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Rússia x Ucrânia: quais são os países aliados de Putin?

24/02/2022 12h56

Nem todos os países repudiam a iniciativa de Vladimir Putin. Alguns líderes manifestaram apoio direto à Moscou na crise com a Ucrânia.

A invasão russa à Ucrânia provocou reações fortes de outros países ? com a interrupção de negociações diplomáticas e o anúncio de diversas sanções.

Mas nem todos os países repudiam a iniciativa de Vladimir Putin. Alguns líderes manifestaram apoio direto à Moscou.

Em meio à uma das maiores crises militares e políticas na Europa nos últimos anos, quem são os aliados da Rússia?

Organização do Tratado de Segurança Coletiva

Os principais aliados da Rússia pertencem a um bloco chamado de Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). Além da própria Rússia, os países da OTSC são:

  • Armênia
  • Belarus
  • Cazaquistão
  • Quirguistão
  • Tajiquistão

A OTSC foi formada no começo dos anos 1990, após o fim do Pacto de Varsóvia e da Guerra Fria.

O Pacto de Varsóvia foi um importante bloco formado em 1955 pela então União Soviética com outras nações na sua esfera de influência - uma reação à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ? que fora criada na década anterior.

Tanto o Pacto de Varsóvia quanto a Otan tinham o mesmo objetivo: garantir que todos os Estados membros reagissem militarmente a qualquer agressão a outro Estado membro.

Alguns dos países que assinaram o Pacto de Varsóvia nem existem mais, como a Alemanha Oriental e a Tchecoslováquia.

E outros que assinaram o pacto soviético hoje estão na Otan e se opõem a Putin: é o caso de Hungria, Romênia, Bulgária e Polônia (além de Eslováquia e República Checa, que formavam a Tchecoslováquia).

O país da OTSC com ação mais decisiva nesta crise é Belarus, que antes mesmo da invasão coordenou exercícios militares junto com a Rússia. Durante os exercícios, a Rússia e Belarus posicionaram tropas nas suas fronteiras com a Ucrânia.

Mais de 30 mil soldados russos estão posicionados em Belarus e parte da invasão da Ucrânia está acontecendo usando as fronteiras bielorrussas. O presidente Alexander Lukashenko também permitiu que os aeroportos locais fossem usados para decolagem de aeronaves militares russas.

O governo de Belarus vem enfrentando protestos de oposição nos últimos anos. No ano passado, centenas de imigrantes tentaram deixar o país em direção à Polônia, que faz parte da União Europeia. Lukashenko, frequentemente chamado de "o último ditador da Europa", controla Belarus há 26 anos e conta com o apoio de Putin. No final do ano passado, ele jogou hóquei no gelo com Putin durante visita à Rússia ? principal parceiro econômico do país.

No final de fevereiro, o governo de Lukashenko realizou um referendo que aprovou uma nova Constituição que elimina o status de "não nuclear" do país. Dessa forma, Minsk pode abrigar armas nucleares e forças militares russas de maneira permanente.

As alterações constitucionais também estendem o mandato de Lukashenko - que está no poder desde 1994 - e garantem imunidade a ex-líderes de Belarus por crimes cometidos durante seus mandatos.

Após conversas com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Lukashenko cedeu a fronteira entre Ucrânia e Belarus para as negociações de paz entre Rússia e Ucrânia. Já foram realizadas três rodadas de conversas e até agora nenhuma conclusão definitiva foi anunciada.

Zelensky afirmou na terça-feira (15/03), porém, que pode haver espaço para um acordo.

Belarus foi ainda uma das cinco nações que votaram contra a resolução aprovada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas para condenar a ação militar russa na Ucrânia.

Entre os aliados de Putin na OTSC, o mais importante é o Cazaquistão, que possui algumas das maiores reservas de petróleo do mundo.

A Rússia já ajudou o Cazaquistão neste ano.

