Colômbia tenta se acostumar com as Farc na política
Guerrilha abandonou as armas e entrou para a política, com ex-líder guerrilheiro Timochenko como candidato à presidência. Mas nem todos os colombianos veem a transformação com bons olhos.Rodrigo Londoño foi condenado por colocar bombas em delegacias de polícia, sequestrar políticos e forçar crianças a se unir a sua guerrilha, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
No fim de semana passado, ele subiu num palanque de um subúrbio pobre de Bogotá, vestindo uma camisa azul e um pulôver cinza que lhe conferiam um ar professoral. Numa tribuna de plástico, lançou sua candidatura à presidência da Colômbia, prometendo mudar a política nacional.
"Sabemos que não há confiança nos partidos políticos", afirmou Londoño para um público de cerca de 500 apoiadores, que se reuniu diante de um centro comunitário para ouvi-lo. "Estamos participando da eleição para barrar os políticos que se enriquecem com o dinheiro do povo", disse.
Com Londoño – mais conhecido como Timochenko – as Farc participam pela primeira vez de uma disputa presidencial desde que o grupo foi criado, em 1960. A antiga guerrilha virou um partido político no ano passado, depois de assinar um acordo de paz com o governo colombiano.
O acordo deixou o país mais perto de encerrar um conflito que já matou 220 mil pessoas e obrigou milhões a fugirem da regiões conflituosas. Um grupo menor, o Exército de Libertação Nacional (ELN), ainda tenta fechar um acordo semelhante com o governo.
Constrangimento
Mas a decisão de um ex-grupo guerrilheiro de baixar armas e aderir a uma campanha eleitoral não é bem-vista em toda a Colômbia. Na verdade, é uma questão controversa.
Muitos colombianos estremecem perante a ideia de um comandante guerrilheiro concorrendo ao cargo mais elevado do país. E uma boa parte deles preferiria ver Timochenko e seus líderes guerrilheiros atrás das grades. Na sua longa guerra contra o governo colombiano, as Farc destruíram infraestrutura e conduziram inúmeros ataques que mataram civis, enquanto lucravam com o comércio de cocaína.
"É constrangedor ver esse homem concorrer à presidência", afirmou Gladys Gutierrez, uma moradora de Ciudad Bolivar, nas proximidades de Bogotá. Ela disse que esbarrou por acaso no ato de campanha de Timochenko, no sábado. "Estas pessoas são terroristas e traficantes de drogas", assinalou, antes de ir embora, contrariada.
O jornalista Herbin Hoyos foi sequestrado pelas Farc em 1994 e levado para um acampamento remoto, onde permaneceu amarrado a uma árvore por mais de duas semanas. Hoyos, que foi salvo pelos militares, chama a campanha presidencial de Timochenko de "equívoco político" e "passo arrogante". "Eles deveriam responder pelos seus crimes antes de concorrer a um mandato", afirmou.
Assim como muitos outros países que negociaram o fim de uma guerra civil, a Colômbia se empenhou para fechar um acordo que acabasse com os conflitos e, ao mesmo tempo, garantisse algum grau de justiça para as vítimas. No caso da Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos e as Farc concordaram em criar um sistema judiciário de transição que vai investigar crimes de guerra e emitir sentenças especiais – sem penas de prisão – para guerrilheiros e militares que colaborarem com o tribunal.
O acordo de paz também absolveu os membros das Farc de condenações prévias por cortes colombianas e permitiu que eles participassem da política, desde que entregassem suas armas. Isso abriu caminho para que Timochenko e outros líderes, antes condenados, pudessem concorrer.
Associação com a violência
Apesar de essa parte do acordo irritar alguns colombianos, outros estão dispostos a deixar o passado para lá e aceitaram o fato de que as Farc vão concorrer em eleições.
"Acho que é hora de deixar para lá nossos ressentimentos e começar uma vida nova para este país", disse José Antônio Sanchez, um operário da construção civil que foi assistir ao comício de Timochenko ao lado de parentes. A guerrilha matou um sobrinho dele que trabalhava para a polícia. Mesmo assim, ele está disposto a ouvir os ex-guerrilheiros para "saber o que eles propõem".
