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Alma gêmea ou amor pragmático? Como medir o impacto das crenças nos relacionamentos

William Park - BBC Future

31/03/2019 18h25

Acreditar no amor verdadeiro pode deixá-lo cego tanto para o bem quanto para o mal, com resultados às vezes tóxicos para o seu relacionamento.

Você já confidenciou seus problemas conjugais a seus amigos e ouviu deles que não valeria a pena se preocupar? Ou viu alguém do seu círculo social entrar em um relacionamento que, na sua visão, está fadado ao fracasso?

Os psicólogos descobriram duas escalas que influenciam a forma como iniciamos e mantemos relacionamentos.

Uma delas mede a importância que atribuímos às primeiras impressões e aos primeiros sinais de compatibilidade; a outra mira a probabilidade de lidarmos com problemas nos relacionamentos. Elas são chamadas teorias implícitas de relacionamentos (porque não costumamos falar sobre elas).

Podemos intuitivamente pensar em nós mesmos como mais ou menos propensos a acreditar no amor verdadeiro - mas isso não é algo que discutimos abertamente com os outros ou de que estamos conscientes quando começamos novos relacionamentos.

Juntas, essas duas escalas podem revelar se estamos mais propensos a evitar falar sobre problemas com nossos parceiros, procurar falhas onde elas podem não existir e desaparecer sem dar explicações (do inglês 'ghosting'). Diferenças nessas atitudes implícitas também podem nos ajudar a entender as razões pelas quais as escolhas conjugais dos outros muitas vezes parecem inexplicáveis para nós.

Para descobrir como você se situa nessas escalas, pode testar as duas avaliações abaixo.

A escala da 'alma gêmea'

Responda às seguintes perguntas com números que vão de 1 a 7 - em que 1 significa "discordo completamente" e 7, "concordo completamente".

1. O sucesso de uma relação conjugal depende de as pessoas "serem feitas uma para a outra".

2. Existe alguém nesse mundo que é perfeito (ou quase perfeito) para mim.

3. Nos casamentos, muitas pessoas descobrem (em vez de constroem) uma profunda e íntima conexão com seu cônjuge.

4. É extremamente importante que eu e meu cônjuge estejamos apaixonados um pelo outro depois de nos casarmos.

5. Não poderia casar com alguém a menos que estivesse apaixonado por ele(a).

6. Não existe tal coisa como "homem certo" ou "mulher certa".

7. Espero que meu futuro marido (ou esposa) seja a pessoa mais incrível que já conheci.

8. Pessoas que estão procurando um par perfeito estão perdendo seu tempo.

9. A razão pela qual a maioria dos casamentos fracassa é que as pessoas não são feitas uma para a outra.

10. Os vínculos entre as pessoas geralmente existem antes de você conhecê-las.

Vamos à pontuação. Primeiro, some os números das perguntas 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10.

Para as perguntas 6 e 8, subtraia o valor por 8 e use o novo número como sua resposta, independentemente se ele é negativo. Por exemplo, se você respondeu "6", sua resposta será 2 (6-8=-2).

Some todos os números e divida o total por 10 para obter sua média nessa escala.

A escala do pragmatismo

Responda às seguintes perguntas com números que vão de 1 a 7 - em que 1 significa "discordo completamente" e 7, "concordo completamente".

1. O sucesso de uma relação conjugal depende principalmente de quanto as pessoas tentam fazer o relacionamento funcionar.

2. No casamento, o esforço é mais importante do que a compatibilidade.

3. Em um relacionamento, o amor cresce (em vez de o amor é encontrado).

4. Se as pessoas simplesmente fizessem esforço, a maioria dos casamentos daria certo.

5. Poderia ser feliz casado com a maioria das pessoas, se elas fossem razoáveis.

6. A razão pela qual a maioria dos casamentos fracassa é que as pessoas não se esforçam.

7. Quão bem você conhece alguém depende de quanto tempo você o(a) conhece.

8. Se tivesse que casar com uma pessoa aleatória, ficaria satisfeito.

9. Só com o tempo você pode realmente aprender sobre seu cônjuge.

Para descobrir sua pontuação, some suas respostas e divida por 9.

As perguntas desse quiz foram extraídas do Questionário de Teorias do Relacionamento usado por Renae Franiuk, da Universidade de Aurora, no Estado americano de Illinois, em sua pesquisa sobre teorias implícitas e satisfação e longevidade dos relacionamentos.

Franiuk usa 'Alma Gêmea' e 'Pragmatismo' para descrever as duas escalas. Outros pesquisadores usam "destino" e "crescimento" para descrever escalas semelhantes.

Análise dos resultados

Se você teve uma pontuação alta quanto à crença em sua alma gêmea e se surpreendeu com isso, não se desespere. Você não é o único. "As pessoas têm uma tendência a pensar que serão do tipo 'pragmáticas', mas vemos que muitas ainda acreditam em sua 'alma gêmea'", afirmou Franiuk.

"Quando ouvimos falar sobre essas teorias, muitos de nós torcem o nariz para o conceito de 'alma gêmea' porque soa pouco científico. Mas, na verdade, se trata apenas de um termo. Poderíamos chamar de algo diferente para descrever quem se identifica com essas crenças românticas. Não surpreende que queremos acreditar nessas ideias, uma vez que nossa cultura ocidental nos pressiona nesse sentido."

