma das partidas semifinais da competição foi disputada no antigo Zentralstadion, construído em meio às ruínas da Segunda Guerra Mundial, em 1950.
Remodelado para o Mundial de 2006, o estádio é hoje oficialmente conhecido como Red Bull Arena - na Alemanha, vários estádios são "batizados" com nomes de empresas.
Ascensão
Até o ano de 2012, o RB estava na quarta divisão. O mesmo ano, porém, marcou a chegada de Ralf Rangnick a cargo de diretor de futebol. A partir daí, o clube subiu de escalão três vezes em quatro temporadas.
A chave para o sucesso foi o investimento em juventude.
Ragnick investe em jogadores jovens, em especial os que nunca tiveram um contrato profissional. Não por acaso, o elenco do RFL é o mais jovem da Bundesliga, com média de idade de 23 anos.
Além de obter jogadores mais baratos, essa abordagem tem como objetivo montar um elenco com atletas "famintos" por sucesso.
Isso se alia a uma "mentalidade de enxame": o Leipzig joga com um ritmo e marcação fortes, pressionando a saída de bola do adversário. "Mesmo que você seja o melhor jogador do mundo, vai perder a bola se for atacado por três adversários", diz o dirigente.
Rangnick também defende o modelo de gestão do clube. "Para que precisamos de sócios? Estou mais preocupado é com quanta gente vem torcer para o time", diz ele.
E o RBL tem uma média de 42 mil pessoas assistindo aos jogos do time em seu estádio, estatística impressionante até para os padrões do futebol europeu.
O dirigente dá de ombros em relação às críticas sobre o uso do time como veículo promocional para a Red Bull.
"Não tem a mínima importância para o que fazemos aqui."
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