Moçambicanos exigem paz
A Praça da Independência, em Maputo, encheu-se de gente. Foi aí que, no sábado (27.08), convergiram centenas de manifestantes para exigir o fim da crise económico-financeira no país e dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Foram lidas mensagens, ouviram-se discursos de ocasião e dezenas de pessoas cantaram "povo no poder, povo no poder", juntamente com o rapper moçambicano Azagaia.
O Parlamento Juvenil pediu uma maior participação da sociedade civil nas decisões políticas.
"Queremos a sociedade moçambicana na mesa do diálogo e que o processo de revisão da Constituição seja um processo inclusivo e participativo", disse Salomão Muchanga, líder do movimento de advocacia em prol dos direitos e prioridades da juventude, que organizou a marcha.
Dívidas
Durante a marcha, os manifestantes denunciaram também o aumento do custo de vida no país, que torna a "vida difícil", e houve ainda apelos à responsabilização dos autores de dívidas milionárias garantidas pelo Governo à revelia do Parlamento e dos parceiros internacionais.
Para Salomão Muchanga, é urgente que a Procuradoria-Geral da República (PGR) responsabilize os autores da dívida de 850 milhões de dólares garantida pelo Estado a favor da Empresa Moçambicana de Atum: "A dívida da EMATUM é privada, tem dono".
"Queremos que a PGR não se limite a lamentar, como lamenta o povo, mas tome uma posição enérgica", afirmou Muchanga.
Em julho, a Procuradoria reconheceu publicamente que houve uma violação da lei orçamental face à inobservância dos limites legais nas garantias concedidas pelo Estado a favor não só da empresa EMATUM, mas também da Proindicus e da Mozambique Asset Management, ambas ligadas ao setor da defesa marítima. Segundo a PGR, esta violação implicaria um ilícito criminal na forma de abuso de cargo ou função.
Os contornos das dívidas garantidas pelo Estado em 2013 e 2014 a favor das três empresas estão a ser investigados pela Procuradoria e pelo Parlamento.
Vários políticos, académicos e religiosos aconselharam, através da imprensa pública, que a marcha de sábado não se realizasse, considerando-a inoportuna, argumentando que o diálogo para a paz está em curso, que a crise económico-financeira é internacional e que a questão das garantias concedidas pelo Estado às dívidas das três empresas está a ser investigada.
Mas para a Presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabota, "se eles fossem bons políticos, eles é que deviam protestar e organizar as marchas, para as pessoas exigirem os seus direitos."
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