Pyeongchang: Jogos para quem?
Coreia do Sul se prepara para sediar seus primeiros Jogos Olímpicos de Inverno, mas nem todos os moradores estão satisfeitos com politização do evento e a participação de atletas norte-coreanos.Foi uma honra para Bae Seong-han, um sul-coreano de 40 anos do subúrbio de Seul, passar as férias de inverno com a mulher e os filhos em Pyeongchang, a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno deste ano.
Nas proximidades da pista de esqui, Bae observa o local onde atletas, em breve, competirão por medalhas. Mas neste dia gelado de janeiro, apenas seus gêmeos, de 7 anos, se aventuram: numa corrida em trenós de plástico amarelo.
"Quando eu tinha a idade dos meus filhos, os Jogos Olímpicos de Verão foram realizados em Seul", diz Bae, lembrando do evento de 1988. "Devido à fraca venda de ingressos, o governo distribuiu entradas para as escolas primárias. Foi assim que eu pude participar."
Pela primeira vez desde a Guerra da Coreia (1950-1953), o mundo estava olhando para a Coreia do Sul, uma economia emergente cuja população havia conquistado, perante um governo militar, o direito de realizar eleições livres.
Degelo diplomático
Neste ano, porém, é a vizinha do norte da Península Coreana que está ganhando manchetes. Há apenas algumas semanas, a Coreia do Norte ameaçava o sucesso dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang. Agora, é anunciada como parceiro num evento que vai muito além do esporte.
Algumas federações esportivas estrangeiras estavam preocupadas com a ideia de enviar atletas para Pyeongchang, localizada a apenas 80 quilômetros da zona desmilitarizada entre as duas Coreias. Laura Flessel, ministra do Esporte da França, considerou em setembro até mesmo um boicote ao evento.
Mas, desde seu discurso de Ano Novo, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, virou a mesa e conseguiu dar um golpe de relações públicas. Nas suas primeiras negociações conjuntas em dois anos, as duas Coreias concordaram não só com a participação do Norte nos Jogos como também com a criação de uma equipe conjunta de hóquei no gelo. A Federação Internacional de Bobsled (IBSF) também está encorajando os dois países a criar uma equipe conjunta, de quatro competidores.
Bae, porém, está chateado. "Para ser honesto, eu nem sei o que os norte-coreanos estão esperando destes Jogos. Afinal, tudo está relacionado ao esporte, e eles têm atletas de nível médio", comenta o morador de Seul.
Apenas uma dupla de patinação artística norte-coreana se classificou regularmente, os demais participantes dependeram de convites do Comitê Olímpico Internacional (COI). "Não nos envolvemos muito com a Coreia do Norte", diz Bae.
No entanto, o governo de centro-esquerda da Coreia do Sul saudou os avanços diplomáticos esportivos de Pyongyang. O presidente Moon Jae-in até fala da competição como "Jogos da paz", que poderiam representar um ponto de virada histórico na Península Coreana.
Ninguém em Pyeongchang parece estar preocupado com um conflito militar durante os Jogos. A estudante Han Eun-hee avalia que, em princípio, a participação da Coreia do Norte é positiva. Como voluntária, a jovem de 19 anos vai alimentar as redes sociais com fotos e histórias engraçadas durante os Jogos.
"Basicamente, nossa geração não se envolve muito com a Coreia do Norte, e a maioria das pessoas não quer a reunificação", diz. "No entanto, acredito que seria algo bom no longo prazo."
"Quase não há turistas"
A poucos passos de distância está a bela cidade vizinha de Daegwallyeong, onde é possível ver casas de tijolos enfileiradas em ruas calmas e um córrego congelado que atravessa o centro. Os restaurantes servem salmão, que é pendurado no inverno para secar no vento da montanha.
O morador Kim Ik-ne, de 53 anos, avalia que a vila tem pouco a ganhar com o evento. Ele e seus colegas estão sentados num ponto de táxi, bebendo café em copos de papel e esperando por clientes. "Geralmente, nós faturamos mais durante a temporada de inverno", diz Kim, falando em forte dialeto local.
Ele usa óculos coloridos, e seu rosto é marcado por sulcos profundos. "Neste ano, no entanto, quase não há turistas, porque a estação de esqui está fechada ao público. E, para nós, os Jogos Olímpicos estão sendo, acima de tudo, um grande revés", conta.
