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O que disse Bolsonaro nas primeiras entrevistas após a eleição

30/10/2018 07h41

Flexibilização do porte de armas, reforma da Previdência, "rótulo de homofóbico", "fake news" e possível presença de Moro no governo foram alguns dos temas abordados pelo presidente eleito.Um dia após ser eleito presidente, Jair Bolsonaro (PSL) concedeu uma série de entrevistas nesta segunda-feira (29/10), veiculada pela TV Record, pela Band, pelo SBT e pela Globo.

Além de afirmar que pretende convidar o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, para compor o governo, o capitão da reserva abordou temas como Mercosul, reforma da Previdência e desarmamento.

Confira algumas das declarações de Bolsonaro:

Ministros

O presidente eleito afirmou que deve confirmar nos próximos dias a indicação do astronauta e major da reserva Marcos Pontes para comandar o Ministério da Ciência e Tecnologia. Já foram confirmados os nomes do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para a Casa Civil, do general da reserva Augusto Heleno para a Defesa e do economista Paulo Guedes para a Economia.

Sobre Moro, Bolsonaro disse que pretende indicá-lo para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) ou para ser seu ministro da Justiça. "Pretendo conversar previamente com ele. Com toda certeza será uma pessoa de extrema importância", afirmou à emissora Record.

Reforma da Presidência

Bolsonaro disse que planeja ir a Brasília na próxima semana para tentar aprovar parte da reforma da Previdência que está parada no Congresso, aguardando votação na Câmara.

"Buscaremos junto ao atual governo, de Michel Temer, aprovar alguma coisa do que está em andamento lá, como a reforma da Previdência, se não o todo, parte do que está sendo proposto, o que evitaria problemas para o futuro governo", afirmou à TV Record.

"A nossa reforma é um pouco diferente da do Temer, mas nós vamos procurar o governo e procurar salvar alguma coisa dessa reforma [...]Ela é bem-vinda e será feita, no que depender de nós, com muito critério e com muita responsabilidade", declarou ao SBT.

O projeto de reforma apresentado pelo governo Temer está parado desde fevereiro, quando teve início a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. A intervenção deve terminar em 31 de dezembro e, enquanto ela está em curso, não é permitido alterar a Constituição.

Mercosul

Após seu guru econômico, Paulo Guedes, declarar que o Mercosul (formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, atualmente suspensa) não será prioridade do novo governo, Bolsonaro afirmou que o tratamento dado ao bloco tem que mudar. Segundo o capitão reformado, o Mercosul foi supervalorizado devido a questões ideológicas, que protegiam certos países que "burlavam" regras. "Queremos nos livrar de algumas amarras do Mercosul”, disse.

Imprensa

Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Bolsonaro voltou a criticar o jornal Folha de S. Paulo, que publicou matérias investigativas sobre ele durante a campanha eleitoral.

Ele disse que o jornal não receberá recursos de publicidade de seu governo. "Não quero que [a Folha] acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal. Por si só esse jornal se acabou", afirmou após se referir a reportagens publicadas em janeiro pela Folha.

Na ocasião, o jornal denunciou que Bolsonaro, então deputado federal, usava verbas da Câmara para pagar a funcionária fantasma Walderice dos Santos da Conceição, ex-assessora dele que vendia açaí e prestava serviços na casa de veraneio do político em Angra dos Reis. Walderice pediu demissão do gabinete do deputado depois das revelações feitas pela Folha.

Ele também criticou uma reportagem publicada neste mês, em o que jornal revela que empresas teriam desembolsado milhões de reais para comprar serviços de envio de mensagens em massa a usuários da rede social a fim de favorecer Bolsonaro. O caso levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a abrir uma investigação para apurar irregularidades. "Uma grande mentira, mais um fake news do jornal Folha de S. Paulo, lamentavelmente", afirmou.

Bolsonaro negou que pretenda controlar a mídia e disse ser favorável à liberdade de expressão. "Quem vai impor limite é o leitor. O controle é o controle remoto, nada além disso. O cidadão na ponta da linha é quem vai decidir."

