Como lidar com o negacionismo climático?
Representantes do populismo de direita, hoje maior força de oposição na Alemanha, tentam distorcer o debate sobre mudanças climáticas no país. Ambientalistas enfrentam um dilema: refutar ou ignorar?O deputado alemão Karsten Hilse, do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), raramente levanta a voz ou chama a atenção com um tom estridente, com comumente o fazem os líderes de sua legenda – Alice Weidel e Alexander Gauland.
Mas Hilse é não é menos radical. Ele é porta-voz da AfD para política climática – e diz não acreditar no aquecimento global. Seu objetivo é fazer com que a Alemanha deixe o Acordo Climático de Paris. De preferência já na COP24, conferência internacional que começa na próxima semana em Katowice, na Polônia.
Ele apoia as empresas de exploração de carvão que restaram no leste alemão e que em breve serão fechadas porque prejudicam o clima. E ele quer que os alemães parem de pensar sobre como podem combater as mudanças climáticas provocadas pelo Homem. Porque, para ele, os seres humanos não são culpados pelo aumento das temperaturas.
Para o político de 53 anos, partidos políticos tradicionais se uniram à mídia para criar uma religião ambiental irracional que força os cidadãos a pagar, em todo o mundo, por pecados climáticos imaginários.
"Especialmente na TV pública, não passa um dia sem que as pessoas sejam persuadidas de que são responsáveis pela catástrofe que está por vir e que, portanto, precisam ser boazinhas e prestar seu apoio às energias renováveis", disse Hilse à DW.
Da forma como ele vê, as mudanças climáticas se tornaram um substituto de religião. E, nessa visão de mundo, Karsten Hilse e seu partido são os iluministas ateístas e racionais. Em sua tentativa de convencer os outros dessa posição, Hilse desafia não apenas a política e a mídia, mas também a ciência.
A sede do Partido Verde alemão se encontra a poucos minutos de bicicleta do prédio do Bundestag em Berlim. Na coletiva semanal de imprensa, a copresidente dos verdes Annalena Baerbock afirmou que o ceticismo da AfD sobre as mudanças climáticas nada mais é do que uma contestação cínica sobre a ciência.
"A AfD não apoia a liberdade de pesquisa em nosso país. Não aceita que tenhamos resultados científicos em todos os setores climáticos, inclusive no debate sobre o clima empreendido por todos os cientistas do mundo, em vez disso, ela procura questionar a ciência", disse.
A afirmação de Baerbock não corresponde inteiramente à realidade: na verdade, há cientistas que rejeitam o conceito das mudanças climáticas causadas por humanos, mas eles são poucos e não são especialistas climáticos. Como os signatários da Petição do Oregon, de 2007, em que alguns pesquisadores colocam em dúvida as mudanças climáticas e que é considerada duvidosa.
A maior parte dos especialistas defende a ideia de que a humanidade precisa mudar seu modo de vida para evitar as mudanças do clima. No entanto, para Karsten Hilse, da AfD, a ciência "não é uma democracia" determinada por uma "maioria".
"Olhem para o caso de Copérnico, que foi o primeiro a dizer que a Terra não se encontra no centro do nosso Sistema Solar, mas o Sol", afirmou Hilse. "Quantos especialistas não disseram então: 'Você é louco?'", indagou o político populista de direita. "A ciência não tem nada a ver com a democracia."
Na verdade, o argumento de Hilse é falho: a teoria heliocêntrica de Copérnico acabou sendo aceita como correta, porque ele era um cientista mais competente que seus detratores, mas não porque não se deva, em princípio, acreditar em especialistas.
O fato de que até mesmo a Alemanha não deverá alcançar os seus próprios objetivos climáticos até 2020 é, para Hilse, um sinal da fraqueza desses "acordos não vinculativos". A conclusão da AfD é portanto: por que participar? Para os verdes, no entanto, esse é um motivo para persuadir o governo alemão a investir mais na proteção climática, em vez de desperdiçar tempo e energia em discussões com a AfD.
"A AfD quer abolir todo esse debate político, por isso não adianta tentar conversar com eles o tempo todo", disse Baerbock. "Em vez disso, temos que instar o governo alemão, que hoje infelizmente não cumpre as metas de proteção climática do Acordo de Paris, a ir mais adiante."
Embora a AfD seja, em primeira linha, um partido anti-imigração, talvez se pudesse dizer que Hilse é um lobo solitário sem chances, cuja visão de mundo confusa pudesse ser seguramente ignorada. Mas Hilse não está sozinho em seu partido.
Embora o ceticismo da legenda populista de direita sobre as mudanças climáticas tenha recebido pouca atenção até agora, com sua forma de agir, eles estão mudando as regras do jogo político. Hilse argumenta que seu único desejo é representar perspectivas alternativas e "deixar as próprias pessoas formarem uma opinião."
Baerbock, no entanto, vê isso como algo ameaçador: uma destruição dos fundamentos democráticos da ecologia moderna e que isso seria uma dupla vitória para os populistas de direita: "Entre os liberais e partes dos conservadores, diz-se agora subitamente: 'em consideração à AfD, não devemos falar muito sobre a política climática'", afirmou Baerbock à DW." Isso é absolutamente errado. Assim se faz o jogo dos populistas de direita."
