O pequeno país do Golfo Pérsico que é um dos melhores do mundo para trabalhadores estrangeiros
Alaa Nofal se mudou da Jordânia para o Bahrein aos 25 anos, a fim de trabalhar no setor de vendas de uma empresa de softwares.
Em três anos, foi promovido a diretor de vendas. Hoje, aos 37 anos, o engenheiro de computação é gerente-geral de operações globais da 01 Systems, que atende aos principais bancos do Oriente Médio e da Índia.
Havia oportunidades de emprego para ele na Jordânia, mas Nofal considerou o Bahrein um lugar melhor para se viver e trabalhar.
Localizado na região do Golfo Pérsico, o pequeno país insular - com uma área equivalente à metade da cidade de São Paulo - tem uma população de apenas 1,5 milhão de habitantes.
Nos últimos anos, a economia do reino sofreu por causa do baixo preço do petróleo, seu principal produto de exportação. Há ainda tensões políticas profundas entre a família real, que é sunita, e a população de maioria xiita. O embate resultou em violentos protestos nas ruas contra o governo em 2011, e em uma subsequente repressão a grupos de oposição e ativistas, em meio a clamores permanentes de grupos de direitos humanos.
Apesar disso, uma pesquisa recente classifica o Bahrein - um arquipélago formado por mais de 30 ilhas - como o segundo melhor lugar do mundo para a carreira de expatriados (aqueles que vivem voluntariamente em outro país), atrás apenas da Alemanha. O reino aparece à frente de outros polos famosos, como Emirados Árabes Unidos, Cingapura e Hong Kong.
O estudo, divulgado no início de janeiro pelo HSBC Expat, braço do banco para estrangeiros, analisou a opinião de mais de 22 mil profissionais no mundo todo sobre questões como: equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, segurança no emprego, progressão na carreira, benefícios oferecidos e perspectivas salariais.
Em relação ao Bahrein, quase 60% disseram que a cultura de trabalho era melhor do que em seu país de origem. O reino também obteve uma pontuação alta em termos de segurança no trabalho, realização pessoal e oportunidades de subir na carreira.
'Mistura de nacionalidades'
Há 13 anos, Sadaf Karim se mudou do Paquistão para o Bahrein com o então marido, que trabalhava em um banco, e começou a dar aulas durante meio período. Quando o casamento terminou, ela decidiu ficar no país com a filha.
"Eu tinha um bom emprego e gostava do clima. Me dei bem aqui em termos de salário e crescimento profissional, e agora assumi um cargo de coordenação", relata Karim, que é professora de inglês e música.
Dentro da sua empresa, Alaa Nofal relata que quem pede demissão em geral é para voltar para casa - e não para mudar de empresa ou assumir outro posto como expatriado. Ele também acha que o Bahrein é mais inclusivo do que outros países do Golfo. "Há uma boa mistura de nacionalidades."
Salários livre de impostos e programas de incentivo à habitação, educação e viagens também são estímulos para profissionais qualificados trabalharem no Bahrein.
Mais de dois terços dos entrevistados citaram o bom potencial de ganho e os subsídios extras em seus pacotes salariais como outro benefício. O Dinar do Bahrein, moeda local, está atrelado ao dólar americano, que atualmente é forte e isso significa que os salários parecem mais altos.
"O salário alto é um fator importante para os expatriados que se mudam para o Bahrein", observa John Goddard, diretor do HSBC Expat.
Mas, segundo ele, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e as oportunidades de desenvolvimento de liderança também contribuíram de forma essencial para a alta pontuação do país, que subiu 10 pontos no ranking específico sobre carreira em comparação ao ano passado.
Severas restrições aos trabalhadores
Pierre De Vuyst, belga que chegou ao Bahrein em 1992 para montar a base de operações da empresa de engenharia japonesa Yokogawa e agora é CEO da empresa para o Oriente Médio e África, disse à BBC: "Os salários aqui podem não ser tão altos quanto em Dubai, mas o custo de vida é muito menor do que na maior parte do resto do Golfo e isso significa que o dinheiro rende mais".
