Que tal uma carona para cruzar o Atlântico? Foi assim que holandesa chegou ao Brasil
Plataformas aproximam donos de barcos em busca de companhia e potenciais viajantes. Mas jornada vai além de deitar no convés e apreciar o mar: muitas vezes é preciso trabalhar também, quase como um tripulante.
Antes de embarcar para o Brasil a bordo do veleiro Libelle, Marianne Eerenstein temia um desfecho trágico para a aventura. "Felizmente, não nos deparamos com nenhum iceberg”, brinca a holandesa de 27 anos, em referência ao conhecido naufrágio do Titanic.
Era sua primeira viagem marítima transatlântica, comandada por um marujo que conheceu em uma plataforma online de caronas em veleiros. Até encontrá-lo nas Ilhas Canárias, onde iniciariam a jornada de 24 dias rumo a Salvador, Bahia, eles só haviam conversado por Skype e trocado mensagens via Whatsapp.
O bate-papo virtual servia para que ambos verificassem se havia afinidade para um período tão longo a bordo. Era, também, a oportunidade para que ela conhecesse mais detalhes sobre o plano de viagem e soubesse como se preparar da melhor forma.
"Eu me senti absolutamente segura durante a viagem, pois o Frank é um marinheiro muito experiente. Este foi um dos meus critérios de seleção”, conta.
Marianne e Frank se encontraram na plataforma Crewbay, um entre vários sites que aproximam donos de barcos à procura de companhia e candidatos a tripulantes.
O funcionamento mistura elementos dos aplicativos de carona terrestre, como o Blablacar, e os de paquera, vide o Tinder. Com base no perfil criado pelo usuário e nos locais escolhidos como possíveis pontos de partida e chegada, os sites apresentam as possibilidades.
Os campos a serem preenchidos no cadastro variam entre as plataformas, mas estão relacionados aos hábitos e restrições do usuário, como o tipo de alimentação a bordo e a tolerância ao consumo de bebidas alcoólicas. Em relação à escolha do trajeto, é possível deixar essa opção em aberto e decidir o destino a partir das ofertas disponíveis.
Marianne e Frank foram acompanhados por um casal holandês a bordo. Assim, estava completa a capacidade do Libelle, construído por seu próprio dono durante um ano e meio e em atividade há 32.
Desde que terminou de construí-lo, Frank Schliewinsky adotou o iate como seu lar. Ele trabalha como consultor imobiliário e professor de inglês quando tem conexão com a internet. Prestes a completar 69 anos, acumula uma rodagem de 150 mil quilômetros nos mares, com duas travessias do Oceano Índico e outra pelo Pacífico, de Vancouver, no Canadá, até a costa oeste do Panamá.
Ele explica que o motivo de buscar acompanhantes não é tão relacionado à divisão das despesas, mas à ajuda que eles podem oferecer.
"Em percursos longos, pares extras de olhos e mãos podem ser úteis e, com sorte, ganho uma companhia a bordo no longo prazo", diz. Frank não exige que os tripulantes tenham experiência no mar. "A bagagem sempre ajuda, mas não é necessária."
Clima desfavorável
Na travessia para o Brasil, as tarefas dos caronas eram cozinhar e limpar. Eles também se revezavam em turnos durante a noite para vigiar o barco e as condições climáticas, que não estiveram sempre favoráveis.
"Houve momentos em que peças quebraram, e o capitão tinha que consertá-las de imediato, mesmo que as ondas estivessem altas”, relata Marianne. "O volante teve um defeito, e não pudemos guiar o iate por três horas. Mas Frank manteve a calma e fez os reparos necessários.”
O experiente canadense dá conselhos aos marinheiros de primeira viagem. "O clima e os outros navios sempre preocupam. O barco deve ser fácil de conduzir, confortável e apto a suportar vendavais e más condições marítimas, inevitáveis", recomenda.
Apesar dos percalços, Marianne recomenda a experiência e não vê a hora de voltar ao mar. "Às vezes, é intenso viajar em um veleiro, mas a experiência se torna incrível pelas noites estreladas, as lindas cenas do sol nascendo e se pondo, os golfinhos, as baleias, as algas bioluminescentes e os peixes voadores que encontramos no caminho”, conta.
Antes de embarcar no Libelle, ela só havia tido uma experiência marítima. Com outro marinheiro, viajou por cinco dias do sul de Portugal até Lisboa. A decisão de aceitar tripulantes com pouca ou nenhuma experiência fica a cargo do proprietário do barco. Há quem exija certificações específicas, para que os caronas dividam a condução.
O mesmo vale para a questão financeira: enquanto alguns donos de barco cobram um valor pela "passagem”, outros não querem contribuições financeiras ou apenas dividem o valor gasto com combustível e alimentos. Foi esse o acordo na viagem de Marianne ao Brasil, e o custo total ficou em 200 euros.
No geral, as empresas responsáveis pelas plataformas de carona marítima não cobram taxas e tampouco interferem na decisão dos preços. Uma porta-voz do FindACrew, um dos maiores sites do segmento, explica que a companhia não se responsabiliza pela segurança dos usuários, embora utilize mecanismos que reduzam as chances de problemas.
"Caso uma pessoa transporte drogas ou armas ilegais no barco, os membros não tem tantos meios para provar que não conheciam a outra pessoa antes caso se conectem por outras plataformas, fóruns ou pelo Facebook”, explica. "Tivemos membros que foram parar na cadeia após drogas terem sido encontradas no veleiro. Quem estava junto no barco foi solto com base nas evidências que oferecemos à corte."
Para evitar que a viagem dos sonhos se transforme em um pesadelo, o ideal é buscar plataformas conhecidas e usuários bem avaliados. Além dos sites já mencionados, outras opções são o CrewSeekers e Floatplan. Mais dicas podem ser encontradas no fórum Hitchwiki.
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