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Assalto cinematográfico no Paraguai levanta suspeita de participação do PCC

Jean-Philip Struck

25/04/2017 15h05

PF calcula que até 50 criminosos participaram do roubo a uma seguradora em Ciudad del Este. Dez são presos e outros três morrem em caçadas policiais.Um grupo formado por dezenas de homens armados protagonizou na madrugada desta segunda-feira (24/4) um assalto cinematográfico a uma empresa de transporte de valores em Ciudad del Este, na fronteira do Paraguai com o Brasil.A ação, que resultou em explosões, mortes, mais de uma dezena de carros incendiados, disparos e perseguição policial que atravessou a fronteira, foi classificada pela imprensa paraguaia como o maior roubo já registrado no país. Estimativas iniciais das autoridades apontavam que cerca de 40 milhões de dólares – em moeda americana, reais e guaranis – foram levados, mas a empresa apontou que o valor não passa de 8 milhões de dólares.Um policial morreu durante a ação e três moradores da rua onde fica o prédio ficaram feridos. Durante as caçadas aos criminosos, dez deles foram presos e três morreram. O Ministério do Interior paraguaio e a Polícia Federal brasileira calculam que até 50 criminosos participaram do assalto. Segundo a Polícia Federal, os suspeitos são brasileiros. O episódio levantou especulações sobre a participação da facção criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC).Durante a ação, 15 carros foram incendiados pelos criminosos próximos de postos policiais para provocar confusão. Explosivos também foram acionados em algumas ruas próximas, impedindo a aproximação da polícia. Segundo o Ministério do Interior, o arsenal dos criminosos superava a capacidade de resposta da polícia local. Houve pânico em parte da cidade. Algumas escolas chegaram a suspender as aulas durante a segunda-feira.O prédio atacado pelos criminosos pertence à transportadora espanhola Prosegur e fica a apenas 4 quilômetros da Ponte da Amizade. Segundo o jornal paraguaio ABC Color, a ação, que começou por volta de 0h30 desta segunda-feira (1h30 no horário de Brasília) envolveu o uso de explosivos para demolir as paredes do prédio, que sofreu danos pesados.Após pegarem os malotes, os criminosos enfrentaram policiais locais, mas se dividiram e conseguiram fugir. Pelo menos 12 deles seguiram para o Brasil.A perseguição foi então assumida pela Polícia Federal, que matou três criminosos e feriu outros dois na região de Itaipulândia, no Paraná. Novos enfrentamentos ocorreram na região ainda na madrugada desta terça-feira. Ao todo, dez suspeitos foram presos – o último no início da tarde desta terça-feira, em Cascavel, a 140 quilômetros do Paraguai.A PF apreendeu ainda sete quilos de explosivos, seis fuzis, sendo um deles de calibre .50 (usado para atacar veículos blindados e perfurar paredes), dois barcos e sete veículos – inclusive um carro da polícia paraguaia que havia sido roubado. Um malote foi recuperado com pelo menos 158 mil reais.Envolvimento do PCCO estilo do assalto tem muitas semelhanças com ações que ocorreram no Brasil em 2016. Em março do ano passado, criminosos atacaram a sede da Protege, em Campinas, no interior de São Paulo, e roubaram cerca de 50 milhões de reais. Em abril, na cidade de Santos, um caminhão derrubou o portão da sede local da Prosegur, a mesma empresa assaltada no Paraguai. Dois policiais foram mortos na ação, que resultou no roubo de 10 milhões de reais.Em entrevista a um jornal paraguaio, o ministro do Interior do Paraguai, Lorenzo Lezcano, afirmou que o método do assalto e a participação de brasileiros sugerem uma ação do PCC. "Tudo aponta que são integrantes do PCC", disse. Alguns policiais e promotores de São Paulo que investigam a atuação da facção e que foram ouvidos pela imprensa brasileira também reforçaram a suspeita. Já a Polícia Federal continua cautelosa e não confirmou a suspeita.Em 2016 já haviam surgido notícias de que o PCC estava se expandindo para o país vizinho. Em junho, o traficante brasileiro Jorge Rafaat Toumani, apelidado de o "rei da fronteira", foi executado numa emboscada no centro de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul.A ação também teve uso de armamento pesado. Os assassinos usaram fuzis antiaéreos para perfurar o jipe Hammer blindado do traficante, que acabou morrendo no veículo. O corpo tinha 16 perfurações. Nos meses seguintes, a região registrou pelo menos 38 outras execuções de "soldados" do traficante falecido, como se um novo regime estivesse sendo imposto. A imprensa paraguaia apontou o PCC como suspeito.Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, os negócios da facção na região são comandados por Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, que seria o terceiro homem na hierarquia do PCC. O próprio Willians Herbas Camacho, o Marcola, o chefe da facção que está preso, refugiou-se no Paraguai nos anos 1990 após cometer uma série de assaltos.Em 2014, a sede da Prosegur em Ciudad del Este já havia sido alvo de criminosos. Na ocasião, um grupo de paraguaios cavou um túnel de 350 metros de comprimento a partir de um imóvel próximo e tentou chegar ao cofre. Eles foram descobertos antes de concluírem o roubo e foram presos. O imóvel foi alugado por um cidadão brasileiro. À época, as autoridades locais já haviam levantado a suspeita de participação do PCC.