Topo

Começa uma nova era na Argentina com vitória do conservadorismo

Uta Thofern

23/11/2015 11h25

A eleição do conservador Mauricio Macri para a presidência significa uma grande chance para o país e é um sinal para a América Latina, opina a chefe do departamento latino-americano da DW, Uta Thofern.

O novo presidente na Casa Rosada não vai ser mais um peronista. E, mesmo assim, o céu não caiu sobre a cabeça de ninguém no Rio da Prata. As "campanhas do medo" empreendidas pelo governo Kirchner não funcionaram, a insatisfação dos eleitores foi maior que os temores. A Argentina votou com bravura e enviou, ao mesmo tempo, um sinal para toda a América Latina: o populismo é vencível.

Até o final, os partidários da presidente em fim de mandato Cristina Kirchner e seus amigos políticos, da Venezuela ao Equador, alertaram para um "retorno do neoliberalismo", caso a oposição vencesse. Segundo a ala governista, Mauricio Macri representa tudo o que desencadeou a última crise econômica devastadora no país. Em contrapartida, o candidato de Kirchner, Daniel Scioli, representaria a inclusão social, programas de desenvolvimento e um Estado forte.

Mas foi esse governo quem trouxe, em última instância, recessão e inflação aos argentinos. Os benefícios sociais foram financiados pelo boom das commodities, enquanto investimentos em infraestrutura foram negligenciados. Estatizações, controles cambiais rígidos e impostos de exportação elevados impediram um desenvolvimento autossustentável. No final, nem mesmo a solidariedade ostensiva de outros governos populistas de esquerda na América Latina ou uma política de contenção em parte agressiva frente aos modelos econômicos liberais conseguiram encobrir o fato de a Argentina estar economicamente abalada.

Macri prometeu, por outro lado, uma "revolução de alegria". O seu "sim, se pode" - a versão argentina do "yes, we can" de Obama - sugere confiança na força da Argentina para empreender mudanças. Mas mesmo que, para tal, ele tenha obtido uma maioria: essa maioria é pouca. Macri tem que provar agora que liberal não é o mesmo que neoliberal, que uma economia de mercado também pode ser social e que uma troca de poder não significa, automaticamente, que todas as conquistas do governo anterior serão revisadas.

Kirchner polarizou, Macri quer união. Sem maioria própria no Parlamento e com a maior parte dos governadores na ala oposicionista, isso não vai ser fácil. Além disso, há o fato de que cada um de seus passos passa a ser de importância internacional, pois com ele a Argentina não somente escolheu um novo presidente, mas também rejeitou um modelo político-econômico.

O "socialismo do século 21" acabou de sofrer uma grande derrota na Argentina. O que começou com um grande projeto de integração latino-americana, tendo sido inicialmente acompanhado com muita esperança e simpatia em nível internacional, não provou ser um modelo de sucesso. Agora, os países irmãos temem um efeito dominó.

Antes de Macri assumir o cargo, haverá eleições na Venezuela. No entanto, o presidente local já anunciou que não vai aceitar uma vitória eleitoral da oposição e ameaçou, descaradamente, continuar no poder por meio de uma "união civil-militar". Em comparação, com a troca pacífica de poder, os argentinos deram à vizinha Venezuela o brilhante exemplo de que a democracia é possível.