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As turbulências que esperam o governo Merkel em 2019

Kay-Alexander Scholz (ip)

28/12/2018 20h23

Os alemães gostam de estabilidade, assim como Angela Merkel. Mas a política alemã promete novas turbulências para a atual coalizão de governo no próximo ano - e talvez até mesmo eleições antecipadas.Derrubar uma chanceler federal não é tarefa fácil na Alemanha. De todas as formas, o Parlamento não pode declarar, assim, sem mais nem menos: "Angela Merkel não tem mais a nossa confiança".

Situações semelhantes aconteceram em demasia na República de Weimar, algo que teve um efeito desestabilizador e favoreceu a ascensão dos nazistas, culminando na tomada de poder por Adolf Hitler, em 1933. Os legisladores que escreveram a Lei Fundamental, atual Constituição alemã, aprenderam com essas experiências históricas e, em 1949, determinaram: uma moção de desconfiança deve ser "construtiva", ou seja, a maioria do Bundestag só pode derrubar um chanceler se puder também eleger um sucessor. Mas, no caso de Merkel, este não está à vista.

Merkel continuará sendo, portanto, a número 1 da política alemã em 2019 – mesmo que ela não seja mais a presidente da CDU (União Democrata Cristã), mas "apenas" a chanceler federal da coalizão entre CDU e CSU (União Social Cristã) e o SPD (Partido Social-Democrata). "Merkel ainda tem as rédeas na mão", diz o cientista político Thorsten Faas. "Não será possível tirá-la do cargo contra a sua vontade."

Merkel responde à questão de quanto tempo gostaria de permanecer no cargo de chanceler federal com uma referência ao final previsto da atual legislatura, ou seja, 2021. Mas ela também está preparada para viradas repentinas, como mostrou com sua surpreendente renúncia à liderança do partido. Ela pode anunciar sua renunciar da noite para o dia, assim como fez Willy Brandt, um de seus antecessores, no ano de 1974.

Tais casos não levam necessariamente a novas eleições, segundo a Lei Fundamental. Um chanceler de transição poderia administrar o governo até que o Bundestag elegesse um novo nome para o cargo.

Porém, esse não seria um fim elegante para o governo Merkel. Muito mais elegante seria pedir ao Parlamento o chamado voto de confiança. Isso foi o que fizeram outros chanceleres antes de Merkel. Também nesse caso vale o princípio da estabilidade consagrado na Constituição: não haveria novas eleições se fosse eleito um novo chanceler. Uma opção é Annegret Kramp-Karrenbauer, a sucessora favorita da própria Merkel.



Mas isso são conjecturas. "Todos os partidos da coalizão de governo estão inseguros, com suas popularidades em baixa", avalia Faas. "Uma situação como essa não pode durar para sempre." O SPD é o que mais sofre com a perda de eleitores. O resultado das eleições europeias de maio de 2019 ou a avaliação interna da participação no governo Merkel, prevista para o fim de 2019, podem levar os social-democratas a sair da chamada grande coalizão para reduzir a pressão nesse sentido feita pela esquerda do partido.

Nesse cenário, Merkel poderia continuar com um governo minoritário, algo possível, mas incomum na Alemanha, sendo tolerada pelo Partido Verde e pelo FDP (Partido Liberal Democrático). Mais do que esse apoio informal – pelo menos sob o governo de Merkel – não se pode esperar do FDP. Em 2020, Kramp-Karrenbauer poderia assumir e tentar forjar uma verdadeira coalizão com novos parceiros.

Todos os partidos da coalizão querem evitar novas eleições já em 2019 – por várias razões. A principal, porém, é perder espaço no Parlamento. E nem o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, parece ser a favor de novas eleições. De acordo com a Lei Fundamental, ele é que deveria convocá-las.

Merkel se apoia na sua popularidade: a maioria dos alemães quer que ela continue no cargo de chanceler, mostraram pesquisas. A popularidade dela está de novo em alta. Mas seus maiores adversários políticos – os populistas de direita – ainda podem causar transtornos em 2019.



Por exemplo nas eleições europeias. "Esse tipo de eleição costuma favorecer os partidos de protesto", diz Faas. No Parlamento da UE, a AfD (Alternativa para a Alemanha) quer formar um agrupamento com populistas da Itália e da Áustria. A expectativa é de que a eleição tragá mais mandatos, dinheiro e influência aos extremistas de direita.

Além disso, a CDU terá que enfrentar três eleições estaduais no leste da Alemanha, todas previstas para a segunda metade de 2019. Na Turíngia, na Saxônia e em Brandemburgo, a AfD pode até se tornar a maior força parlamentar. Haverá ainda eleições municipais em 9 dos 16 estados alemães, o que também poderá trazer ganhos de mandatos à AfD. Para Faas, as várias eleições do ano que vem serão decisivas para a continuidade do governo Merkel.

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