Estatuto do Desarmamento

O presidente eleito defendeu a redução da idade para posse de arma de 25 para 21 anos e que o porte seja definitivo, sem a necessidade de renová-lo periodicamente.

"Temos de abandonar o politicamente correto. Achar que não ter armas melhora o país, não é isso. Arma de fogo garante a liberdade de uma pessoa", disse à TV Record.

"Um dos dispositivos lá do estatuto do desarmamento diz que você precisa comprovar a efetiva necessidade para comprar a arma de fogo e quem decide isso aí é a Polícia Federal [...] A orientação nossa é que a efetiva necessidade está comprovada pelo estado de violência em que vive o Brasil. Nós estamos em guerra, todo mundo diz isso aí, vocês mesmo da imprensa dizem isso aí", disse.

Minorias

Bolsonaro defendeu que todos tenham as mesmas condições econômicas e financeiras, sem tratar determinados grupos como minorias. "Certas minorias podem achar que têm superpoderes por serem diferentes dos demais. Somos iguais, Artigo 5º da Constituição: sem diferença de gênero, cor da pele e região onde nasceu. O que se tem fazer é procurar a igualdade de patrimônio para todos e aí todos ficam satisfeitos", afirmou à Record.

Ao ser questionado durante a entrevista ao Jornal Nacional sobre o que diria para quem manifestar preconceito ou for agressivo com gays, o capitão reformado disse que a agressão contra o outro deve ser punida, e que "se for por um motivo como esse tem que ter pena agravada".

O presidente eleito criticou o "rótulo de homófobico" a ele atribuído. "Na verdade, fui contra a um kit feito pelo então ministro da Educação, Haddad, que de 2009 para 2010, onde chegaria nas escolas um conjunto de livros e cartazes e filmes onde passaram crianças se acariciando e meninos se beijando. Não poderia concordar com isso. [...] Mas o rótulo ficou em cima de mim."

Constituição

No Jornal Nacional, Bolsonaro foi questionado sobre o que diria àqueles que insistem em dizer que a eleição dele é um risco para a democracia. "Primeiro, dizer-lhes que as eleições acabaram. Chega de mentira. Chega de fake news. Realmente agora estamos em outra época. Eu quero governar para todos, como você bem disse, no Brasil. Não apenas para os que votaram em mim. Temos uma Constituição que tem que ser, realmente, a nossa Bíblia aqui na terra. Respeitá-la, porque só dessa maneira podemos conviver em harmonia", afirmou.

Oposição

Bolsonaro disse à TV Record estar pronto para conversar com os candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT), derrotados nas eleições. "Converso com eles apesar da campanha que fizeram para me desconstruir."

O capitão reformado foi questionado sobre uma declaração feita a poucos dias da eleição, durante manifestações em apoio à sua candidatura, quando disse que os "marginais vermelhos" seriam banidos do país.

"Foi um discurso inflamado, com a Avenida Paulista cheia, e logicamente estava me referindo à cúpula do PT e à cúpula do Psol. O próprio [presidenciável Guilherme] Boulos (Psol) havia dito que invadiria minha casa na Barra da Tijuca por não ser produtiva. Vimos o candidato do PT derrotado em vídeo dizendo que a crise no Brasil só acabaria quando Lula fosse eleito presidente", afirmou.

"Então, foi um momento de desabafo e em um discurso acalorado, mas não ofendi a honra de ninguém. No Brasil de Jair Bolsonaro, quem desrespeitar a lei sentirá o peso da mesma contra sua pessoa."

Congresso

Bolsonaro disse que não irá interferir no processo de sucessão na Mesa Diretora da Câmara, que inclui a presidência da Casa. Ele disse que se o presidente da República interfere, "ganha um inimigo para o resto da vida". O atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado de Bolsonaro, tenta a reeleição e aguardava seu apoio.

Para o presidente eleito, "pela governabilidade" seria bom "diversificar" os cargos da Mesa Diretora da Câmara e é preciso que os partidos políticos definam os cargos, e não ele. "Eu gostaria que nós [o PSL] não lutássemos pela presidência da Câmara. Seria um início de gesto de humildade. Pela governabilidade, seria bom diversificarmos os partidos", afirmou à Record.

LPF/abr/ots

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