Opinião: Von der Leyen, boa escolha em tempos difíceis
Até o último minuto, não estava claro se a política alemã seria eleita presidente da Comissão Europeia. Seu ótimo discurso de candidatura e a falta de alternativas foram decisivos, opina a editora-chefe da DW, Ines Pohl.Mesmo em tempos de internet, há momentos em que o fator decisivo é a palavra dita. Isso foi demonstrado por Ursula von der Leyen nesta terça-feira (16/07) no Parlamento Europeu em Estrasburgo. Mesmo que em parlamentos, cujo nome deriva de parler, ou seja, falar, essa deva ser a principal arte, na maioria das vezes são tomadas decisões antes que seja trocado o primeiro argumento.
Desta vez foi diferente: foi um dia em que tudo era possível para a candidata alemã. Ela tinha que se impor diante do grande e, por vezes, confuso palco do Parlamento Europeu. Ela tinha que ganhar o apoio dos céticos, encorajar seus seguidores, esvaziar os argumentos de seus oponentes com as propostas certas. E ela tinha que considerar o atual momento europeu.
Ursula von der Leyen fez tudo isso – embora no final tenha sido eleita por uma maioria estreita de apenas nove votos. A feminista convicta apresentou-se mais social e verde do que muitos de seus correligionários conservadores teriam preferido – e também jogou de forma consciente e autoconfiante com a carta feminina.
Talvez sua melhor ideia tenha sido discursar em três idiomas. Francês, pelo sentimento de uma União Europeia (UE) com renovado vigor e participação cidadã. Inglês, pela dureza dos fatos e demandas – por impostos mais altos para os novos gigantes da economia mundial e por uma verdadeira igualdade de gênero. Ela escolheu então o alemão para o final emotivo, no qual a política nascida em Bruxelas vendeu sua biografia como se tivesse sido moldada para uma carreira europeia.
Não é segredo que, para esse posto, Von der Leyen era apenas uma escolha secundária. Ela sabia que tinha de enfrentar essa desvantagem com habilidade, uma perspectiva cosmopolita e uma encenação perfeita. Ela poderia ter perdido tudo. Mas ela surpreendeu, transformando em vantagem a desvantagem.
Ela enfrentou eurocéticos e adversários, contra-atacando casualmente suas provocações. Ela teve que seguir essa direção de forma clara e consistente, fechando o flanco direito. Tudo isso ainda não garante uma presidência bem-sucedida da Comissão Europeia, mas é um bom começo e um bom dia para o Parlamento Europeu, que realizou uma verdadeira eleição.
Os maiores perdedores desse dia eleitoral foram os eurodeputados alemães social-democratas. Proclamando o respeito aos princípios, até o final, eles se ativeram ao acordo que somente um Spitzenkandidat (candidato líder) poderia se tornar chefe da Comissão da UE. O fato de que nenhum desses candidatos obteve maioria não teve importância. Nem mesmo o fato de que a UE poderia ter entrado numa crise séria se Von der Leyen não tivesse prevalecido.
O Parlamento falou. E decidiu por maioria que, no final, política é a arte do possível.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | App | Instagram | Newsletter
Autor: Ines Pohl
Desta vez foi diferente: foi um dia em que tudo era possível para a candidata alemã. Ela tinha que se impor diante do grande e, por vezes, confuso palco do Parlamento Europeu. Ela tinha que ganhar o apoio dos céticos, encorajar seus seguidores, esvaziar os argumentos de seus oponentes com as propostas certas. E ela tinha que considerar o atual momento europeu.
Ursula von der Leyen fez tudo isso – embora no final tenha sido eleita por uma maioria estreita de apenas nove votos. A feminista convicta apresentou-se mais social e verde do que muitos de seus correligionários conservadores teriam preferido – e também jogou de forma consciente e autoconfiante com a carta feminina.
Talvez sua melhor ideia tenha sido discursar em três idiomas. Francês, pelo sentimento de uma União Europeia (UE) com renovado vigor e participação cidadã. Inglês, pela dureza dos fatos e demandas – por impostos mais altos para os novos gigantes da economia mundial e por uma verdadeira igualdade de gênero. Ela escolheu então o alemão para o final emotivo, no qual a política nascida em Bruxelas vendeu sua biografia como se tivesse sido moldada para uma carreira europeia.
Não é segredo que, para esse posto, Von der Leyen era apenas uma escolha secundária. Ela sabia que tinha de enfrentar essa desvantagem com habilidade, uma perspectiva cosmopolita e uma encenação perfeita. Ela poderia ter perdido tudo. Mas ela surpreendeu, transformando em vantagem a desvantagem.
Ela enfrentou eurocéticos e adversários, contra-atacando casualmente suas provocações. Ela teve que seguir essa direção de forma clara e consistente, fechando o flanco direito. Tudo isso ainda não garante uma presidência bem-sucedida da Comissão Europeia, mas é um bom começo e um bom dia para o Parlamento Europeu, que realizou uma verdadeira eleição.
Os maiores perdedores desse dia eleitoral foram os eurodeputados alemães social-democratas. Proclamando o respeito aos princípios, até o final, eles se ativeram ao acordo que somente um Spitzenkandidat (candidato líder) poderia se tornar chefe da Comissão da UE. O fato de que nenhum desses candidatos obteve maioria não teve importância. Nem mesmo o fato de que a UE poderia ter entrado numa crise séria se Von der Leyen não tivesse prevalecido.
O Parlamento falou. E decidiu por maioria que, no final, política é a arte do possível.
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