Em janeiro, o Cazaquistão foi palco de protestos em massa que levaram à morte de pelo menos 44 pessoas. Um dos alvos dos protestos era o ex-presidente Nursultan Nazarbayev, ainda hoje tido como o político mais poderoso do país. Ex-integrante do politburo do Partido Comunista ele tem fortes ligações com Vladimir Putin.

Para conter os protestos, paraquedistas russos foram enviados ao Cazaquistão a pedido do presidente Kassym-Jomart Tokayev para ajudar a "estabilizar" o país.

A OTSC foi justamente a autoridade invocada para justificar as tropas russas no Cazaquistão.

Apesar de ser visto como um país com ligações próximas à Rússia, o Cazaquistão não reconheceu a independência de regiões separatistas da Ucrânia, surpreendendo a muitos. As autoridades do Cazaquistão vêm tomando medidas para evitar a desvalorização da moeda nacional, que está sofrendo impactos da crise na Ucrânia.

O Cazaquistão também recusou um pedido russo para que enviasse tropas à Ucrânia.

Essa posição cautelosa também foi tomada por outros dois países da OTSC aliados de Putin: Quirguistão e Tadjiquistão.

Síria

O governo da Síria foi explícito em seu apoio à decisão da Rússia de reconhecer as duas regiões controladas por separatistas apoiadas por Moscou no leste da Ucrânia como independentes.

O ministro das Relações Exteriores da Síria, Faisal Mekdad, disse que o governo do presidente Bashar al-Assad "cooperará" com as autoproclamadas República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk.

Uma autoridade russa disse que falou com Bashar al-Assad e que o líder sírio prometeu reconhecer as duas regiões, assim como a Síria já fez com a Ossétia do Sul e Abecázia em 2008. A Síria também votou ao lado da Rússia na Assembleia-Geral da ONU.

Na última sexta-feira (11/3), Vladimir Putin anunciou que seu país buscaria combatentes do Oriente Médio para lutar na Ucrânia, confirmando o que relatórios de inteligência ocidentais já haviam indicado. Segundo a agência de notícias AFP, a Rússia elaborou uma lista de 40.000 soldados do exército sírio e das milícias aliadas que podem ser convocados a qualquer momento para a Ucrânia.

Em setembro, Putin e Assad encontraram-se em Moscou. Na ocasião, o presidente russo criticou a presença de forças estrangeiras na Síria sem um mandato das Nações Unidas ? uma crítica aos EUA e à Turquia.

Putin é um dos maiores aliados de Assad desde 2011, quando uma sangrenta guerra civil eclodiu na Síria. A participação russa foi tida como fundamental para manter Assad no poder, e a Rússia ainda possui bases militares no país.

Venezuela

Na América do Sul, o regime venezuelano de Nicolas Maduro é um dos principais aliados da Rússia. Na terça-feira, após Putin reconhecer a independência de regiões separatistas da Ucrânia, mas antes da invasão russa, Maduro declarou: "A Venezuela está com Putin, está com a Rússia, está com as causas corajosas e justas do mundo, e vamos nos aliar cada vez mais."

"O mundo pensa que Putin vai ficar parado sem fazer nada, sem tomar medidas para proteger seu povo? É por isso que a Venezuela expressa seu total apoio ao presidente Vladimir Putin em seus esforços para proteger a paz na Rússia, na região."

A Rússia é um importante parceiro comercial da Venezuela e mantém laços estratégicos com o país. Os russos são alguns dos principais fornecedores de equipamentos bélicos para as forças militares venezuelanas, que receberam nos últimos anos caças supersônicos e tanques de guerra. Além disso, o país também vende grandes quantidades de outras armas, como fuzis.

A presença de equipamento militar russo em um país dentro da América Latina é vista com preocupação por autoridades americanas. Em janeiro de 2019, durante protestos contra o regime de Maduro que acabaram em confrontos, o presidente Putin demonstrou apoio ao líder venezuelano e eles conversaram por telefone.

