União Europeia diz manter apoio a acordo com Mercosul
Diretora-geral de Comércio da Comissão Europeia diz ser importante manter o pacto com o bloco sul-americano. Mas ela reconhece que comportamento do governo brasileiro pode minar chance de ratificação pelos europeus.Nomeada em junho diretora-geral de Comércio da Comissão Europeia, a diplomata Sabine Weyand tem certeza de que, ao final, a União Europeia (UE) manterá o acordo com o Mercosul. Isso, apesar dos ataques verbais do presidente Jair Bolsonaro à ajuda oferecida por países europeus para combater o desmatamento e queimadas na Amazônia. E também apesar das ameaças de sanções de políticos europeus, caso o líder brasileiro não aja para preservar o meio ambiente.
Apesar da crise atual, Weyland considera o pacto UE-Mercosul imensamente importante do ponto de vista político. "Atualmente vivemos em um mundo em que a ordem internacional está por um fio", diz a alemã, que por muito tempo ocupou o cargo de vice-negociadora chefe do Brexit e que, em seu novo cargo, se debruça sobre o acordo do Mercosul.
Weyand acredita que o pacto de livre-comércio traga de volta um pouco de confiabilidade na ordem internacional. "Nosso objetivo é uma configuração justa da globalização", destaca.
No entanto, ela não acha errado associar as críticas a Bolsonaro ao acordo. "É justificado ressaltar que as chances de ratificação desse acordo pelo Estados da UE e pela própria UE serão influenciadas pelo que está acontecendo na Amazônia", ressalta Weyand, em entrevista à DW.
A grosso modo, isso pode significar que, se Bolsonaro continuar fazendo o que faz, as dúvidas quanto ao acordo crescerão na UE. Weyand faz questão de lembrar que o tratado só poderá ser ratificado pelo bloco e pelos países europeus no segundo semestre do ano que vem. E isso é tempo suficiente para fazer aumentar a pressão sobre o Brasil.
Weyand também diz já ter reconhecido sinais de que o presidente está enfrentando resistência em seu próprio país e que os alertas da Europa foram ouvidos.
O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o governo "está aberto a receber dos órgãos internacionais, dos países, verbas, desde que a governança seja nossa".
Sinais desencontrados da Alemanha
Enquanto isso, foram enviados pelo governo alemão sinais contraditórios sobre o acordo com o Mercosul e sobre como lidar com Bolsonaro. A ministra alemã da Agricultura, Julia Klöckner, por exemplo, ameaçou abertamente o Brasil com consequências.
"O Brasil se comprometeu com o manejo florestal sustentável quando fechou o acordo com o Mercosul. Se o país não cumprir essa obrigação, não assistiremos a isso passivamente", disse ela ao jornal Die Welt.
Já o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, tem opinião diferente. Ele sublinhou que o tratado foi concluído não apenas com o Brasil. "Ele é do interesse da União Europeia, mas também dos outros países que estão envolvidos – por exemplo, o Uruguai."
Mas, em geral, existem reservas sobre o acordo. Críticos ressaltam há muito tempo que ele pode levar mais soja e carne bovina da América Latina à Europa e que essa é uma razão pela qual os incêndios atuais podem ter sido causados deliberadamente: para abrir espaço para novas plantações de soja e pasto para gado.
O porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, refutou tais críticas ao acordo. Ele frisou que o documento contém um capítulo muito ambicioso sobre sustentabilidade, com o qual o Brasil também está comprometido.
"Ambos os lados concordaram que o Acordo de Paris sobre o clima deve ser implementado de maneira eficaz, e o governo alemão tem sido muito ativo nesse sentido", disse Seibert.
Essa é uma circunstância também lembrada por Weyand. Ela recorda que alguns meses atrás havia o risco de Bolsonaro retirar o Brasil do Acordo de Paris de 2015 e que agora o país se comprometeu mais uma vez com as metas do pacto, através do acordo UE-Mercosul. A diplomata pondera também que os políticos europeus que agora pedem que o Brasil faça mais pela proteção do clima devem se lembrar de que a Alemanha também tem problemas para alcançar suas próprias metas climáticas.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | App | Instagram | Newsletter
Autor: Jens Thurau (md)
Apesar da crise atual, Weyland considera o pacto UE-Mercosul imensamente importante do ponto de vista político. "Atualmente vivemos em um mundo em que a ordem internacional está por um fio", diz a alemã, que por muito tempo ocupou o cargo de vice-negociadora chefe do Brexit e que, em seu novo cargo, se debruça sobre o acordo do Mercosul.
Weyand acredita que o pacto de livre-comércio traga de volta um pouco de confiabilidade na ordem internacional. "Nosso objetivo é uma configuração justa da globalização", destaca.
No entanto, ela não acha errado associar as críticas a Bolsonaro ao acordo. "É justificado ressaltar que as chances de ratificação desse acordo pelo Estados da UE e pela própria UE serão influenciadas pelo que está acontecendo na Amazônia", ressalta Weyand, em entrevista à DW.
A grosso modo, isso pode significar que, se Bolsonaro continuar fazendo o que faz, as dúvidas quanto ao acordo crescerão na UE. Weyand faz questão de lembrar que o tratado só poderá ser ratificado pelo bloco e pelos países europeus no segundo semestre do ano que vem. E isso é tempo suficiente para fazer aumentar a pressão sobre o Brasil.
Weyand também diz já ter reconhecido sinais de que o presidente está enfrentando resistência em seu próprio país e que os alertas da Europa foram ouvidos.
O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o governo "está aberto a receber dos órgãos internacionais, dos países, verbas, desde que a governança seja nossa".
Sinais desencontrados da Alemanha
Enquanto isso, foram enviados pelo governo alemão sinais contraditórios sobre o acordo com o Mercosul e sobre como lidar com Bolsonaro. A ministra alemã da Agricultura, Julia Klöckner, por exemplo, ameaçou abertamente o Brasil com consequências.
"O Brasil se comprometeu com o manejo florestal sustentável quando fechou o acordo com o Mercosul. Se o país não cumprir essa obrigação, não assistiremos a isso passivamente", disse ela ao jornal Die Welt.
Já o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, tem opinião diferente. Ele sublinhou que o tratado foi concluído não apenas com o Brasil. "Ele é do interesse da União Europeia, mas também dos outros países que estão envolvidos – por exemplo, o Uruguai."
Mas, em geral, existem reservas sobre o acordo. Críticos ressaltam há muito tempo que ele pode levar mais soja e carne bovina da América Latina à Europa e que essa é uma razão pela qual os incêndios atuais podem ter sido causados deliberadamente: para abrir espaço para novas plantações de soja e pasto para gado.
O porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, refutou tais críticas ao acordo. Ele frisou que o documento contém um capítulo muito ambicioso sobre sustentabilidade, com o qual o Brasil também está comprometido.
"Ambos os lados concordaram que o Acordo de Paris sobre o clima deve ser implementado de maneira eficaz, e o governo alemão tem sido muito ativo nesse sentido", disse Seibert.
Essa é uma circunstância também lembrada por Weyand. Ela recorda que alguns meses atrás havia o risco de Bolsonaro retirar o Brasil do Acordo de Paris de 2015 e que agora o país se comprometeu mais uma vez com as metas do pacto, através do acordo UE-Mercosul. A diplomata pondera também que os políticos europeus que agora pedem que o Brasil faça mais pela proteção do clima devem se lembrar de que a Alemanha também tem problemas para alcançar suas próprias metas climáticas.
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