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Por que a tensão entre EUA e Irã no Estreito de Ormuz pode fazer disparar o preço do petróleo

13.jun.2019 - Fumaça teria sido vista saindo do petroleiro que supostamente foi atacado no golfo de Omã - HO/IRIB TV/AFP
13.jun.2019 - Fumaça teria sido vista saindo do petroleiro que supostamente foi atacado no golfo de Omã Imagem: HO/IRIB TV/AFP

13/06/2019 13h00

O texto foi atualizado às 11h47 de 20 de junho de 2019.

A escalada de tensão entre Estados Unidos e Irã na região do Estreito de Ormuz ganhou um novo capítulo.

Um drone de vigilância americano foi derrubado por um míssil terra-ar de forças de segurança iranianas enquanto sobrevoava a região. Segundo a Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, a aeronave havia invadido o espaço aéreo iraniano, e o abate foi uma "mensagem clara aos EUA".

Os americanos alegam que houve um "ataque não provocado" porque o drone sobrevoa águas internacionais. "O Irã cometeu um grande erro", tuitou o presidente Donald Trump.

Na segunda-feira, os EUA anunciaram o envio de 1.000 militares para a região em resposta ao "comportamento hostil" do Irã. O acirramento dos ânimos em torno do Estreito de Ormuz cresce desde a semana passada, quando dezenas de tripulantes foram resgatados depois de abandonar dois petroleiros atingidos por explosões no Golfo de Omã.

Os operadores do navio disseram que 21 pessoas a bordo da embarcação panamenha Kokuka Courageous e 23 da norueguesa Front Altair foram resgatadas.

O Irã resgatou os tripulantes depois de um "acidente", informou a mídia estatal do país, embora a causa das explosões não tenha sido confirmada.

A Marinha dos Estados Unidos disse que recebeu duas chamadas de socorro.

O incidente acontece um mês depois que quatro petroleiros foram atacados nas águas dos Emirados Árabes Unidos.

A Autoridade Marítima da Noruega disse que o Front Altair foi "atacado", o que teria levado a três explosões a bordo.

Wu-fang, porta-voz da petrolífera estatal de Taiwan CPC Corp, que fretou o Front Altair, disse que o petroleiro transportava 75 mil toneladas de metano e que há a suspeita de ter sido atingido por um torpedo, embora isso não tenha sido confirmado.

O operador do Kokuka Courageous disse que sua tripulação abandonou o navio e foi resgatada por outra embarcação que estava nas proximidades.

O petroleiro carregava metanol e não corria risco de afundar, disse um porta-voz. A carga permanece intacta.

A mídia estatal iraniana disse que o Irã resgatou os membros da tripulação e que eles foram levados para o porto de Jask.

O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter que o incidente aconteceu quando o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se reunia com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e que a palavra "suspeito" nem "começaria a descrever o que provavelmente aconteceu nesta manhã".

Os relatos iniciais das explosões foram feitos pelo grupo de segurança da UK Maritime Trade Operations (UKMTO), ligado à Marinha Real Britânica, que emitiu um alerta, pedindo "extrema cautela" na área.

Estreito de Ormuz - BBC - BBC
Imagem: BBC

A importância do Estreito de Ormuz

O Golfo de Omã fica em uma das extremidades do estratégico Estreito de Ormuz, canal que conecta o Golfo Pérsico e o Oceano Índico e é uma das principais rotas mundiais de comércio de petróleo. Esse incidente aumentará ainda mais a tensão em uma rota marítima vital pela qual qual passam centenas de milhões de dólares em petróleo.

Mais de 30% da produção mundial de petróleo é escoada pelo Estreito de Ormuz. Por isso, qualquer coisa que aconteça por ali se reflete no preço da gasolina e na economia do mundo todo.

Os EUA enviaram porta-aviões e bombardeiros para a região no começo de maio em resposta ao que disseram ser um plano de "forças apoiadas pelo Irã" para atacar as forças americanas naquela área.

O presidente americano, Donald Trump, acusou o Irã de ser uma força desestabilizadora no Oriente Médio.

O Irã rejeita as alegações e acusou os EUA de comportamento agressivo.

Essas tensões aumentaram significativamente após quatro petroleiros terem sido danificados por minas nas águas dos Emirados Árabes Unidos, no dia 12 de maio.