E se os visitantes dos Jogos de Inverno finalmente chegarem? "O COI organizou mais de mil ônibus para a estação de trem mais próxima, então dificilmente seremos necessários", afirma. Seus colegas concordam silenciosamente.
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Nas proximidades da pista de esqui, Bae observa o local onde atletas, em breve, competirão por medalhas. Mas neste dia gelado de janeiro, apenas seus gêmeos, de 7 anos, se aventuram: numa corrida em trenós de plástico amarelo.
"Quando eu tinha a idade dos meus filhos, os Jogos Olímpicos de Verão foram realizados em Seul", diz Bae, lembrando do evento de 1988. "Devido à fraca venda de ingressos, o governo distribuiu entradas para as escolas primárias. Foi assim que eu pude participar."
Pela primeira vez desde a Guerra da Coreia (1950-1953), o mundo estava olhando para a Coreia do Sul, uma economia emergente cuja população havia conquistado, perante um governo militar, o direito de realizar eleições livres.
Degelo diplomático
Neste ano, porém, é a vizinha do norte da Península Coreana que está ganhando manchetes. Há apenas algumas semanas, a Coreia do Norte ameaçava o sucesso dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang. Agora, é anunciada como parceiro num evento que vai muito além do esporte.
Algumas federações esportivas estrangeiras estavam preocupadas com a ideia de enviar atletas para Pyeongchang, localizada a apenas 80 quilômetros da zona desmilitarizada entre as duas Coreias. Laura Flessel, ministra do Esporte da França, considerou em setembro até mesmo um boicote ao evento.
Mas, desde seu discurso de Ano Novo, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, virou a mesa e conseguiu dar um golpe de relações públicas. Nas suas primeiras negociações conjuntas em dois anos, as duas Coreias concordaram não só com a participação do Norte nos Jogos como também com a criação de uma equipe conjunta de hóquei no gelo. A Federação Internacional de Bobsled (IBSF) também está encorajando os dois países a criar uma equipe conjunta, de quatro competidores.
Bae, porém, está chateado. "Para ser honesto, eu nem sei o que os norte-coreanos estão esperando destes Jogos. Afinal, tudo está relacionado ao esporte, e eles têm atletas de nível médio", comenta o morador de Seul.
Apenas uma dupla de patinação artística norte-coreana se classificou regularmente, os demais participantes dependeram de convites do Comitê Olímpico Internacional (COI). "Não nos envolvemos muito com a Coreia do Norte", diz Bae.
No entanto, o governo de centro-esquerda da Coreia do Sul saudou os avanços diplomáticos esportivos de Pyongyang. O presidente Moon Jae-in até fala da competição como "Jogos da paz", que poderiam representar um ponto de virada histórico na Península Coreana.
Ninguém em Pyeongchang parece estar preocupado com um conflito militar durante os Jogos. A estudante Han Eun-hee avalia que, em princípio, a participação da Coreia do Norte é positiva. Como voluntária, a jovem de 19 anos vai alimentar as redes sociais com fotos e histórias engraçadas durante os Jogos.
"Basicamente, nossa geração não se envolve muito com a Coreia do Norte, e a maioria das pessoas não quer a reunificação", diz. "No entanto, acredito que seria algo bom no longo prazo."
"Quase não há turistas"
A poucos passos de distância está a bela cidade vizinha de Daegwallyeong, onde é possível ver casas de tijolos enfileiradas em ruas calmas e um córrego congelado que atravessa o centro. Os restaurantes servem salmão, que é pendurado no inverno para secar no vento da montanha.
O morador Kim Ik-ne, de 53 anos, avalia que a vila tem pouco a ganhar com o evento. Ele e seus colegas estão sentados num ponto de táxi, bebendo café em copos de papel e esperando por clientes. "Geralmente, nós faturamos mais durante a temporada de inverno", diz Kim, falando em forte dialeto local.
Ele usa óculos coloridos, e seu rosto é marcado por sulcos profundos. "Neste ano, no entanto, quase não há turistas, porque a estação de esqui está fechada ao público. E, para nós, os Jogos Olímpicos estão sendo, acima de tudo, um grande revés", conta.
E se os visitantes dos Jogos de Inverno finalmente chegarem? "O COI organizou mais de mil ônibus para a estação de trem mais próxima, então dificilmente seremos necessários", afirma. Seus colegas concordam silenciosamente.
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