Agora que você já sabe o quanto pontuou, o que você deve fazer?

Quando os relacionamentos estão passando por um período difícil, as pessoas que têm uma pontuação alta nas escalas de crescimento geralmente se saem melhor.

A existência de um problema pode melhorar a força do relacionamento; os casais que têm uma pontuação alta nas escalas de crescimento, na verdade, relatam sentir-se melhor sobre seu relacionamento depois de resolver um conflito. Para essas pessoas, pode ser necessário que problemas pequenos, relativamente sem muita importância, surjam para mantê-las focadas em evoluir juntas. Ou seja, quanto mais esforço o casal fizer nesse sentido, mais comprometidos eles vão se sentir. Moral da história: eles adoram um desafio.

Por essas razões, aqueles que pensam dessa forma vão ignorar grandes diferenças de compatibilidade - esta, para eles, vem com o tempo, e é nisso que eles devem trabalhar juntos.

O oposto é verdadeiro para quem acredita fortemente no destino, com algumas consequências potencialmente tóxicas.

'Nem tão perfeita assim'

Em especial nos estágios iniciais de um relacionamento, a presença de um problema pode precipitar um rompimento, já que quem acredita no destino se dá conta de que sua alma gêmea "perfeita" não é tão perfeita assim. Os defensores dessa ideia podem argumentar que seu cônjuge "nunca realmente me entendeu" ou que uma pequena falha é "uma prova de que não somos realmente compatíveis". Isso é o que acontece mesmo que o casal seja relativamente compatível, diz Franiuk.

Pior ainda, eles tendem a terminar o relacionamento de uma forma mais brutal. As pessoas que acreditam no amor verdadeiro são mais propensas a "desaparecer sem dar explicações" - evitando contato até que o cônjuge desista de procurá-las.

Talvez porque quem faz isso não sinta que valha a pena o esforço. Afinal, acredita que o cônjuge não é ideal. Tampouco vê o benefício de fornecer feedback. "Eles não veem isso como algo negativo", diz Gili Freedman, psicóloga do St. Mary's College, no Estado americano de Maryland, que estuda a rejeição social.

"A pontuação na escala de crescimento tem um efeito menor em geral. Por outro lado, uma pontuação alta para o crescimento significa que você tende a ver o 'ghosting' como algo realmente negativo".

Essas pessoas também ignoram conflitos com mais facilidade. Isso porque têm a certeza de que encontraram o amor verdadeiro.

"Quem acredita no destino tende a ser mais tolerante com o cônjuge e mais propenso a evitar uma briga porque quer acreditar que essa pessoa é sua alma gêmea", diz Franiuk. Isso pode ser positivo para pequenas divergências. "Mas se você evita grandes conflitos, acaba ficando com alguém que não é bom para você."

As pessoas não mudam?

E as consequências podem ser extremamente sérias. Aqueles que acreditam no destino e estão juntos há mais tempo tendem a desmerecer problemas. Afinal, partem do pressuposto de que eles e seus cônjuges são mais compatíveis por causa da quantidade de tempo que passaram juntos.

"Descobrimos que, quanto mais os defensores da alma gêmea insistem em uma relação amorosa apenas porque acreditam ter encontrado a pessoa certa, mais relatam violência", diz Franiuk. "Eles minimizam relacionamentos problemáticos. Alguns podem até ver sinais de alerta antecipadamente e terminar. Outros sabem que estão em um relacionamento com a pessoa errada, mas, por razões econômicas, decidem continuar com o cônjuge. E, porque acreditam no destino, acabam ficando mais tolerantes, o que os coloca em situações de perigo".

Os especialistas também dizem que é difícil mudar. Ou seja, se você acredita em alma gêmea desde cedo, provavelmente não vai mudar de opinião ao longo da vida.

"Essas teorias são profundamente embasadas. Aos 20 e 30 anos, nossas personalidades já estão bastante estáveis. E tal qual a personalidade, a construção de relacionamentos é desenvolvida desde cedo - as crianças formam essas ideias com base nas relações que as cercam", diz Franiuk.

Mas as duas teorias não são excludentes.

"Você pode acreditar que os relacionamentos melhoram quando os casais fazem um esforço conjunto, mas (ainda acredita) que existe a pessoa 'certa' para você", diz Freedman.

"Poucas pessoas discordam da ideia de que seja possível evoluir juntos num relacionamento. E ainda podemos alterar as maneiras pelas quais expressamos essas crenças. Esperamos que experiências passadas moldem a maneira como lidamos com novos relacionamentos".

Dessa forma, não é porque você acredita na alma gêmea que vai terminar seus relacionamentos desaparecendo sem dar explicações. Ou mesmo evitar fazer qualquer esforço, porque acredita que você e seu cônjuge não são compatíveis.

Por essa razão, dizem os especialistas, uma maior conscientização das nossas próprias tendências românticas pode nos ajudar a navegar pelos obstáculos inerentes às nossas conexões amorosas.

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