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Estados nordestinos correm para evitar impacto das manchas de petróleo no turismo

Prefeitura pagou diárias para que pessoas retirassem a pasta de óleo do Pontal do Peba, em Alagoas - Arquivo Pessoal
Prefeitura pagou diárias para que pessoas retirassem a pasta de óleo do Pontal do Peba, em Alagoas Imagem: Arquivo Pessoal

Por Raíssa França - De Maceió para BBC News Brasil

11/10/2019 17h30

A chegada das manchas de óleo nas praias do Nordeste trouxe não só prejuízos ambientais, mas uma ameaça ao turismo justo numa época do ano que começa a crescer o número de visitantes por causa do retorno das altas temperaturas e sol com o verão.

A chegada de manchas de petróleo a dezenas de praias do Nordeste trouxe não só prejuízos ambientais, mas uma ameaça ao turismo justo na época do ano em que começa a crescer o número de visitantes. Muitas cidades da região têm no turismo a principal fonte de receitas.

Para evitar a perda de turistas, gestores públicos, guias turísticos, empresários e comerciantes se lançaram para tentar minimizar os impactos da imagem negativa causada pelo vazamento e conter as desistências. Mesmo assim, os efeitos já são sentidos, segundo integrantes do setor.

Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que somente em agosto o turismo rendeu ao Nordeste R$ 2,4 bilhões. Foram R$ 29,1 bilhões em 2018.

Queda em Alagoas

Em Alagoas, o comerciante Paulo Silva, que tem uma barraca na praia do Francês, em Marechal Deodoro, disse que na semana passada o número de banhistas já diminuiu devido ao óleo.

"Nós sentimos demais a diferença. O Francês é uma praia movimentada e percebemos uma queda de pelo menos 20% do público. Mas, como as manchas desapareceram esta semana, as pessoas voltaram a frequentar, ainda bem."

A região de Piaçabuçu é uma das mais conhecidas do litoral sul de Alagoas por suas belezas naturais e passeios para a foz do São Francisco. O reflexo por lá é considerado pequeno, mas acendeu um alerta para a Secretaria de Turismo e Meio Ambiente da cidade.

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Muitas cidades da região têm no turismo a principal fonte de receitas
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo o secretário de Turismo Otávio Nascimento, o cancelamento de pacotes é um problema real e que aparece pela falta de informação.

"Fomos acionados por uma operadora e uma pousada sinalizou o cancelamento de reserva. Recebi ligações de pessoas que queriam passar o final de semana por aqui e que estão cancelando por causa da presença do óleo na praia. O cancelamento vem pela falta de informação porque as nossas praias e foz estão próprias para banho", afirmou.

Otávio disse que diminuiu o número de turistas e de passeios, mas que a Prefeitura tomou medidas para que o impacto na cidade não seja maior.

"Nesta quinta-feira, pagamos a diária de pessoas que ajudaram em um grande mutirão para retirar a pasta de óleo da praia. Ao todo, retiramos mais de uma tonelada dessa pasta que estava nos corais. Vamos continuar fazendo essas limpezas. A foz do São Francisco está operando normalmente. Apesar da identificação do óleo, nós temos indicação do Instituto do Meio Ambiente de que os turistas podem tomar banho", explicou.

Por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas (Sedetur) afirmou que o Estado é um dos locais menos afetados com as manchas e que no diálogo junto às prefeituras foram identificados — ainda que de maneira sucinta — um certo impacto na atividade turística.

A Sedetur também disse que "está acompanhado de perto o trabalho dos órgãos ambientais responsáveis, para que possam identificar o culpado, puni-lo e encontrar a resolução mais viável para redução de danos da forma mais célere possível".

O impacto também foi sentido pela dona de uma barraca na praia de Lagoa do Pau, em Coruripe, Alagoas. Cineide da Silva contou que após o vazamento de fotos da praia cheia de óleo na manhã de ontem, a situação hoje mudou e pegou a comerciante de surpresa. "Ontem várias manchas apareceram aqui e as fotos vazaram. Hoje, os turistas chegam, olham e vão embora", contou à BBC News Brasil.

"Durante a semana o movimento é menor, vendo em torno de R$ 700 a R$ 1.000, mas hoje como é sexta-feira e véspera de feriado esperávamos um fluxo maior de clientes, o que não aconteceu. Não vendi nada. A praia está deserta."

Limpeza e trabalho intensificados

O Estado de Sergipe foi um dos mais atingidos pelo petróleo. O secretário de Turismo sergipano, Sales Neto, disse que o trabalho de limpeza das praias foi intensificado e que a maior parte da orla está liberada para banho.

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Na praia da Lagoa do Pau, em Coruripe, após publicação de fotos das manchas, praia ficou deserta nesta sexta-feira
Imagem: Arquivo Pessoal

"Os testes de balneabilidade da água estão dando 'liberadas para banho', mesmo nos lugares onde encontra-se o óleo na areia. Nestes lugares, a orientação é evitar o contato com a substância por ela ser tóxica, portanto, não recomendamos o banho, pois para se chegar na água é preciso passar pela areia", comentou Salles.

Ainda segundo o secretário, não houve registro de "queda abrupta" do movimento turístico no Estado. "Acreditamos que nos próximos dias, com o trabalho de limpeza efetivo que vem sendo feito, até mesmo as áreas tocadas pelo óleo estarão livres deste problema", afirma.

A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio Grande do Norte (ABIH-RN) disse à BBC News Brasil que fez um levantamento para saber se houve alguma redução na hotelaria, mas afirmou que todos os hotéis estão lotados e que não houve impacto no turismo nem na economia.

Fotos das praias para atrair turistas

Além da medida de fazer a limpeza das praias, o presidente da Federação Nacional de Guias de Turismo (Fenagtur), Henrique Dantas, ressaltou que o assunto está ganhando notoriedade e preocupando a população.

Ele contou que os guias estão publicando fotos atrativas para chamar atenção dos turistas que querem ir a Alagoas mostrando que as praias não foram impactadas. A ação é para mostrar aos turistas que a situação não é "tão forte" quanto parece.

"Não temos como interferir na escolha dos clientes e nós vemos que as operadoras já estão preocupadas com a possibilidade de cancelamento. Mas estamos mostrando a realidade de como está o litoral através de fotos. Estamos ficando preocupados com a forma que está sendo noticiada, mas estamos trabalhando em cima dessas fotos de como as praias estão limpas", enfatizou Henrique.

Situação real x 'fake news'

José Odécio, presidente da ABIH-RN, explicou que a associação está fazendo o monitoramento com os entes públicos para saber quais são as medidas que estão sendo tomadas e acompanhando as informações vindas das secretarias municipais de turismo.

Para ele, é importante que as pessoas relatem como está a situação nas praias do RN e não fotos fake news.

"As pessoas que estão nas praias estão mandando a situação real e não a de fake news, as principais praias do Rio Grande do Norte estão livres dessas manchas, exemplo: Pipa, São Miguel do Gostoso. Portanto, a ABIH está monitorando o processo. Estamos divulgando a notícia real e verdadeira, principalmente as praias turísticas não estão sofrendo esse tipo de acidente", reforçou José.