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Opinião: Assassinato de policiais atinge um país dividido

Ines Pohl (md)

08/07/2016 12h23

Mortes de cinco policiais em Dallas ocorrem em meio a uma campanha eleitoral marcada por tiradas racistas, vindas de Trump. Ninguém sabe como os EUA vão lidar com essa situação, afirma a correspondente Ines Pohl.

Mesmo com tantas coisas ainda desconhecidas, uma coisa é certa: na madrugada desta sexta-feira (08/07), cinco policiais foram baleados em Dallas e seis foram feridos, alguns seriamente. Este é o maior número de integrantes de forças de segurança mortos em um mesmo dia nos EUA desde 11 de setembro de 2001.

Tudo aconteceu durante uma grande manifestação, convocada sobretudo por grupos do movimento negro, como o Black Lives Matter (vidas negras importam, em português). Em apenas 48 horas, dois homens negros foram mortos por policiais brancos e manifestações foram convocadas em todo país para esta quinta-feira, em protesto contra a violência policial e o racismo. A maioria delas transcorreu pacificamente. Em nenhum lugar houve tiros e mortos.

Só em Dallas, e logo nessa dimensão. E isso apesar de Dallas ser uma cidade exemplar quando se trata de policiamento e violência policial. Em quase nenhuma outra cidade há tantos policiais negros e brancos trabalhando lado a lado. A princípio, não há uma explicação para a tragédia ocorrer exatamente nesta cidade.

Ainda não há nenhuma evidência concreta da polícia sobre a origem dos autores. Há, isso sim, algumas considerações plausíveis e, como sempre, teorias da conspiração. A única coisa clara é que esses incidentes ocorrem num país que está diante de um teste crucial, que em novembro terá que decidir entre dois candidatos presidenciais que não poderiam ser mais distintos e que é bombardeado há meses por tiradas cheias do mais profundo racismo, vindas de um Donald Trump em campanha eleitoral.

Trump e seus adeptos abriram novamente a caixa de pandora ao reativarem velhas fronteiras raciais, falando em "nós" contra "eles". Se Trump diz que os EUA devem ser grandes de novo, ele não quer dizer outra coisa senão que os EUA devem se tornar brancos de novo. Sua resposta aos desafios da globalização é, no fundo, a ideologia de uma raça superior.

Esse é o cenário emocional no qual aconteceu o assassinato dos policiais. E ninguém pode dizer se os Estados Unidos da América serão capazes de lidar serenamente com essa situação. Ou se as imagens de hoje e dos dias passados são documentos de uma reviravolta histórica.