"Minha luta é pela proteção do Brasil", diz cacique Raoni
Em entrevista à DW, líder caiapó rebate Bolsonaro, afirma que nunca vai aceitar a destruição de suas terras e pede que governo deixe os indígenas em paz: "Somos os verdadeiros brasileiros".Com fala incisiva e gestos imperativos, o cacique Raoni Metuktire, do povo caiapó, liderança indígena de destaque internacional, repete a mensagem que tem espalhado pelo mundo há mais de cinco décadas: "Minha luta é a proteção da floresta para que, assim, todos vocês possam viver em paz. Minha luta é pela proteção da Amazônia, pela proteção do Brasil."
Desde os anos 1960, Raoni se encontra com líderes globais em defesa da Amazônia e dos povos indígenas. Durante a Constituinte, pressionou os congressistas a aprovarem uma Constituição favorável às demandas dos povos indígenas. Neste ano, o cacique indicado ao prêmio Nobel da Paz esteve em vários países europeus para alertar sobre retrocessos nas políticas ambientais e indigenistas no Brasil.
Raoni, de 87 anos, falou à DW a partir de Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, a cidade mais próxima de sua aldeia dias antes de participar, na quinta-feira (17/10), de um ato nacional em defesa do meio ambiente e dos povos da Amazônia, em Marabá, no Pará.
O cacique rebateu as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que é uma "peça de manobra" de governos estrangeiros. "Quem quer o controle de tudo é você [Bolsonaro] , o que eu quero é proteger os territórios indígenas", afirmou. "Nós somos os verdadeiros brasileiros. Você quer nos desunir."
DW: No Fórum de Investimentos Brasil 2019, o presidente Jair Bolsonaro disse que acabou o que chama de "monopólio do Raoni na Amazônia". Segundo o presidente, a visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Como o senhor avalia essas afirmações?
Raoni Metyktire: Nós somos os verdadeiros brasileiros. Você [Bolsonaro] quer nos desunir, quer enfraquecer a Funai para não demarcar mais nossos territórios. Vocês [governo] têm que proteger nossos territórios para que nós possamos viver em paz com a nossa cultura e tradição. É para isso que eu estou lutando. Enquanto eu estiver aqui eu vou continuar lutando em defesa do meu povo. O que você chama de monopólio, eu chamo de luta pela defesa dos povos indígenas. Quem quer o controle de tudo é você, o que eu quero é proteger os territórios indígenas.
No discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o senhor é usado como peça de manobra por governos estrangeiros que têm interesse na Amazônia. Qual é a importância da sua atuação internacional para a proteção da floresta amazônica?
Já faz um bom tempo que eu venho falando para os líderes brasileiros: Vamos nos respeitar, nos amar para que todos vivam em paz. Quando viajo para outros países, eu levo a minha mensagem que é para todos os povos se respeitarem. Eu não sou peça de manobra, como alguns dizem. Minha luta sempre foi e sempre será em defesa do meu povo, em defesa da floresta. Eu tenho uma grande preocupação com as gerações futuras, como será o futuro de nossas crianças se não protegermos as florestas, os rios e os animais.
O que senhor tem a dizer sobre as intenções do governo de regulamentar garimpos em áreas de reserva e de não avançar com a demarcação de terras indígenas?
O que esse atual governo vem falando sobre a mineração em terras indígenas me preocupa muito. Eu não aceito a destruição das terras indígenas. Eu não aceito garimpeiro, madeireiro no meu território. Nos deixem em paz, nos deixem viver em paz em nossos territórios. Não destruam o futuro de nossas crianças com suas ganâncias. Se o invasor entrar em nossas terras, destruirá tudo. E o que será do nosso futuro? Essa é a minha preocupação.
Como o senhor vê o futuro da Amazônia e das populações indígenas no Brasil?