Para o analista político Ariel Ávila, vai levar algum tempo até que setores mais amplos da sociedade colombiana aceitem os antigos guerrilheiros como parte da democracia do país. Um sinal da impopularidade das Farc é que a maioria dos partidos políticos prefere se afastar delas durante a campanha eleitoral. Até mesmo aqueles que apoiaram o acordo de paz.
"Ninguém quer fazer uma coalizão com as Farc porque as pessoas as associam à violência, e isso afasta eleitores", comentou Ávila. "Essa é, na verdade, uma das razões para as Farc terem de concorrer com candidato próprio."
Assentos garantidos no Congresso
Timochenko adotou um tom mais moderado no início de sua campanha, deixando de lado o discurso revolucionário em troca de promessas de combate à corrupção, melhoria dos serviços sociais e melhor distribuição de renda. O grupo também trocou seu logotipo: em vez de dois rifles, ele mostra agora uma rosa vermelha, à semelhança de muitos partidos de esquerda da Europa.
Mas a plataforma moderada e as novas táticas de marketing não deram grande impulso às Farc. Timochenko continua sendo um candidato menor, com cerca de 2% nas pesquisas de intenção de voto.
O acordo de paz garante às Farc dez assentos no Congresso durante a próxima legislatura. E o grupo quer ampliar esse número lançando um número ainda maior de candidatos nas eleições de março. Mas Ávila duvida que os ex-guerrilheiros consigam mais do que o mínimo garantido. Segundo ele, o registro de eleitores em áreas antes controladas pelas Farc não aumentou.
No longo prazo, a atuação das Farc no Congresso pode mudar a imagem delas e ajudar a promover a reconciliação. Os antigos guerrilheiros se queixam de terem sido vítimas de uma campanha midiática para arruinar a sua reputação e acreditam que sua atuação no legislativo pode ajudar a mudar isso.
"Queremos legislar para as pessoas comuns", disse Sandra Ramirez, uma candidata ao Senado pelas Farc, ao lado de Timochenko no palanque. "Para aqueles que não acreditam em nós, eu digo: vamos conversar e dialogar."
No fim de semana passado, ele subiu num palanque de um subúrbio pobre de Bogotá, vestindo uma camisa azul e um pulôver cinza que lhe conferiam um ar professoral. Numa tribuna de plástico, lançou sua candidatura à presidência da Colômbia, prometendo mudar a política nacional.
"Sabemos que não há confiança nos partidos políticos", afirmou Londoño para um público de cerca de 500 apoiadores, que se reuniu diante de um centro comunitário para ouvi-lo. "Estamos participando da eleição para barrar os políticos que se enriquecem com o dinheiro do povo", disse.
Com Londoño – mais conhecido como Timochenko – as Farc participam pela primeira vez de uma disputa presidencial desde que o grupo foi criado, em 1960. A antiga guerrilha virou um partido político no ano passado, depois de assinar um acordo de paz com o governo colombiano.
O acordo deixou o país mais perto de encerrar um conflito que já matou 220 mil pessoas e obrigou milhões a fugirem da regiões conflituosas. Um grupo menor, o Exército de Libertação Nacional (ELN), ainda tenta fechar um acordo semelhante com o governo.
Constrangimento
Mas a decisão de um ex-grupo guerrilheiro de baixar armas e aderir a uma campanha eleitoral não é bem-vista em toda a Colômbia. Na verdade, é uma questão controversa.
Muitos colombianos estremecem perante a ideia de um comandante guerrilheiro concorrendo ao cargo mais elevado do país. E uma boa parte deles preferiria ver Timochenko e seus líderes guerrilheiros atrás das grades. Na sua longa guerra contra o governo colombiano, as Farc destruíram infraestrutura e conduziram inúmeros ataques que mataram civis, enquanto lucravam com o comércio de cocaína.
