Alemanices: Cadê o ralo?
Jogar água nos azulejos e ensaboar banheiro e cozinha não fazem parte da faxina alemã. Com paninhos e produtos de limpeza, quem mora por aqui mostra que uma vida sem ralo é possível.Vaso sanitário, pia, azulejos, banheira. Tudo ensaboado, como exige qualquer faxina pesada. Chuveiro ligado, água para todos os lados. E nada de escoar. Olho embaixo da pia, do armário e nada. A sala ao lado começa a alagar. Confrontar-se com a vida alemã não poderia ser tão difícil: cadê o ralo?Não tem mesmo, nem no chão do banheiro, nem na cozinha. Nas casas e apartamentos alemães é raríssimo encontrar o artigo tão básico para quem está acostumado a fazer "aquela limpeza de verdade”. Apenas no chuveiro e na banheira. E o rodo? Também será um desafio encontrar.Aqui não é costume lavar a bacia ou a parede, também por uma questão ambiental. Para que gastar litros de água com a faxina se você tem um paninho e produtos químicos? Ou lenços umedecidos de limpeza que matam 99,9% das bactérias? O mesmo vale para banheiros e cozinhas de restaurantes, universidades e shoppings.O casal de alemães que dividia o apartamento comigo foi bem gentil e não reclamou da inundação, que levou 30 minutos para ser estancada. Sim, torci cada paninho à disposição dezenas de vezes até o chão ficar seco.Depois da primeira e memorável experiência de limpeza na Alemanha, ainda levou um tempo para eu me convencer que sem balde, água e rodo a casa também pode ficar limpa. Assim como entender que aqui homem faz xixi sentado, que é preciso secar a parede do box depois do banho e, mesmo com temperaturas negativas, abrir a janela para não acumular umidade e gera mofo.Quem vive na Alemanha e em muitos outros países da Europa que dispensam o ralo prova que a faxina pode ser boa sem ser pesada. Com o risco de provocar uma nova inundação, o jeito foi incorporar o costume.Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há três anos na Alemanha.
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