Eu gostaria de falar algo para todos vocês: Minha luta é pelo futuro e pelo presente de todos vocês. Minha luta é a proteção da floresta para que, assim, todos vocês possam viver em paz. Minha luta é pela proteção da Amazônia, pela proteção do Brasil. Se as florestas forem destruídas, o que será de todos nós? Se tudo for desmatado, não existirá mais nada. Esse é meu recado para vocês.
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Autor: Karina Gomes
Desde os anos 1960, Raoni se encontra com líderes globais em defesa da Amazônia e dos povos indígenas. Durante a Constituinte, pressionou os congressistas a aprovarem uma Constituição favorável às demandas dos povos indígenas. Neste ano, o cacique indicado ao prêmio Nobel da Paz esteve em vários países europeus para alertar sobre retrocessos nas políticas ambientais e indigenistas no Brasil.
Raoni, de 87 anos, falou à DW a partir de Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, a cidade mais próxima de sua aldeia dias antes de participar, na quinta-feira (17/10), de um ato nacional em defesa do meio ambiente e dos povos da Amazônia, em Marabá, no Pará.
O cacique rebateu as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que é uma "peça de manobra" de governos estrangeiros. "Quem quer o controle de tudo é você [Bolsonaro] , o que eu quero é proteger os territórios indígenas", afirmou. "Nós somos os verdadeiros brasileiros. Você quer nos desunir."
DW: No Fórum de Investimentos Brasil 2019, o presidente Jair Bolsonaro disse que acabou o que chama de "monopólio do Raoni na Amazônia". Segundo o presidente, a visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Como o senhor avalia essas afirmações?
Raoni Metyktire: Nós somos os verdadeiros brasileiros. Você [Bolsonaro] quer nos desunir, quer enfraquecer a Funai para não demarcar mais nossos territórios. Vocês [governo] têm que proteger nossos territórios para que nós possamos viver em paz com a nossa cultura e tradição. É para isso que eu estou lutando. Enquanto eu estiver aqui eu vou continuar lutando em defesa do meu povo. O que você chama de monopólio, eu chamo de luta pela defesa dos povos indígenas. Quem quer o controle de tudo é você, o que eu quero é proteger os territórios indígenas.
No discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o senhor é usado como peça de manobra por governos estrangeiros que têm interesse na Amazônia. Qual é a importância da sua atuação internacional para a proteção da floresta amazônica?
Já faz um bom tempo que eu venho falando para os líderes brasileiros: Vamos nos respeitar, nos amar para que todos vivam em paz. Quando viajo para outros países, eu levo a minha mensagem que é para todos os povos se respeitarem. Eu não sou peça de manobra, como alguns dizem. Minha luta sempre foi e sempre será em defesa do meu povo, em defesa da floresta. Eu tenho uma grande preocupação com as gerações futuras, como será o futuro de nossas crianças se não protegermos as florestas, os rios e os animais.
O que senhor tem a dizer sobre as intenções do governo de regulamentar garimpos em áreas de reserva e de não avançar com a demarcação de terras indígenas?
O que esse atual governo vem falando sobre a mineração em terras indígenas me preocupa muito. Eu não aceito a destruição das terras indígenas. Eu não aceito garimpeiro, madeireiro no meu território. Nos deixem em paz, nos deixem viver em paz em nossos territórios. Não destruam o futuro de nossas crianças com suas ganâncias. Se o invasor entrar em nossas terras, destruirá tudo. E o que será do nosso futuro? Essa é a minha preocupação.
Como o senhor vê o futuro da Amazônia e das populações indígenas no Brasil?
Eu gostaria de falar algo para todos vocês: Minha luta é pelo futuro e pelo presente de todos vocês. Minha luta é a proteção da floresta para que, assim, todos vocês possam viver em paz. Minha luta é pela proteção da Amazônia, pela proteção do Brasil. Se as florestas forem destruídas, o que será de todos nós? Se tudo for desmatado, não existirá mais nada. Esse é meu recado para vocês.
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