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Dia da Igreja Protestante reúne Obama e Merkel

Astrid Prange (md)

24/05/2017 11h42

Ex-presidente americano é a maior atração da festividade, realização a cada dois anos na Alemanha. Esta edição, em Berlim e Wittenberg, comemora os 500 anos da Reforma Luterana.O convidado mais proeminente entre os 140 mil participantes esperados no Dia da Igreja Protestante é o ex-presidente dos EUA Barack Obama. Quando ele conversar na manhã de quinta-feira (25/05) com a chanceler federal alemã e filha de pastor Angela Merkel, diante do Portão de Brandemburgo, sobre o tema responsabilidade, a mensagem será clara: a democracia exige confiança em Deus, gospel – e políticos que podem pregar, como Obama.É uma reunião de superlativos: 2.500 eventos, 30 mil colaboradores e convidados de todo o mundo celebram os 500 anos de Reforma Luterana e da cultura protestante do debate. Além estrelas políticas como Merkel e Obama, líderes espirituais destacados, filantropos e estrelas pop pregam, oram, cantam e debatem em Berlim e Wittenberg.Entre as personalidades mais conhecidas estão o arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba; o imã Ahmed el-Tayeb, da Mesquita de al-Azhar, no Cairo; a esposa de Bill Gates, Melinda; o cantor e compositor alemão Max Giesinger; o climatologista Ottmar Edenhofer; o enviado especial da ONU Staffan de Mistura e o escritor israelense Amos Oz.Made in GermanyO Dia da Igreja Protestante, que se comemora a cada dois anos desde 1949, é ao mesmo tempo cosmopolita e tipicamente alemão. O encontro foi criado pelo político alemão Reinold von Thadden-Trieglaff, que, como membro da Igreja Confessional, resistiu ao regime de Adolf Hitler, atuando como presidente do Dia da Igreja Protestante até 1964."Fora a Igreja Confessional, a Igreja Luterana não desempenhou um papel muito glorioso sob o nazismo, em grande parte", diz a porta-voz do Dia da Igreja Protestante Sirkka Jendis. "Ativistas leigos disseram, por isso: 'É preciso criar um fórum e contribuir para que tal coisa não aconteça novamente.'"O movimento protestante laico foi crescendo a partir da Semana Protestante de 1949, em Hanover. Ele passou a organizar regularmente encontros que se distanciavam intencionalmente da Igreja Luterana oficial."A amplitude de conteúdo e a relevância pública são algo único", sublinha a porta-voz. "Este Dia da Igreja pode se tornar político", avisa, fazendo referência aos numerosos debates programados para o encontro, sobre temas como migração, refugiados, guerra, tolerância e integração."Realismo cristão"Pensadores protestantes e teólogos não só influenciaram o Dia da Igreja Protestante na Alemanha, mas também conferiram destaque internacional ao encontro. Por isso, os motivos da visita de Obama ao Dia da Igreja Protestante não são apenas o aniversário da Reforma e Martinho Lutero.O ex-presidente dos Estados Unidos se sente ligado ao protestantismo também pelos escritos do teólogo teuto-americano Reinhold Niebuhr. Seu "realismo cristão", que prega a justiça na observância do bem comum e rejeita a arrogância nacional, foi considerado por Obama uma diretriz de sua presidência.Na Alemanha, esse fórum protestante foi influenciado pelas presidências honorárias exercidas por políticos como o ex-ministro do Desenvolvimento Erhard Eppler e o ex-presidente Richard von Weizsäcker. Eppler foi um dos líderes do movimento pacifista nos anos 80, Weizsäcker tentou, como presidente da Alemanha reunificada, de 1984 a 1994, superar a divisão do país.Na cova do leãoO evento também conta com estrelas da atual política alemã, como o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, que fala sobre o que mantém a Europa unida. O candidato social-democrata a chanceler federal, Martin Schulz, discute sobre credibilidade, e o presidente Frank-Walter Steinmeier participa de um culto em Wittenberg.O ministro do Interior Thomas de Maizière quebra recordes de presença no encontro, ao participar de sete eventos, incluindo de uma discussão com o imã Ahmed el-Tayeb. "Acho extraordinário que [Tayeb] venha e se disponha à discussão", comentou o político democrata-cristão alemão em entrevista ao jornal Die Zeit. "Convidados dispostos ao debate como ele são um ganho para o Dia da Igreja Protestante."Mas até mesmo a cultura protestante do debate tem seus limites. Antes do início do evento, houve protestos contra o convite a Anette Schultner, porta-voz nacional dos do grupo Cristãos da AfD. Ela pretende esclarecer ao público como sua fé e sua filiação ao partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) são compatíveis entre si."Precisamos aceitar diferentes posições", frisa Sirkka Jendis, para justificar o convite. "Acreditamos no diálogo e temos um público crítico", e o evento não oferece uma plataforma para populistas de direita. "O caso é exatamente o oposto: a senhora Schultner estará entrando na cova do leão" afirma a porta-voz do Dia da Igreja Protestante.