O que é o movimento 'Somos 70%' e outras iniciativas contra o governo Bolsonaro?
Na semana passada, o economista Eduardo Moreira participava de um debate transmitido ao vivo no YouTube, em que discutia se o governo Jair Bolsonaro era sustentável.
Números de uma pesquisa Datafolha publicada naquela quinta (28/05) foram divulgados no meio do debate.
O levantamento mostrava que a rejeição a Bolsonaro havia crescido ao longo do mês em meio às crises sanitária, política e econômica no Brasil.
A pesquisa feita nos dias 25 e 26 mostrava que 43% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo, 33% ótimo ou bom, 22%, regular e 2% não sabiam.
Foram ouvidos 2.069 adultos, com margem de erro de dois pontos percentuais.
Ouvindo a live, um usuário comentou: "Já está claro que 33% não se convence, se vence".
Foi a senha para que caísse uma ficha para Moreira. "É verdade, a gente nunca fala dos 70%. Caramba, 70% no Brasil é gente para caramba. Os 70% não estão parecendo, estão com medo. Então eles nunca conseguem se perceber como 70%. Os 30% se acham 70% e os 70% se acham 30%."
E foi então que começou o movimento "Somos70porcento", uma hashtag que se espalhou nos dias seguintes em redes sociais e que se junta a outras iniciativas suprapartidárias que surgiram nos últimos dias em defesa da democracia e contra Bolsonaro.
O presidente e aliados têm feito discursos a favor de uma eventual ruptura institucional - e é principalmente em defesa da democracia, da Constituição e do Estado de Direito que esses grupos surgiram.
Além dos Somos70%, há o movimento Estamos Juntos, lançado no sábado (30) e com 258.686 assinaturas até o início da tarde desta terça (02).
O movimento publicou um manifesto no sábado em uma página inteira na edição impressa de jornais. "Somos mais de dois terços da população do Brasil e invocamos que partidos, seus líderes e candidatos agora deixem de lado projetos individuais de poder em favor de um projeto comum de país", diz o manifesto do grupo, que teve como signatários iniciais personalidades como Caetano Veloso, o youtuber e empresário Felipe Neto e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Também teve apoio do ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta.
"Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia."
O Estamos Juntos também criou diversos grupos de WhatsApp para diferentes Estados do Brasil, com link público no site do movimento - tática dos bolsonaristas na campanha de 2018. Até hoje, o WhatsApp é visto como uma rede onde apoiadores do presidente se articulam.
Outro movimento, chamado Basta!, foi lançado por advogados e juristas no domingo (31). O manifesto do grupo, com mais de 600 assinaturas quando foi divulgado, dizia que o país é "jogado ao precipício de uma crise política quando já imerso no abismo de uma pandemia que encontra no Brasil seu ambiente mais favorável, mercê de uma ação genocida do presidente da República". Hoje, já tem 30 mil assinaturas.
'Panela fervendo'
No dia seguinte à live de que participou, o economista Moreira tuitou "Somos os 70%". O tuíte teve 1,3 mil retuítes e 12,8 mil curtidas. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a hashtag #Somos70PorCento chegou a ocupar o terceiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter no fim de semana.
Moreira, um economista carioca de 44 anos, tem 380 mil inscritos em seu canal de YouTube, em que dá dicas de finanças e faz lives sobre economia e política, e 135 mil seguidores no Twitter.
"Estabeleceu-se um consenso até e talvez principalmente na esquerda, que com esses níveis de popularidade, não dá para fazer muita coisa. Então, nós temos que esperar a popularidade do Bolsonaro cair até que a gente tenha o poder de entrar com impeachment... E isso é para mim a maior de todas as derrotas porque esse esperar, na situação que a gente tá vivendo, é muito caro. É muito caro em número de vidas", disse ele na live de quinta (28).
"Como não é a hora? É mais do que a hora. Já passou da hora. A gente precisa desse choque de realidade porque a panela está fervendo. (...) O mundo inteiro está vendo e aqui a gente não tá vendo. Já tá muito quente, vai todo mundo morrer nessa panela."
No dia 30, a apresentadora Xuxa Meneghel aderiu ao movimento. "Somos70porcento", tuitou.
Marina Silva uniu os três movimentos suprapartidários em um só tuíte: "#Juntos #Somos70porcento #Basta! Que surjam outras canções em defesa da vida, da dignidade humana, do desenvolvimento sustentável e da democracia".
Esses movimentos surgidos nos últimos dias começam a tomar uma forma contra o governo de Bolsonaro, que vem causando e enfrentando crises.
No domingo, setores de torcidas organizadas que se denominam como antifascistas foram às ruas no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras, somando-se aos movimentos online da sociedade civil.
Um crítico dos movimentos é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Folha de S.Paulo, ele criticou os manifestos em uma reunião do PT na segunda-feira. "Li os manifestos e acho que tem pouca coisa de interesse da classe trabalhadora. Não se fala em classe trabalhadora, nos direitos perdidos", disse o ex-presidente, segundo a Folha.
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