Um comunicado divulgado pelo Kremlin após o telefonema diz que Putin "enfatizou que a interferência externa destrutiva é uma grande violação das normas fundamentais do direito internacional".

Em um esforço do governo dos Estados Unidos para isolar o presidente russo, autoridades de alto escalão americano viajaram à Venezuela no sábado (05/03) para negociar o afastamento de Caracas de Moscou. Mas segundo a agência Reuters, nenhum acordo foi alcançado.

Cuba

Putin mantém laços cordiais com os cubanos, numa postura que lembra, em alguma medida, a histórica relação entre Cuba e a ex-União Soviética.

A Rússia continua como um dos principais parceiros comerciais de Cuba e um dos maiores críticos do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos ao país. Nos últimos anos, a Rússia enviou ajuda humanitária para Cuba enfrentar a pandemia de covid-19.

No dia 24 de janeiro, enquanto a crise russo-ucraniana aumentava, Putin e o presidente de Cuba, Miguel Diaz Canal Bermudes, tiveram uma conversa por telefone, em mais uma demonstração de proximidade entre os dois.

Após a invasão da Ucrânia, Cuba emitiu uma nota na qual não menciona os russos, mas critica duramente os EUA por impor "a expansão progressiva da OTAN em direção às fronteiras da Federação Russa".

"O governo dos EUA vem ameaçando a Rússia há semanas e manipulando a comunidade internacional sobre os perigos de uma 'invasão maciça iminente' da Ucrânia. Os EUA forneceram armas e tecnologia militar, enviaram tropas para vários países da região, aplicaram sanções unilaterais e injustas e ameaçaram com outras represálias", diz a nota de Cuba.

A agência de notícias Reuters afirmou que a declaração de Cuba foi feita poucas horas depois de a Rússia concordar em adiar até 2027 o pagamento de dívidas de Cuba com Moscou.

Em visita recente a Cuba, o presidente do Duma (o Parlamento russo), Vyacheslav Volodin, disse: "Eles [os EUA] não querem ver uma Rússia forte, eles não querem que a Rússia seja autossuficiente, e o mesmo para Cuba, eles não querem ver um povo livre, eles não querem ver um país independente".

Assim como outros aliados russos na América Latina, Cuba se absteve na votação que condenou as ações de Moscou na Assembleia-Geral das Nações Unidas. A posição é considerada uma demonstração de apoio suave da diplomacia cubana.

Nicarágua

Outro aliado de Putin é Daniel Ortega, o ex-guerrilheiro marxista que comanda a Nicarágua desde 2007, tendo chegado ao poder anteriormente em 1979, durante a Guerra Fria.

Ortega foi um dos primeiros líderes mundiais a apoiar a posição da Rússia sobre a Ucrânia. Ele defende que o presidente Vladimir Putin está certo ao reconhecer duas regiões controladas por separatistas apoiados por Moscou como independentes.

"Tenho certeza de que, se eles fizerem um referendo como o realizado na Crimeia, as pessoas votarão para anexar os territórios à Rússia", disse Ortega, outro líder latino-americano próximo a Putin que combate a influência dos EUA na região.

Assim como Cuba, a Nicarágua se absteve da votação contra Rússia nas Nações Unidas.

E a China?

A postura da China tem sido mais ambígua. O país pediu a diminuição das tensões na Ucrânia ? mas em diversos outros temas o governo de Pequim está alinhado com Moscou.

Putin visitou a China poucos dias antes da guerra, durante as Olimpíadas de Inverno, em um claro sinal da aproximação das duas nações. Na ocasião, a Rússia disse que apoia a política de Pequim sobre Taiwan, afirmando que se trata de uma província separatista que eventualmente fará parte da China novamente.

No mês passado, o principal diplomata da China, Wang Yi, disse em uma conferência na Alemanha: "A soberania, a independência e a integridade territorial de qualquer país devem ser respeitadas e salvaguardadas. A Ucrânia não é exceção."

