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Quem matou Marielle?

16/03/2018 08h22

Sob pressão de ativistas, políticos e entidades nacionais e internacionais, investigadores seguem sem dar resposta para assassinato que comoveu o Brasil. Munição usada teria sido comprada pela PF em 2006.Em plena intervenção federal, a Polícia Civil do Rio de Janeiro tenta esclarecer a morte da vereadora Marielle Franco, do Psol, e de seu motorista, Anderson Gomes, na quarta-feira (14/03). Sob pressão de ativistas, políticos e entidades nacionais e internacionais, os investigadores seguem sem resposta.

A principal hipótese analisada pela Delegacia de Homicídios do Rio é de que se tratou de uma execução premeditada, dada a ação dos criminosos. Amigos e familiares de Marielle acreditam que ela não chegou a sofrer ameaças de morte. Nenhum suspeito foi preso até então.

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O assassinato da vereadora provocou comoção e indignação em todo o Brasil. Milhares de manifestantes foram às ruas em várias cidades do país em repúdio à morte de Marielle e também como forma de reiterar o apoio a temas pelos quais ela lutava, como os direitos das mulheres e a inclusão social. A vereadora era conhecida ainda por ser crítica da violência policial.

A necessidade de dar continuidade à luta de Marielle foi enfatizada por amigas e moradoras do Complexo da Maré, onde a vereadora morava. Em entrevista à DW, elas afirmaram, porém, que o momento é também de comoção e medo: "A gente vem saindo de um lugar invisível e ganhando força na política. Parece que não adianta a gente se colocar, senão seremos mortas."

Além dos protestos da população, várias autoridades, instituições, ONGs e ativistas de direitos humanos vêm fazendo pressão por uma apuração rápida e esclarecimentos do caso.

Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o assassinato de Marielle é "um crime contra toda a sociedade e ofende diretamente os valores do Estado Democrático de Direito". O órgão disse estar acompanhando o caso e "espera agilidade na apuração e punição exemplar para os envolvidos".

A morte também gerou repercussão internacional. A ONU afirmou esperar rigor na investigação e uma breve elucidação, com responsabilização pela autoria do crime. A ONG Anistia Internacional, por sua vez, também pediu uma investigação imediata e rigorosa do assassinato.

Veja o que se sabe até o momento:

Local da morte

O incidente ocorreu na rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, a 700 metros da prefeitura do Rio e a 100 metros de uma estação de metrô.

Como agiram os criminosos

Os atiradores emparelharam um carro ao lado do de Marielle, abriram fogo e fugiram rapidamente do local, sem cometer nenhum roubo. A vereadora estava no banco de trás do veículo, um Chevrolet Agile branco, acompanhada de Anderson Gomes e de uma assessora, que foi atingida por estilhaços e teve ferimentos leves.

O carro foi baleado nove vezes. De acordo com a Polícia Civil, todos os disparos foram em direção ao banco de trás, onde estava a vereadora. Ela foi alvejada com ao menos quatro tiros na cabeça, e Anderson Gomes foi atingido por três disparos na lateral das costas.

Mais de um veículo envolvido no crime

A polícia investiga ainda a participação de outros dois veículos, que teriam dado cobertura aos atiradores. Um dos carros foi visto durante duas horas nos arredores da Casa das Pretas, na Lapa, onde Marielle participava do debate, e mais tarde seguiu o carro da vereadora. A placa foi identificada como sendo de Nova Iguaçu, município na Baixada Fluminense.

Segundo imagens de câmeras de segurança, dois homens estavam dentro do veículo e falavam no celular. Os investigadores coletam dados com as operadoras de telefonia para tentar identificar os autores das chamadas, bem como as pessoas com quem eles conversavam.

De acordo com a polícia, esse veículo teria trocado sinais de farol com um terceiro carro no momento da saída de Marielle do local. Ela e o motorista foram mortos minutos mais tarde, a quatro quilômetros dali.

Arma do crime

A munição utilizada pelos criminosos foi calibre 9 mm, que pode carregar submetralhadoras ou pistolas. Essa munição pode ser adquirida apenas por forças de segurança, colecionadores e atiradores esportivos. As balas de calibre 9 mm podem ser compradas mais facilmente no Paraguai, de onde são contrabandeadas para o Brasil e vendidas no mercado negro.

Segundo informações obtidas pela Rede Globo, a munição usada no crime é de lotes vendidos pela empresa CBC para a Polícia Federal de Brasília em dezembro de 2006. Uma perícia da Divisão de Homicídios indica que o lote é original, ou seja, a munição não teria sido recarregada.

O lote é o mesmo usado em uma chacina em agosto de 2015 em Barueri e Osasco, na Grande São Paulo, considerada a maior da história do estado, com 17 mortos. Três policiais militares e um guarda civil foram condenados nesse caso.

Diante das novas informações, a PF instaurou um inquérito para apurar a origem das munições e as circunstâncias envolvendo as cápsulas encontradas no local onde a vereadora foi morta.

Investigações

A polícia coletou informações no local do crime durante toda quinta-feira. A assessora de Marielle, cujo nome não foi divulgado por razões de segurança, prestou depoimento à polícia, que ouviu ainda outras testemunhas. O Disque Denúncia do Rio de Janeiro recebeu dez notificações sobre o caso até a noite desta quinta-feira.

A Polícia Civil acredita que Marielle foi seguida desde o momento em que saiu do evento no bairro da Lapa, num percurso de quatro quilômetros até o local onde seu carro foi alvejado.

Manifestações

Milhares de pessoas saíram às ruas de várias cidades brasileiras em atos de protesto contra a morte de Mariella e a violência. No Rio de Janeiro, uma grande multidão tomou a praça em frente à Câmara dos Vereadores. Manifestações ocorreram também em outros pontos do centro da cidade.

Em São Paulo, milhares de pessoas fecharam a Avenida Paulista num ato de repúdio ao assassinato. Protestos ocorreram também em várias capitais do país e também em Nova York e Portugal.

Reação no Parlamento Europeu

Deputados da bancada de esquerda do Parlamento Europeu condenaram o assassinato da vereadora e pediram à União Europeia (UE) que, diante do caso, suspenda as negociações do acordo comercial com o Mercosul.

Em sessão na sede do Parlamento em Estrasburgo, na França, vários eurodeputados ergueram cartazes com a frase "Marielle presente, hoje e sempre" em homenagem à política carioca.

RC/EK/ots

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