Os Emirados culparam um "ator estatal" não identificado. Os EUA disseram que o "ator" era o Irã, uma acusação que Teerã negou.

Embora não esteja claro por que o Irã realizaria um ataque de nível relativamente baixo contra os petroleiros multinacionais, os observadores internacionais pontuam que poderia ter sido para enviar um sinal de que o país é capaz de interromper o transporte na área sem provocar uma guerra.

O canal é um ponto frequente de conflito e já provocou tensão na relação com os EUA em anos anteriores.

E há uma deterioração nas relações entre os EUA e o Irã desde abril, quando os EUA voltaram a impor sanções ao país, proibindo efetivamente todas as exportações de petróleo iranianas.

As receitas obtidas com a venda de petróleo são vitais para a economia do Irã. Desde a volta das sanções dos EUA, as exportações iranianas do recurso caíram de 2,5 milhões de barris por dia para 800 mil.

Em 2018, os Estados Unidos anunciaram a saída do acordo nuclear assinado com o Irã três anos antes e determinaram a aplicação de novas restrições ao país. As medidas afetavam principalmente o setor energético e bancário.

À época, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, advertiu então que seu país poderia suspender o comércio pelo Estreito de Ormuz.

Desde então, o potencial bloqueio do estreito ronda o Golfo Pérsico como um fantasma e há o temor de que a escalada de tensão na região aumente.

No trecho mais estreito, o canal mede cerca de 33 quilômetros de largura - Getty Images - Getty Images
No trecho mais estreito, o canal mede cerca de 33 quilômetros de largura
Imagem: Getty Images

O centro nervoso do petróleo mundial

A importância do Estreito de Ormuz é óbvia, segundo Rockford Weitz, diretor de Estudos Marítimos da Universidade de Tufts, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ele desempenha um papel central no escoamento de um terço do petróleo consumido diariamente no mundo.

"Todo o tráfego marítimo procedente dos países do Golfo, que são grandes produtores de energia, converge no Estreito, incluindo as exportações de petróleo e gás natural liquefeito do Irã, do Iraque, do Kuwait, de Bahrein, do Catar, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos", disse Weitz à BBC Mundo.

De acordo com Richard Baffa, especialista em Irã da RAND Corporation, think tank(centro de pesquisa e debate) ligado às Forças Armadas americanas, cerca de 17,5 milhões de barris de petróleo bruto passam por ali todos os dias.

"O Golfo Pérsico é a principal zona de produção de petróleo do mundo. E Ormuz é o principal lugar no mundo por onde escoa o petróleo que é consumido em outros países."

Para o Irã, diz ele, isso é uma vantagem estratégica. "O Irã domina esse estreito geograficamente e também tem a marinha mais forte atuando na região, à exceção da americana", explica.

Em seu ponto mais apertado, o canal mede cerca de 33 quilômetros de largura. Mas, na realidade, a largura das rotas de navegação, por onde passam as embarcações, é de apenas três quilômetros, em qualquer direção.

Por isso, as ameaças de fechamento feitas por Rouhani deixaram a comunidade internacional em alerta.

"Se o Irã fechar o estreito, independentemente de por quanto tempo, terá um impacto enorme no mercado energético mundial, assim como nas economias dos estados do Golfo, que poderiam sofrer inclusive instabilidade política no longo prazo", avalia Baffa.

Acredita-se que o fechamento do canal poderia fazer os preços do barril de petróleo subirem entre US$ 150 e US$ 200, mas seu impacto não se restringiria a isso.

"Além dos fluxos de petróleo, também interromperia as importações marítimas nos países do Golfo, incluindo seus principais portos, como Dubai. Dado que mais de 90% do comércio mundial é feito por via marítima, acabaria resultando em escassez de oferta nos países do Golfo - e, portanto, no aumento dos preços de produtos importados", opina Weitz.

O especialista diz que uma situação semelhante ocorreu no fim da década de 1980, quando o Estreito foi fechado durante a guerra entre Irã e Iraque, o que culminou com uma operação do Comando Central militar dos EUA.

Para evitar um bloqueio dessa natureza, a Marinha americana reativou, em 1995, sua Quinta Frota para vigiar as águas do Golfo Pérsico.

Desde então, foram feitas sucessivas ameaças de fechar o estreito - em 2011, 2012 e 2016, quase sempre associadas à aprovação de sanções a Teerã por parte de Washington.