Os trabalhadores estrangeiros representam mais de 50% da população total do Bahrein. Assim como em outros países do Golfo, grande parte é proveniente do Sul e do Sudeste da Ásia e trabalha como operário na construção civil ou fazendo serviços operacionais.
Eles costumam ser empregados sob o controverso sistema trabalhista de kafala, que vincula trabalhadores estrangeiros a patrocinadores no país - eles precisam de consentimento dos empregadores para obter vistos, autorizações de saída ou mudar de trabalho.
A kafala é alvo de críticas por impor severas restrições aos trabalhadores.
Nos últimos anos, o Bahrein tem se empenhado em reformar este sistema com o intuito de melhorar as condições e os direitos dos trabalhadores, embora continue a haver críticas em relação a abusos cometidos.
Os salários variam bastante dependendo do setor e do cargo. De acordo com dados coletados pela revista de negócios Gulf Business, com sede em Dubai, o salário médio global em 2018 foi de US$ 7.867 por mês (cerca de R$ 30 mil).
Um CEO de uma multinacional pode esperar receber na região US$ 33 mil, um advogado US$ 8.133 e um gerente de recursos humanos US$ 7.438. Uma recepcionista, no entanto, pode ganhar apenas US$ 1.699 e um operário ou empregada doméstica muito menos.
Petróleo e banco
O setor de petróleo é uma grande fonte de emprego para profissionais estrangeiros. As reservas do país são pequenas, mas muitas pessoas optam por viver no Bahrein e trabalhar do outro lado da fronteira, na Província Oriental da Arábia Saudita, se deslocando diariamente pelos 25 quilômetros da Ponte do Rei Fahd, que liga os dois países, sobre o Golfo Pérsico.
Há também uma significativa presença militar dos EUA e do Reino Unido no Bahrein, devido à sua localização estratégica, próximo ao Estreito de Ormuz, uma das mais movimentadas rotas marítimas do mundo, que passa pelo Irã.
A rede bancária é o principal setor não petrolífero do país, que há muito tempo é líder em finanças islâmicas, oferecendo investimentos, seguros e linhas de crédito compatíveis com a Sharia (lei islâmica).
Mais recentemente, como parte de um esforço mais amplo para diversificar a economia do reino, o Conselho de Desenvolvimento Econômico do Bahrein (EDB, na sigla em inglês) começou a promover o país como o Vale do Silício do Oriente Médio.
O governo tem oferecido generosos incentivos e um ambiente favorável para as chamadas fintechs e start-ups de comércio virtual, assim como outros investimentos privados.
Goddard, do HSBC, afirma que o estímulo à diversificação da economia e o foco em inovação estão ajudando a criar novas oportunidades interessantes para "expatriados qualificados" que querem dar "o próximo passo na carreira".
Estabilidade
Em 2016, o empresário indiano Amjad Puliyali escolheu abrir sua startup no Bahrein, em vez de nos Emirados Árabes Unidos, onde trabalhou por dez anos.
Fundador do GetBaqala (aplicativo de entregas de compras de supermercado em domicílio), o executivo de 35 anos afirma que o Bahrein é um bom lugar para os empresários ganharem experiência.
Segundo ele, é um mercado pequeno, mais fácil e barato de operar do que seus pares regionais - e com o bônus adicional de estar conectado por estradas a clientes na Arábia Saudita.
"Há muitas oportunidades para empreendedores na área de comércio eletrônico e fintechs em Bahrein", diz ele, citando os incentivos generosos do governo, como o pagamento de parte dos salários de cidadãos do Bahrein contratados por empresas de tecnologia.
"Há também um equilíbrio entre vida profissional e pessoal", acrescenta.
"Você pode morar perto do trabalho e não vai ficar preso no trânsito, como acontece em lugares mais movimentados como Dubai. Seu tempo pode ser muito mais produtivo."
Puliyali acredita que, apesar de ser menor do que outros países do Golfo, Bahrein oferece mais estabilidade em comparação aos "queridinhos" dos expatriados, como Dubai.
"Em Dubai, quando as coisas entram em ascensão, é claro, elas realmente decolam, mas depois desabam novamente. Aqui tudo é mais consistente e estável, e isso faz com que seja um bom lugar para trabalhar", avalia.
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