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Belarus: 8 pontos para entender crise com milhares de imigrantes em fronteira da União Europeia

Redação - BBC News Mundo

13/11/2021 12h04

Para a Polônia, a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Belarus está fabricando e orquestrando a crise migratória, uma acusação negada por seu contestado líder, o presidente Alexander Lukashenko, que ameaçou cortar o suprimento de gás para a Europa e tem o apoio do colega russo, Vladimir Putin.

A crise migratória na fronteira entre Belarus e a Polônia tem se agravado nos últimos dias, à medida que milhares de pessoas oriundas do Oriente Médio e da África tentam entrar no território polonês.

Muitas delas chegam em voos a Belarus: segundo o portal Flightradar24, na próxima semana estão previstos 21 voos de Istambul a Minsk (capital do país), 12 de Dubai e 1 de Bagdá. Sem contar os voos fretados.

Em reação, a Turquia decidiu proibir o embarque de iraquianos, sírios e iemenitas de embarcarem em voos para Belarus, que tem apoiado a migração rumo à União Europeia. Mas a medida turca não deve conter o fluxo que se transformou em crise geopolítica às portas do bloco europeu.

Para a Polônia, a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Belarus está fabricando e orquestrando o problema, uma acusação negada pelo contestado líder do país, o presidente Alexander Lukashenko, que ameaçou cortar o suprimento de gás para a Europa e tem o apoio do colega russo, Vladimir Putin.

Autoridades da União Europeia afirmam que a situação é uma retaliação de Belarus a sanções do bloco europeu ? essas medidas foram impostas após a repressão de Lukashenko aos protestos em massa, após a amplamente desacreditada eleição presidencial de 2020 e a prisão de um jornalista dissidente a bordo de um voo que foi forçado a pousar em Minsk.

Entenda abaixo a tensão crescente na região em oito pontos.

1. Como a crise começou?

Desde 2020, as autoridades de Belarus cancelaram ou simplificaram os requisitos de visto para 76 países. Entre estes estão vários afetados por conflitos graves, como Síria, Líbia, Iraque e Afeganistão, de onde milhares de pessoas estão tentando sair.

Agências de viagens da Síria, Iraque e Turquia começaram a vender viagens para Belarus destacando a oportunidade de moradia e emprego em um país da União Europeia. Dezenas de mensagens desse tipo chegam também pelo WhatsApp, aplicativo de mensagens mais utilizado na região.

Essa viagem custa entre US$ 10 mil e US$ 20 mil (algo em torno de R$ 50 mil a R$ 100 mil), a depender das condições. Segundo investigação do veículo de imprensa alemão Deutsche Welle, os consulados de Belarus até delegaram o direito de colocar vistos de seu país em passaportes para essas agências de viagens.

Além disso, Belarus aumentou significativamente o número de voos de nações do Oriente Médio. Vários países da Europa denunciam que até as autoridades do país estão por trás dessas ofertas promovidas pelas agências de viagens.

2. De onde vêm os migrantes?

Até meados de 2021, o Iraque era o principal ponto de partida. Em setembro, o alto representante das Nações Unidas, Josep Borrell, conseguiu negociar com as autoridades iraquianas uma redução desses voos para Belarus.

Atualmente, os curdos que fogem da Síria são a maioria dos que tentam entrar na União Europeia por esse percurso. Na Síria, eles são ameaçados não apenas pelo regime sírio, mas também por militantes do Estado Islâmico.

Há também migrantes que vêm da Líbia, Afeganistão, Iêmen e de vários países africanos onde há conflitos religiosos e políticos, como Congo e Etiópia.

3. Como eles chegam à fronteira Belarus-Polônia?

Muitos dos voos são operados pela Belavia (companhia de Belarus banida na União Europeia por causa das sanções), Turkish Airlines e Qatar Airlines, e outra companhia aérea de baixo custo conhecida como Fly Dubai.

Até recentemente, o visto de refugiado, caso o passageiro precisasse, era concedido no próprio aeroporto no momento do embarque.

Nas portas de embarque dos voos, é impossível distinguir passageiros como migrantes ou refugiados. Eles têm dinheiro, todos os seus documentos estão em ordem, suas roupas são muito parecidas. Então, na maioria das vezes não há razão para impedir alguém de embarcar no voo.

