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Morte de cientista e série de ataques abalam Malibu, lar de estrelas de Hollywood

Malibu é famosa por suas praias, montanhas e mansões de estrelas de Hollywood: "Sempre foi uma cidade pacata", diz moradora - Getty Images via BBC
Malibu é famosa por suas praias, montanhas e mansões de estrelas de Hollywood: "Sempre foi uma cidade pacata", diz moradora Imagem: Getty Images via BBC

Alessandra Corrêa

De Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil

24/08/2018 08h09

A misteriosa morte de um cientista e uma série de ataques semelhantes ainda sem solução vêm abalando a rotina dos moradores de Malibu, comunidade nos arredores de Los Angeles famosa por suas praias, montanhas e mansões de estrelas de Hollywood.

O crime que chocou a região ocorreu há pouco mais de dois meses. Tristan Beaudette, um cientista da indústria farmacêutica de 35 anos, acampava no parque estadual de Malibu Creek com suas duas filhas, de dois e quatro anos de idade, quando foi morto a tiros dentro de sua barraca na madrugada de 22 de junho. As duas crianças também dormiam na barraca, mas não foram atingidas, segundo a polícia.

Campista experiente e praticante de esportes ao ar livre, Beaudette havia levado as filhas para acampar enquanto sua mulher, a médica Erica Wu, estudava para um teste na manhã seguinte. Outros familiares também acampavam no local.

"Nós nos conhecemos quando éramos adolescentes, crescemos juntos, casamos e tivemos duas filhas maravilhosas", disse Erica em uma declaração dias depois da morte do marido. "Tristan adorava compartilhar seu amor pela natureza com as meninas e acreditava que esses locais de acampamento eram a definição de um santuário onde as pessoas podiam se sentir seguras."

O parque onde o crime ocorreu, a cerca de 40 km de Los Angeles, é conhecido por seus cânions e popular com turistas e campistas. Segundo o departamento de parques da Califórnia, o local recebe mais de 300 mil visitantes por ano.

Desde a morte de Beaudette, a área de camping no parque permanece fechada enquanto as investigações estão em curso. "A segurança dos visitantes do parque é nossa prioridade", disse o departamento em comunicado.

Tristan, a mulher, Erica, e as filhas; 'Esses locais de acampamento (para ele) eram a definição de um santuário onde as pessoas podiam se sentir seguras', diz Erica - GoFundMe via BBC - GoFundMe via BBC
Tristan, a mulher, Erica, e as filhas; 'Esses locais de acampamento (para ele) eram a definição de um santuário onde as pessoas podiam se sentir seguras', diz Erica
Imagem: GoFundMe via BBC

Rotina alterada

Mas a medida não foi o suficiente para tranquilizar os moradores de Malibu. A ansiedade provocada pelo crime em uma comunidade geralmente pacata foi agravada pela descoberta de que, antes da morte de Beaudette, pelo menos sete outros casos com disparos de arma de fogo haviam sido registrados nos arredores do parque desde 2016.

Apesar de nenhum dos incidentes anteriores ter deixado vítimas fatais, os moradores se dizem frustrados por não terem sido informados pela polícia.

"Se Tristan Beaudette soubesse desses incidentes, ele provavelmente não teria decidido acampar no parque", disse à BBC News Brasil a editora-chefe do site The Voices of Malibu (As Vozes de Malibu), Cece Woods.

"Malibu sempre foi uma cidade pacata e rural. Sei que é descrita como glamourosa, mas na verdade as pessoas que vivem aqui são surfistas, artistas, pessoas criativas que apreciam um estilo de vida calmo", observa Woods, ao comentar como o crime alterou a rotina dos moradores.

"Nos faz pensar duas vezes sobre como levamos nossas vidas. Agora temos de trancar as portas, temos de nos preocupar se há alguém lá fora que quer nos ferir. E as pessoas que vivem aqui não estão acostumadas a isso", afirma.

Investigação

O primeiro episódio foi registrado em novembro de 2016, em um parque vizinho, onde um homem que dormia em uma rede foi atingido no braço com munição de espingarda de caça. Em dois incidentes posteriores, tiros foram disparados contra carros estacionados na área de camping do parque Malibu Creek enquanto pessoas dormiam dentro dos veículos. Ninguém ficou ferido.

"Eu quase fui atingida, mas por sorte escapei", relatou a campista Meliss Tatangelo, uma das vítimas, em um post no Facebook. "Quando a polícia chegou (depois de duas horas), eles me disseram que 'esse tipo de coisa não acontece aqui'."

Houve ainda pelo menos quatro episódios em que veículos que trafegavam pelos arredores do parque foram atingidos por tiros.

A profusão de relatos aumenta o temor entre os moradores de que os ataques tenham sido perpetrados pelo mesmo criminoso. A polícia não divulga pistas nem suspeitos da morte de Beaudette e diz que não há comprovação de que haja relação com os episódios anteriores, mas a possibilidade está sendo investigada.

"Não há novas informações nem qualquer evidência que relacione o assassinato a incidentes anteriores. Mas estamos investigando ativamente a possibilidade de que alguns dos incidentes anteriores estejam ligados ao assassinato", disse à BBC News Brasil o porta-voz do Los Angeles County Sheriff's Department, departamento de polícia responsável pela investigação, Armando Viera Jr.

Frustração

Novos incidentes envolvendo disparos continuam a ser relatados. Recentemente, dois corpos foram encontrados na região, mas segundo a polícia esses casos estão relacionados a disputas entre gangues e não têm ligação com a morte de Beaudette.

Apesar de uma recompensa de US$ 30 mil (cerca de R$ 123 mil) para quem fornecer informações que levem à captura do responsável pelo crime, o assassinato de Beaudette continua sem solução.

No último fim de semana, os moradores de Malibu expressaram sua frustração em uma reunião com policiais e políticos locais.

"As pessoas estão muito insatisfeitas", ressalta Cece Woods, lembrando que muitas informações circulam em redes sociais e veículos de notícias, mas são ignoradas pela polícia.

"Eles têm suas razões para não divulgar informações que podem comprometer as investigações, eu compreendo totalmente. Mas há muito que eles poderiam esclarecer com base em informações que já foram relatadas, e isso poderia tranquilizar os moradores."