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'Controle total': o que diz o 1º plano de Netanyahu para a Faixa de Gaza

O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, durante entrevista coletiva em Tel Aviv Imagem: Abir Sultan - 28.out.23/Pool via Reuters

Silja Thoms;

28/02/2024 04h00Atualizada em 28/02/2024 06h32

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentou na quinta-feira passada (22) ao gabinete de segurança do governo um plano para o futuro da Faixa de Gaza após o fim da guerra contra a organização terrorista Hamas. É a primeira vez que Netanyahu apresenta um plano para o pós-guerra.

O plano prevê "uma desmilitarização completa" do enclave palestino para manter a ordem pública e que as Forças Armadas de Israel exerçam o "controle de segurança sobre toda a zona a oeste da Jordânia, incluindo a Faixa de Gaza".

A guerra de Israel contra o Hamas começou depois do ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que, segundo números de Israel, deixou cerca de 1.160 mortos, a maioria civis, e fez cerca de 250 reféns, levados pelos terroristas para a Faixa de Gaza. Também segundo Israel, 130 reféns não foram libertados, dos quais cerca de 30 estariam mortos.

Administração da Faixa de Gaza

O plano de Israel para a Faixa de Gaza contém formulações vagas sobre a administração do território. Por exemplo, ao afirmar que a Faixa de Gaza deve ser administrada por "funcionários locais com experiência administrativa". Esses funcionários não devem ter vínculos com países ou organizações que apoiam o terrorismo nem receber pagamento destes, indica o documento.

Não está claro quem seriam essas pessoas. A Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, não é explicitamente mencionada no documento, mas sua participação numa futura administração da Faixa de Gaza também não é explicitamente descartada.

O plano ainda menciona um "programa abrangente de desradicalização" de instituições religiosas e educacionais no enclave, com a ajuda de países árabes.

Controle da segurança por Israel

O plano prevê que os militares israelenses assumam o controle total sobre a segurança da Faixa de Gaza. Isso implica na destruição de todas as estruturas militares do Hamas e da Jihad islâmica. Segundo o documento, as Forças Armadas de Israel manterão "a sua liberdade de ação operacional em toda a Faixa de Gaza, sem limite de tempo".

Segundo os jornais israelenses Times of Israel e Haaretz, seria aberta uma nova estrada, que dividiria a Faixa de Gaza em duas partes, norte e sul, para melhorar o controle da segurança por parte de Israel. Analistas disseram temer que Israel use essa estrada para impedir o regresso ao norte de palestinos que fugiram para o sul ao longo da guerra.

O Haaretz acrescenta que o plano prevê ainda a criação de uma zona tampão entre a Faixa de Gaza e Israel. Ela seria controlada por Israel e não seria habitada. Se criada, diminuiria o território habitável da Faixa de Gaza.

Além disso, Israel quer realizar operações na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza e impor um fechamento daquela fronteira para "prevenir o contrabando do Egito, tanto subterrâneo como aéreo, incluindo na passagem de Rafah".

Fim da UNRWA

Outro objetivo de Netanyahu para o período pós-guerra é o fechamento da agência da ONU para assistência aos refugiados palestinos, a UNRWA. O premiê acusa a agência de ser infiltrada pelo Hamas.

Segundo essa acusação, vários funcionários da agência participaram do ataque terrorista a Israel. A ONU afastou os acusados e abriu uma sindicância interna. Em reação à acusação de Israel, diversos países doadores cancelaram seus pagamentos à agência, entre eles os Estados Unidos e a Alemanha.

Descarte de exigências da extrema direita

Netanyahu, porém, não incluiu no plano algumas reivindicações de ministros da extrema direita de seu governo. Eles defendiam, por exemplo, o retorno dos assentamentos de colonos judeus na Faixa de Gaza.

Além disso, os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, também haviam defendido que a população palestina saísse da Faixa de Gaza e fosse assentada em outro lugar.

Netanyahu já havia descartado, em janeiro deste ano, a ideia de recriar assentamentos judeus na Faixa de Gaza. A ideia também foi criticada pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que argumentou que a expansão dos assentamentos judeus nos territórios palestinos dificulta a paz.

Sem solução de dois Estados

A solução de dois Estados, amplamente defendida pela comunidade internacional, inclusive os Estados Unidos e a Alemanha, foi descartada por Netanyahu em seu plano.

Com isso, o premiê bate de frente com seus principais aliados. Os EUA defendem que a Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, seja "revitalizada" e assuma o controle também na Faixa de Gaza.

Um porta-voz da Autoridade Palestina também rejeitou o plano de Netanyahu e afirmou que a Faixa de Gaza deve ser parte de um Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital.

Se o mundo quer segurança e estabilidade na região, deve "acabar com a ocupação israelense dos territórios palestinos e reconhecer um Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital", afirmou a Autoridade Palestina.

O que dizem os EUA?

Blinken reafirmou "a posição de longa data das administrações americanas, tanto republicanas como democratas", de que "novos assentamentos são contraproducentes para alcançar uma paz duradoura" e também "incompatíveis com o Direito internacional".

"A nossa administração mantém uma firme oposição à expansão dos assentamentos e, na nossa opinião, isso só enfraquece, não fortalece, a segurança de Israel."

"Não deve haver reocupação israelense de Gaza, e o território de Gaza não deve ser reduzido", acrescentou Blinken.

Mas "há princípios básicos que estabelecemos há meses e que consideramos muito importantes" para o futuro de Gaza, reiterou o secretário de Estado, afirmando que o enclave "não deve ser uma plataforma para o terrorismo".

Blinken também disse que vários países da região estão trabalhando num plano pós-guerra para Gaza e que manteve conversas com parceiros árabes às margens da reunião do G20 no Rio de Janeiro e da Conferência de Segurança de Munique.

A Casa Branca já declarou que o presidente Joe Biden defende a coexistência, no futuro, do Estado de Israel com um Estado palestino.

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