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O que está por trás da pior onda de violência na capital da Índia em décadas

26/02/2020 17h54

Desde o fim de semana, pelo menos 23 pessoas morreram na capital indiana, Déli, enquanto o número de feridos é superior a 200. Os protestos contra uma nova e controversa lei de cidadania se tornaram violentos, com relatos de casas e lojas muçulmanas sendo alvo de ataques.

Uma onda de violência que se espalhou pela Índia nos últimos dias tem sido descrita como a mais grave em décadas no país. Pelo menos 23 pessoas foram mortas até agora apenas na capital, Nova Déli.

Os confrontos começaram no domingo (23/02) entre manifestantes a favor e contra uma nova e controversa lei de cidadania.

A chamada Lei de Emenda à Cidadania permite que pessoas de Bangladesh, Paquistão e Afeganistão que entraram na Índia ilegalmente se tornem cidadãs do país ? mas apenas aquelas que não forem muçulmanas.

O governo, liderado pelo nacionalista hindu Partido do Povo Indiano, afirma que a nova regra dará refúgio às pessoas que fogem da perseguição religiosa.

Já os críticos dizem que o projeto faz parte da agenda do partido para marginalizar muçulmanos.

A lei provocou protestos em massa desde que foi aprovada, no ano passado ? algumas das manifestações já haviam terminado em confronto.

Mas as manifestações em Nova Déli vinham sendo pacíficas, até que a violência explodiu no domingo.

Quando os protestos começaram?

A violência começou em três áreas de maioria muçulmana no nordeste de Nova Déli, a cerca de 18 km do centro da capital.

Um grupo que apoiava a lei começou a trocar pedradas com manifestantes contrários a ela.

Esse primeiro grupo tem sido vinculado a Kapil Mishra, um dos líderes do Partido do Povo Indiano, que havia ameaçado um grupo de pessoas que protestaram contra a lei, no fim de semana. O político disse que os manifestantes "seriam despejados" à força quando o presidente americano, Donald Trump, encerrasse sua visita à Índia.

O presidente dos Estados Unidos fez sua primeira visita oficial ao país entre os dias 24 e 26 de fevereiro.

O que está acontecendo agora?

Embora novos confrontos não tenham sido relatados na capital nesta quarta-feira, a cidade continua tensa após a terceira noite consecutiva de tumultos.

E a violência não ocorre apenas por causa da nova lei de cidadania. Ela ganhou outra dimensão e se espalhou para alguns bairros distantes do centro, com relatos de pessoas sendo atacadas por causa de sua religião.

Há relatos de incêndios criminosos e de grupos de homens armados com paus, barras de ferro e pedras vagando pelas ruas ? também há casos de confrontos entre hindus e muçulmanos.

As principais avenidas desses bairros estão em ruínas, segundo repórteres da BBC que estão no local. "As ruas estão cheias de pedras e vidro, veículos quebrados e queimados estão espalhados, e o cheiro de fumaça de prédios em chamas toma o ar", afirma Faisal Mohammed, jornalista da BBC News Hindi.

Mesquitas vandalizadas

Também houve relatos de vandalismo contra casas e lojas pertencentes a muçulmanos.

O repórter Faisal Mohammed relatou ter visto uma mesquita parcialmente queimada, com páginas do Alcorão espalhadas pelo chão.

Outra mesquita foi vandalizada na tarde de terça-feira. Imagens amplamente compartilhadas mostraram homens tentando arrancar o topo de um minarete (torre de uma mesquita).

A julgar pelos nomes das vítimas divulgadas até agora, elas incluem hindus e muçulmanos. Quase 200 pessoas ficaram feridas.

Repórteres da BBC visitaram hospitais e dizem ter visto pessoas com todos os tipos de lesões, incluindo ferimentos a bala. Segundo os jornalistas, um dos hospitais parecia "sobrecarregado", e muitos dos feridos estavam "com muito medo de voltar para casa".

O que as autoridades estão fazendo?

O porta-voz da polícia de Nova Déli disse na terça-feira que a situação estava "sob controle" e que havia "número suficiente de policiais" atuando nas ruas. Forças paramilitares também foram destacadas para conter os confrontos.

Mas a polícia foi acusada de estar mal preparada e em menor número. Mais de 50 policiais também foram feridos e pelo menos um foi morto ? um agente chamado Ratan Lal.

A força policial da capital se reporta diretamente ao governo do Partido do Povo Indiano, e não à administração regional.

Escolas foram fechadas e há restrições à reunião pública em várias áreas.

"É importante que haja calma e que a normalidade seja restaurada o mais cedo possível", tuitou o primeiro-ministro, Narendra Modi, na quarta-feira.

Desde que Modi chegou ao poder, em 2014, o nacionalismo hindu de direita ganhou força na Índia. O primeiro-ministro fez do discurso nacionalista a pedra angular de sua campanha à reeleição em 2019.

O momento atual de agitação está sendo visto como um momento de vergonha para ele, pois o país estava recebendo Trump pela primeira vez quando os conflitos começaram.

A violência acabou ofuscando a visita do presidente americano.

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