O que acontece a seguir não está claro. Vídeos que têm circulado nas redes sociais mostram que estes passageiros são transportados de forma muito organizada do aeroporto de Minsk até à fronteira com a Polónia e a Lituânia.

Só que até o momento foi impossível identificar quem organiza essa logística dentro de Belarus.

4. Como os migrantes cruzam a fronteira?

No início da crise migratória, os guardas de fronteira poloneses e lituanos deixavam as pessoas passarem e depois as enviavam para instalações especiais.

No entanto, ao mesmo tempo, os chanceleres de ambos os países começaram a acusar Belarus de organizar este novo fenômeno migratório.

Então, com centenas e depois milhares de pessoas tentando cruzar a fronteira todos os dias, a Polônia e a Lituânia decidiram fechar a passagem de fronteira e começaram a fortificar a área com cercas cheias de arame farpado.

Agora, a fronteira só pode ser cruzada ilegalmente, mas isso não tem muitos de tentar passar mesmo assim. Parte deles tentou pular as cercas colocadas pelos guardas de fronteira.

Outros procuram áreas que não são vigiadas. Para se ter uma ideia, a fronteira Belarus-Polônia estende-se por mais de 400 quilómetros e grande parte dela é coberta por florestas ou pântanos.

5. O que os guardas de fronteira de Belarus têm feito?

A julgar por dezenas de declarações dos próprios refugiados e migrantes e pelos vídeos que autoridades lituanas e polonesas têm divulgado, o órgão de fronteira de Belarus está apoiando diretamente os refugiados a cruzarem a fronteira ilegalmente.

Em uma entrevista ao jornal local Nasha Niva, um oficial do órgão de fronteira descreveu, sob anonimato, as atividades de seu departamento como "uma desvalorização completa das leis e de seu juramento".

Mas o governo local tem rebatido essas informações e acusações. "Belarus está cumprindo seu maior dever de impedir a migração ilegal. As razões (para este novo fluxo) podem ser encontradas no apoio dos países da UE às revoluções 'coloridas' (o termo usado para descrever levantes populares contra certos governos) nas regiões onde vidas foram destruídas ou há guerras", diz o governo.

6. Para onde os migrantes vão?

Tanto a Polônia quanto a Lituânia são considerados, assim como Belarus, países de trânsito para refugiados e migrantes. Muitos deles têm como destino final localidades como Alemanha, França, Áustria e Holanda, onde costumam ter familiares ou conhecidos.

De acordo com as autoridades alemãs, pelo menos 5.000 pessoas chegaram à Alemanha via Belarus.

7. Onde refugiados e migrantes estão vivendo em Belarus?

Autoridades nunca informaram o número exato de pessoas que chegaram recentemente ao país . De acordo com os moradores de Minsk, centenas de pessoas estão acampando em shoppings, passagens subterrâneas e entradas de prédios residenciais em toda a cidade.

Talvez por isso, temendo que a situação saia do controle dentro do próprio país, nos últimos dias as autoridades de Belarus têm endurecido as condições para chegar ao país.

A ação mais concreta que se tem notícia é que deixaram de emitir vistos no aeroporto para cidadãos de cinco países: Síria, Irã, Afeganistão, Nigéria e Iêmen.

8. A Rússia está envolvida na crise de migração?

Autoridades de diversos países da União Europeia afirmam que sim, mas ainda não apresentaram provas. O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, por exemplo, disse: "Este ataque que (o presidente bielorrusso) Lukashenko está perpetrando tem seu cérebro em Moscou. O cérebro é o presidente Putin".

As autoridades russas refutam categoricamente essas acusações. O secretário de imprensa do presidente russo, Dmitry Peskov, considerou as palavras de Morawiecki irresponsáveis ??e inaceitáveis.

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu ao presidente Putin que intervenha na crise, situação que a União Europeia considera "um ataque híbrido" com o objetivo de desestabilizar o bloco europeu.

A Rússia elogiou o tratamento "responsável" de seu aliado bielorrusso na questão da fronteira e disse que está acompanhando a situação de perto.


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