Os fatores que levaram à queda de Dilma
Erros na gestão econômica
Tal como seu antecessor, Dilma apostou inicialmente em uma "nova matriz econômica" baseada em desoneração de impostos, concessão em massa de crédito público, juros artificialmente baixos e crescimento por meio do consumo. Para segurar a inflação, Dilma também forcou o congelamento dos preços de combustíveis e da energia.
Somada à queda do preço de commodities, as medidas se revelaram um desastre. No final de 2015, o PIB sofreu uma queda de 3,8%. O governo também se mostrou incapaz de aprovar reformas para reverter o quadro. O mau desempenho econômico foi uma das causas fundamentais para a erosão da popularidade de Dilma. "Em 2014, após as eleições, ela não explicou à população por que teve que recuar de suas promessas de campanha. Simplesmente começou a fazer um ajuste, sem admitir erros", comentou o cientista político Rolf Rauschenbach, da Universidade de St. Gallen.
Falta de habilidade política
O desinteresse de Dilma pela política partidária já era notório antes mesmo da sua primeira eleição, em 2010. Com uma personalidade centralizadora, ela sempre mostrou pouca paciência para negociações. Esse estilo fez com que praticamente todas as grandes decisões passassem por ela. Já na época em que era ministra, Dilma delegava pouco, e, quando o fez, muitas vezes escolheu assessores que não gozavam de popularidade junto ao Congresso ou nunca concedeu autonomia para que eles desempenhassem suas funções com eficiência.
Isolamento e revolta do PMDB
No final do seu primeiro mandato, Dilma passou a isolar o PMDB, maior parceiro da base. Ela preferiu favorecer siglas recém-criadas, como o PSD e o PROS, considerados mais dóceis. O movimento passou a irritar figuras como Eduardo Cunha, que viria a se tornar o seu algoz no impeachment e porta-voz dos deputados insatisfeitos com a presidente. Nesse período, Dilma redobrou sua aposta. Chegou a ofertar para seu vice peemedebista, Michel Temer, um cargo de articulador político, mas na verdade nunca permitiu que ele desempenhasse a função. No final, Temer acabou se voltando contra Dilma. "Ela não demonstrou conhecimento de como uma coalizão é formada e, sobretudo, mantida", afirma Mariana Llanos, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga).
Miopia política diante de problemas
Quando a Lava Jato estourou, Dilma fez uma avaliação errada da situação. Segundo ex-aliados, a presidente achou, num primeiro momento, que o escândalo só afetaria a imagem do governo anterior. A mesma miopia ocorreu quando o impeachment começou a avançar.
Após assegurar uma vitória no Supremo que lhe garantiu uma condução mais neutra do processo, Dilma não fez uma ofensiva decisiva para barrar o processo ainda na Câmara. Apostou que a queda de Cunha era questão de tempo e que o movimento pró-impeachment perderia força no início de 2016. Em março, Dilma cometeu o erro de nomear Lula como ministro enquanto ele enfrentava investigações, sem se dar conta do impacto dessa medida na opinião pública. Após o afastamento, Dilma começou finalmente a negociar com políticos, mas também dispersou energia ao falar regularmente para plateias de militantes sem influência.
Impacto da corrupção
Nos últimos dois anos, a Operação Lava Jato adicionou um fator de imprevisibilidade na política brasileira. Os escândalos corroeram a imagem do seu governo, conforme os investigadores foram revelando o envolvimento de ministros, do seu tesoureiro de campanha e de figuras influentes do PT. Outros partidos e políticos foram implicados, mas as revelações - propagandeadas intensamente pela imprensa - tiveram principalmente o efeito de enterrar a imagem de intolerância com a corrupção que Dilma tentou cultivar no seu primeiro mandato e esfacelaram a credibilidade do PT.
Polarização e revanchismo
Após a vitória apertadíssima de Dilma em 2014, os partidos de oposição passaram a tentar reverter o resultado antes das eleições de 2018. "A oposição sabe que perdeu uma oportunidade quando não se aproveitou da crise do mensalão em 2005", afirmou o analista francês Gaspard Estrada. Inicialmente, vários políticos da oposição não simpatizaram com o impeachment, mas a pressão dos protestos nas ruas e a deterioração permanente da popularidade do governo tornaram o plano mais aceitável. O impeachment também foi a arma de políticos que procuraram se vingar do governo, como Eduardo Cunha, que aceitou o pedido logo após deputados do PT assinarem um pedido de cassação contra ele. Na votação da Câmara, velhos desafetos de Dilma, como ex-ministros que haviam sido demitidos por ela, votaram contra a presidente.
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