A estrangeira que acredita no Brasil
Estrangeiros podem ser mais otimistas com o Brasil do que os brasileiros? Socióloga espanhola que estuda o avanço da extrema direita no país aposta na força feminina para mudar o rumo das eleições, escreve Astrid Prange.Caros brasileiros,
Não, não vou falar de polarização nem de crise global. Vou falar é de esperança global. Pois nesta semana virei testemunha dos efeitos positivos da globalização: uma socióloga espanhola que fugiu da crise econômica na Espanha para o Brasil explicou política brasileira antes das eleições para alemães e brasileiros em Berlim – e conseguiu enxergar a crise brasileira com um olhar diferente.
Estou falando de Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ela chegou ao Brasil em 2010, uma época em que muitas universidades brasileiras contratavam cientistas estrangeiros porque faltavam professores e docentes no país. A socióloga se sentiu bem recebida no Brasil e descobriu no país um campo fértil para suas pesquisas.
Desde 2010 ela acompanha a crescente polarização política da sociedade brasileira e se concentra na pesquisa sobre a nova direita. Assim, tornou-se uma das especialistas para explicar o sucesso do movimento político em torno do candidato presidencial Jair Bolsonaro, do PSL.
As explicações dela deixaram menos amargo e mais alegre o debate que a Fundação Friedrich Ebert organizou em Berlim sob o lema "Brasil – democracia ameaçada!".
O remédio para aliviar as almas inquietas e preocupadas com o avanço da candidatura de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais foi realçar as conquistas sociais dos últimos 25 anos no Brasil – no combate à pobreza e a favor dos direitos humanos. "Se existe uma reação tão violenta da direita é porque a esquerda avançou muito", disse Esther Solano.
Ela lembrou ainda que o movimento feminista é "superpotente" no Brasil e, como muitos outros observadores, disse estar convencida de que o voto feminino vai decidir as eleições – ou melhor, frear Bolsonaro. O grupo recentemente criado no Facebook "Mulheres unidas contra Bolsonaro" tem quase quatro milhões de integrantes.
Dois grandes eventos brasileiros servem para mostrar como os grupos sociais e os valores morais atualmente se chocam: a Marcha de Jesus, que acontece todo ano, e a Parada Gay em São Paulo. Em 2018, três milhões de pessoas participaram da parada do orgulho LGBTQI. Já a Marcha de Jesus, considerada o maior evento de reunião de igrejas cristãs do país, juntou 1,5 milhão de pessoas.
Antigamente muitos evangélicos juntaram a fé em Deus com a fé na política e, especialmente, no PT. "Nas eleições anteriores, os evangélicos majoritariamente votaram no PT, mas depois passaram a votar nas bancadas evangélicas em deputados federais e estaduais. Era uma forma de solução desse aparente paradoxo", explicou Solano. Hoje, afirmou ela, "mais da metade da população evangélica diz que vota no Bolsonaro".
A socióloga não nega que a onda da nova direita é forte no mundo inteiro. Segundo ela, o fortalecimento de políticas conservadoras, a discriminação contra imigrantes, refugiados, minorias e mulheres e o aumento da violência e agressividade no debate político não representam um fenômeno brasileiro, mas mundial.
Mas em vez de desistir e entregar o território aos movimentos da direita, Solano aposta na mobilização da sociedade brasileira e especialmente nas mulheres. "Nunca na história o voto feminino e a questão do gênero foram tão importantes. Bolsonaro tem uma rejeição muito grande entre as mulheres. A força dessa mobilização é muito potente."
Será que ela deposita mais confiança e otimismo no Brasil do que os próprios brasileiros? Será que é a gratidão de ser bem recebida num país hospitaleiro? Confesso que não quero perder essa imagem positiva e querida do Brasil. A admiração por um Brasil que venceu tantas crises. O confisco das poupanças no Plano Collor II em 1990, por exemplo, teria provocado um quebra-quebra geral na Alemanha. O Brasil sobreviveu a esse choque. Torço para sobreviver a essa eleição polarizada também, e torço pela força feminina.
Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.
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Não, não vou falar de polarização nem de crise global. Vou falar é de esperança global. Pois nesta semana virei testemunha dos efeitos positivos da globalização: uma socióloga espanhola que fugiu da crise econômica na Espanha para o Brasil explicou política brasileira antes das eleições para alemães e brasileiros em Berlim – e conseguiu enxergar a crise brasileira com um olhar diferente.
Estou falando de Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ela chegou ao Brasil em 2010, uma época em que muitas universidades brasileiras contratavam cientistas estrangeiros porque faltavam professores e docentes no país. A socióloga se sentiu bem recebida no Brasil e descobriu no país um campo fértil para suas pesquisas.
Desde 2010 ela acompanha a crescente polarização política da sociedade brasileira e se concentra na pesquisa sobre a nova direita. Assim, tornou-se uma das especialistas para explicar o sucesso do movimento político em torno do candidato presidencial Jair Bolsonaro, do PSL.
As explicações dela deixaram menos amargo e mais alegre o debate que a Fundação Friedrich Ebert organizou em Berlim sob o lema "Brasil – democracia ameaçada!".
O remédio para aliviar as almas inquietas e preocupadas com o avanço da candidatura de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais foi realçar as conquistas sociais dos últimos 25 anos no Brasil – no combate à pobreza e a favor dos direitos humanos. "Se existe uma reação tão violenta da direita é porque a esquerda avançou muito", disse Esther Solano.
Ela lembrou ainda que o movimento feminista é "superpotente" no Brasil e, como muitos outros observadores, disse estar convencida de que o voto feminino vai decidir as eleições – ou melhor, frear Bolsonaro. O grupo recentemente criado no Facebook "Mulheres unidas contra Bolsonaro" tem quase quatro milhões de integrantes.
Dois grandes eventos brasileiros servem para mostrar como os grupos sociais e os valores morais atualmente se chocam: a Marcha de Jesus, que acontece todo ano, e a Parada Gay em São Paulo. Em 2018, três milhões de pessoas participaram da parada do orgulho LGBTQI. Já a Marcha de Jesus, considerada o maior evento de reunião de igrejas cristãs do país, juntou 1,5 milhão de pessoas.
Antigamente muitos evangélicos juntaram a fé em Deus com a fé na política e, especialmente, no PT. "Nas eleições anteriores, os evangélicos majoritariamente votaram no PT, mas depois passaram a votar nas bancadas evangélicas em deputados federais e estaduais. Era uma forma de solução desse aparente paradoxo", explicou Solano. Hoje, afirmou ela, "mais da metade da população evangélica diz que vota no Bolsonaro".
A socióloga não nega que a onda da nova direita é forte no mundo inteiro. Segundo ela, o fortalecimento de políticas conservadoras, a discriminação contra imigrantes, refugiados, minorias e mulheres e o aumento da violência e agressividade no debate político não representam um fenômeno brasileiro, mas mundial.
Mas em vez de desistir e entregar o território aos movimentos da direita, Solano aposta na mobilização da sociedade brasileira e especialmente nas mulheres. "Nunca na história o voto feminino e a questão do gênero foram tão importantes. Bolsonaro tem uma rejeição muito grande entre as mulheres. A força dessa mobilização é muito potente."
Será que ela deposita mais confiança e otimismo no Brasil do que os próprios brasileiros? Será que é a gratidão de ser bem recebida num país hospitaleiro? Confesso que não quero perder essa imagem positiva e querida do Brasil. A admiração por um Brasil que venceu tantas crises. O confisco das poupanças no Plano Collor II em 1990, por exemplo, teria provocado um quebra-quebra geral na Alemanha. O Brasil sobreviveu a esse choque. Torço para sobreviver a essa eleição polarizada também, e torço pela força feminina.
Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.
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