E assim o populismo da AfD contribui para o fato de que a política climática alemã, que já perdeu muito em entusiasmo, se enfraqueça ainda mais.
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Mas Hilse é não é menos radical. Ele é porta-voz da AfD para política climática – e diz não acreditar no aquecimento global. Seu objetivo é fazer com que a Alemanha deixe o Acordo Climático de Paris. De preferência já na COP24, conferência internacional que começa na próxima semana em Katowice, na Polônia.
Ele apoia as empresas de exploração de carvão que restaram no leste alemão e que em breve serão fechadas porque prejudicam o clima. E ele quer que os alemães parem de pensar sobre como podem combater as mudanças climáticas provocadas pelo Homem. Porque, para ele, os seres humanos não são culpados pelo aumento das temperaturas.
Para o político de 53 anos, partidos políticos tradicionais se uniram à mídia para criar uma religião ambiental irracional que força os cidadãos a pagar, em todo o mundo, por pecados climáticos imaginários.
"Especialmente na TV pública, não passa um dia sem que as pessoas sejam persuadidas de que são responsáveis pela catástrofe que está por vir e que, portanto, precisam ser boazinhas e prestar seu apoio às energias renováveis", disse Hilse à DW.
Da forma como ele vê, as mudanças climáticas se tornaram um substituto de religião. E, nessa visão de mundo, Karsten Hilse e seu partido são os iluministas ateístas e racionais. Em sua tentativa de convencer os outros dessa posição, Hilse desafia não apenas a política e a mídia, mas também a ciência.
A sede do Partido Verde alemão se encontra a poucos minutos de bicicleta do prédio do Bundestag em Berlim. Na coletiva semanal de imprensa, a copresidente dos verdes Annalena Baerbock afirmou que o ceticismo da AfD sobre as mudanças climáticas nada mais é do que uma contestação cínica sobre a ciência.
"A AfD não apoia a liberdade de pesquisa em nosso país. Não aceita que tenhamos resultados científicos em todos os setores climáticos, inclusive no debate sobre o clima empreendido por todos os cientistas do mundo, em vez disso, ela procura questionar a ciência", disse.
A afirmação de Baerbock não corresponde inteiramente à realidade: na verdade, há cientistas que rejeitam o conceito das mudanças climáticas causadas por humanos, mas eles são poucos e não são especialistas climáticos. Como os signatários da Petição do Oregon, de 2007, em que alguns pesquisadores colocam em dúvida as mudanças climáticas e que é considerada duvidosa.
A maior parte dos especialistas defende a ideia de que a humanidade precisa mudar seu modo de vida para evitar as mudanças do clima. No entanto, para Karsten Hilse, da AfD, a ciência "não é uma democracia" determinada por uma "maioria".
"Olhem para o caso de Copérnico, que foi o primeiro a dizer que a Terra não se encontra no centro do nosso Sistema Solar, mas o Sol", afirmou Hilse. "Quantos especialistas não disseram então: 'Você é louco?'", indagou o político populista de direita. "A ciência não tem nada a ver com a democracia."
Na verdade, o argumento de Hilse é falho: a teoria heliocêntrica de Copérnico acabou sendo aceita como correta, porque ele era um cientista mais competente que seus detratores, mas não porque não se deva, em princípio, acreditar em especialistas.
O fato de que até mesmo a Alemanha não deverá alcançar os seus próprios objetivos climáticos até 2020 é, para Hilse, um sinal da fraqueza desses "acordos não vinculativos". A conclusão da AfD é portanto: por que participar? Para os verdes, no entanto, esse é um motivo para persuadir o governo alemão a investir mais na proteção climática, em vez de desperdiçar tempo e energia em discussões com a AfD.
"A AfD quer abolir todo esse debate político, por isso não adianta tentar conversar com eles o tempo todo", disse Baerbock. "Em vez disso, temos que instar o governo alemão, que hoje infelizmente não cumpre as metas de proteção climática do Acordo de Paris, a ir mais adiante."
Embora a AfD seja, em primeira linha, um partido anti-imigração, talvez se pudesse dizer que Hilse é um lobo solitário sem chances, cuja visão de mundo confusa pudesse ser seguramente ignorada. Mas Hilse não está sozinho em seu partido.
Embora o ceticismo da legenda populista de direita sobre as mudanças climáticas tenha recebido pouca atenção até agora, com sua forma de agir, eles estão mudando as regras do jogo político. Hilse argumenta que seu único desejo é representar perspectivas alternativas e "deixar as próprias pessoas formarem uma opinião."
Baerbock, no entanto, vê isso como algo ameaçador: uma destruição dos fundamentos democráticos da ecologia moderna e que isso seria uma dupla vitória para os populistas de direita: "Entre os liberais e partes dos conservadores, diz-se agora subitamente: 'em consideração à AfD, não devemos falar muito sobre a política climática'", afirmou Baerbock à DW." Isso é absolutamente errado. Assim se faz o jogo dos populistas de direita."
E assim o populismo da AfD contribui para o fato de que a política climática alemã, que já perdeu muito em entusiasmo, se enfraqueça ainda mais.
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