Wang Yi vem mantendo conversas tanto com o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, quanto com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

Nas semanas que antecederam a invasão, Yi classificou as preocupações de Moscou em relação à sua segurança nacional como "legítimas", afirmando que elas deveriam ser "levadas a sério e discutidas".

Por meio da imprensa estatal, o governo em Pequim também afirmou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) adota uma posição agressiva ao se recusar a respeitar o direito soberano de outros países - como Rússia e China - de defender seu território.

A China ainda rechaçou a possibilidade de impor sanções contra a Rússia e classificou as penalidades econômicas anunciadas por Estados Unidos e Europa como ilegais.

"Não aprovamos as sanções financeiras, especialmente as sanções lançadas unilateralmente, porque elas não funcionam bem e não têm fundamento legal", disse Guo Shuqing, presidente da Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China, em entrevista coletiva. "Continuaremos a manter as trocas econômicas e comerciais normais com as partes relevantes", disse ele.

De forma bastante significativa, Pequim também não usou em nenhum de seus pronunciamentos a palavra "invasão" quando se trata das ações da Rússia na Ucrânia.

Mais recentemente, uma fonte americana afirmou à BBC News que a China tem demonstrado disposição para fornecer ajuda militar à Rússia. O Ministério de Relações Exteriores chinês, porém, acusou os Estados Unidos de espalhar informações falsas, enquanto o Kremlin negou ter solicitado qualquer tipo de auxílio de Pequim.

Mas ao mesmo tempo em que se aproxima da Rússia, em seus pronunciamentos públicos mais recentes o governo chinês vem instando todos os envolvidos a diminuir as tensões na Ucrânia.

Na terça-feira (8/3), o presidente Xi Jinping falou de forma direta sobre o confronto pela primeira vez e expressou uma posição mais solidária à Ucrânia. Durante uma videoconferência com o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz, o líder chinês pediu "contenção máxima" no conflito.

Ele disse ainda que "aprecia os esforços de França e Alemanha para atuar como mediadores na Ucrânia" e que Pequim também está disposto a desempenhar um papel ativo nas negociações.

Pequim ainda absteve-se do voto do Conselho de Segurança das Nações Unidas condenando a invasão russa da Ucrânia e da votação na Assembleia-Geral da ONU.

Segundo analistas consultados pela BBC News Brasil, a forma cautelosa - e até um pouco ambígua - com que Pequim vem lidando com a guerra na Ucrânia é reflexo dos temores do país em relação a possíveis retaliações econômicas e políticas.

E a Índia?

A Índia não condenou diretamente a invasão da Ucrânia até o momento e se absteve de votar na resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas contra a Rússia.

"A Índia está do lado da paz", mas tem conexões estreitas com ambos os lados, disse o primeiro-ministro Narendra Modi após a votação na ONU.

Nova Délhi é uma grande parceira econômica de Moscou, o que fortalece os laços entre as nações. Desde que as relações diplomáticas foram estabelecidas após a independência da Índia, os países adotam posições semelhantes e apoiam-se mutuamente em questões internacionais controversas.

E, segundo a agência Reuters, o governo indiano está considerando aceitar uma oferta russa para comprar petróleo e outras commodities com desconto.

A decisão iria na contramão de outros compradores de petróleo russo, como a Europa e os Estados Unidos, que suspenderam a importação após o anúncio das sanções contra Moscou.

A Índia, que importa 80% do petróleo que consome, geralmente compra apenas cerca de 2% ou 3% do que é importado da Rússia. Mas com a subida nos preços do petróleo, Nova Délhi pode estar buscando aumentar esse comércio para ajudar a reduzir sua crescente conta de energia.

"A Rússia está oferecendo petróleo e outras commodities com grande desconto. Ficaremos felizes em aceitar isso", disse um funcionário do governo indiano à Reuters.

A Rússia é ainda o maior fornecedor de armas da Índia, que enfrenta um momento de tensão em suas fronteiras com a China.


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