"É constrangedor ver esse homem concorrer à presidência", afirmou Gladys Gutierrez, uma moradora de Ciudad Bolivar, nas proximidades de Bogotá. Ela disse que esbarrou por acaso no ato de campanha de Timochenko, no sábado. "Estas pessoas são terroristas e traficantes de drogas", assinalou, antes de ir embora, contrariada.
O jornalista Herbin Hoyos foi sequestrado pelas Farc em 1994 e levado para um acampamento remoto, onde permaneceu amarrado a uma árvore por mais de duas semanas. Hoyos, que foi salvo pelos militares, chama a campanha presidencial de Timochenko de "equívoco político" e "passo arrogante". "Eles deveriam responder pelos seus crimes antes de concorrer a um mandato", afirmou.
Assim como muitos outros países que negociaram o fim de uma guerra civil, a Colômbia se empenhou para fechar um acordo que acabasse com os conflitos e, ao mesmo tempo, garantisse algum grau de justiça para as vítimas. No caso da Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos e as Farc concordaram em criar um sistema judiciário de transição que vai investigar crimes de guerra e emitir sentenças especiais – sem penas de prisão – para guerrilheiros e militares que colaborarem com o tribunal.
O acordo de paz também absolveu os membros das Farc de condenações prévias por cortes colombianas e permitiu que eles participassem da política, desde que entregassem suas armas. Isso abriu caminho para que Timochenko e outros líderes, antes condenados, pudessem concorrer.
Associação com a violência
Apesar de essa parte do acordo irritar alguns colombianos, outros estão dispostos a deixar o passado para lá e aceitaram o fato de que as Farc vão concorrer em eleições.
"Acho que é hora de deixar para lá nossos ressentimentos e começar uma vida nova para este país", disse José Antônio Sanchez, um operário da construção civil que foi assistir ao comício de Timochenko ao lado de parentes. A guerrilha matou um sobrinho dele que trabalhava para a polícia. Mesmo assim, ele está disposto a ouvir os ex-guerrilheiros para "saber o que eles propõem".
Para o analista político Ariel Ávila, vai levar algum tempo até que setores mais amplos da sociedade colombiana aceitem os antigos guerrilheiros como parte da democracia do país. Um sinal da impopularidade das Farc é que a maioria dos partidos políticos prefere se afastar delas durante a campanha eleitoral. Até mesmo aqueles que apoiaram o acordo de paz.
"Ninguém quer fazer uma coalizão com as Farc porque as pessoas as associam à violência, e isso afasta eleitores", comentou Ávila. "Essa é, na verdade, uma das razões para as Farc terem de concorrer com candidato próprio."
Assentos garantidos no Congresso
Timochenko adotou um tom mais moderado no início de sua campanha, deixando de lado o discurso revolucionário em troca de promessas de combate à corrupção, melhoria dos serviços sociais e melhor distribuição de renda. O grupo também trocou seu logotipo: em vez de dois rifles, ele mostra agora uma rosa vermelha, à semelhança de muitos partidos de esquerda da Europa.
Mas a plataforma moderada e as novas táticas de marketing não deram grande impulso às Farc. Timochenko continua sendo um candidato menor, com cerca de 2% nas pesquisas de intenção de voto.
O acordo de paz garante às Farc dez assentos no Congresso durante a próxima legislatura. E o grupo quer ampliar esse número lançando um número ainda maior de candidatos nas eleições de março. Mas Ávila duvida que os ex-guerrilheiros consigam mais do que o mínimo garantido. Segundo ele, o registro de eleitores em áreas antes controladas pelas Farc não aumentou.
No longo prazo, a atuação das Farc no Congresso pode mudar a imagem delas e ajudar a promover a reconciliação. Os antigos guerrilheiros se queixam de terem sido vítimas de uma campanha midiática para arruinar a sua reputação e acreditam que sua atuação no legislativo pode ajudar a mudar isso.
"Queremos legislar para as pessoas comuns", disse Sandra Ramirez, uma candidata ao Senado pelas Farc, ao lado de Timochenko no palanque. "Para aqueles que não acreditam em nós, eu digo: vamos conversar e dialogar."
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